"Infelizmente, o Paraguai será novamente o maior centro de inteligência dos interesses do império norte-americano na América do Sul. O que se busca com isso é interferir nos assuntos internos deste país e em toda a América Latina", afirmou o legislador de esquerda.
Na semana passada, a procuradora-geral do Paraguai, Sandra Quiñonez, anunciou que uma mesa de trabalho será montada com o FBI, o Departamento de Estado dos EUA e a Secretaria Nacional de Inteligência do país sul-americano.
Este anúncio foi feito depois que o presidente paraguaio Mario Abdo Benítez visitou o presidente dos EUA, Donald Trump. Em 13 de dezembro, Trump anunciou que os EUA conduzirão o programa de treinamento das Forças Especiais no país sul-americano.
Ao retornar dos Estados Unidos, Abdo Benítez defendeu a presença do FBI no Paraguai. O presidente disse que é uma cooperação e que não é a primeira vez que esse auxílio é usado, informou o portal de notícias Hoy.
Abdo Benítez lembrou que a Secretaria Nacional de Inteligência foi criada sob seu governo e que os agentes do FBI buscam fortalecer os vínculos com treinamento e apoio estratégico.
Defesa dos interesses dos EUA
Essas declarações geraram preocupação da Frente Guasú, que afirmou na quarta-feira que há "uma grave deterioração institucional do Paraguai no campo da justiça" com a presença do FBI no país. Para Canese, o que os EUA buscam é fortalecer as instalações de inteligência que o país americano já possui desde os anos 1950 no Paraguai.
"As instalações dos EUA em 1950 eram do nível mais alto da época. Tínhamos um centro de informações subterrâneas e a embaixada dos EUA alcançava mais de 20 hectares. O golpe de Alfredo Stroessner (1954-1989) veio para isso", acrescentou.
O deputado do Parlasul lembrou que o pai de Abdo Benítez era secretário particular de Stroessner por 25 anos e observou que o centro de inteligência criado na ditadura quer aumentar com a chegada do FBI ao país.
Canese foi adiante e destacou que, segundo ele, muitas vezes os golpes por trás do quais os Estados Unidos estão, como o da Bolívia ou o realizado contra Fernando Lugo (2008-2012) no Paraguai, é criado pela inteligência e pela mídia, e não por tanques.
"O fato sério do governo de Abdo Benítez é renunciar à defesa dos interesses nacionais [...] ele deveria pedir que seu título fosse mudado, para não ser chamado de presidente do Paraguai, mas 'representante do império dos EUA'. Acredito que seria um ato de sinceridade da parte dele", destacou.
Por outro lado, ele afirmou que os EUA escolheram o Paraguai como líder, porque a esquerda naquele país não tem a força que possui em outras partes da América Latina, e é por isso que Washington o considera um Estado "mais gerenciável".
"Há pessoas que dizem que vão ajudar a combater o crime e a corrupção. Os países têm interesses, não têm princípios ou amigos permanentes. O FBI vai defender os interesses dos Estados Unidos e pressionar a ação do aparato repressivo paraguaio de seus desejos de ter um controle próximo da situação", refletiu.
Na quarta-feira, o embaixador dos EUA no Paraguai, Lee McCleeny, negou que o FBI tenha um escritório no Paraguai e esteja interferindo nos assuntos internos do país.
"Estamos sempre cooperando com as autoridades paraguaias. Compartilhando evidências de casos paraguaios e vice-versa para casos dos EUA, e eles estão muito orgulhosos de algumas conquistas que tiveram com o FBI e outras entidades", afirmou.
O governo Trump considera Abdo Benítez um dos seus aliados na região, especialmente por sua posição contra o governo do líder venezuelano Nicolás Maduro e por designar o Hezbollah, a Al-Qaeda (proibido na Rússia e outros países), o Daesh (proibido na Rússia e outros países) e o Hamas como organizações terroristas.