Neste domingo (19), líderes de 11 países e figuras-chave da política interna líbia se reúnem na capital alemã para discutir a situação do país. Entre eles estarão o presidente russo Vladimir Putin, a chanceler alemã Angela Merkel e o secretário de Estado dos EUA Mike Pompeo.
O presidente do Governo do Acordo Nacional (GNA, na sigla em inglês), Fayez Sarraj, e o comandante do Exército Nacional Líbio (LNA, na sigla em inglês), marechal Khalifa Haftar, devem se reunir novamente, após o encontro celebrado no dia 13 deste mês em Moscou.
Apesar de o GNA ser o governo líbio reconhecido internacionalmente desde 2015, as forças do marechal Haftar controlam parte significativa do território líbio.
O exército de Haftar emergiu na parte leste do país, leal ao Parlamento de Tobruk, que contesta o poder do GNA. Em 2016, Haftar lançou uma campanha para retomar o controle do interior do país. Com a tarefa praticamente concluída, Haftar mira seu objetivo final: a tomada da capital do GNA, Trípoli.
Em 2020, o conflito entre o GNA e as forças de Haftar atingiu seu ponto máximo, com os líderes internacionais passando a apoiar lados diferentes do conflito.
País particularmente envolvido no conflito é a Turquia, que se disponibilizou a enviar tropas para proteger o GNA. A Grécia, que possui disputas territoriais tanto com a Turquia, quanto com a Líbia, ameaça enviar apoio às forças de Haftar.
Não está claro qual será a posição do Egito e dos países do golfo Pérsico, que apoiam Haftar há anos, em caso de eclosão de um conflito de larga escala envolvendo forças de países terceiros.
Moscou dá o primeiro passo
O primeiro esforço para iniciar um diálogo de paz foi feito em conferência entre as partes em Moscou, no passado dia 13, promovida pela Rússia e Turquia, que têm posições bastante distintas no conflito líbio.
Na conferência de Moscou, o ministro das Relações Exteriores da Rússia (agora interino), Sergei Lavrov, e seu homólogo da Turquia, Mevlut Cavusoglu, mediaram o diálogo político entre Sarraj e Haftar, enquanto o ministro da Defesa da Rússia (agora interino), Sergei Shoigu e seu homólogo Hulusi Akar, mediaram o diálogo militar.
A reunião não logrou acordar um cessar-fogo, mas realizou avanços significativos. Uma semana antes, Haftar havia rejeitado categoricamente a proposta de trégua feita por Putin e Erdogan por telefone, preferindo, ao invés disso, declarar uma jihad contra as forças turcas. A Itália havia tentado mediar o conflito entre as partes, mas Sarraj recusou o convite para ir a Roma.
Lavrov expressou um otimismo cauteloso em relação à conferência de Berlim, dizendo esperar que "tudo corra conforme o planejado". Na sexta-feira (19), ele contou que Sarraj e Haftar "se recusam até a ficar na mesma sala" e demonstrou esperança de que os líderes "não repitam os mesmos erros e tentem impor novas condições", nem fiquem "colocando a culpa um no outro".
Mas a paz na Líbia não depende só de Moscou e Ancara. Outros países têm interesse e influência na Líbia. A conferência de Berlim será marcada pela presença do secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, que estava relativamente afastado do processo de paz.
Washington retomou seu interesse pelos assuntos líbios somente depois que a tomada de Trípoli por Haftar parecia iminente. Donald Trump teria telefonado para o marechal – que é cidadão líbio e norte-americano – para expressar apoio à sua campanha e teria enviado diplomatas para negociar. Não está claro quais foram as iniciativas dos diplomatas norte-americanos, mas elas aparentemente não surtiram resultado.
Após a tentativa frustrada norte-americana, a Rússia é provavelmente o único país capaz de mediar o conflito, acredita o professor da Escola Superior de Economia de Moscou, Grigory Lukyanov.
A participação de Putin na conferência é um indicativo claro de que Moscou quer pôr fim à instabilidade líbia e obter uma paz duradoura, inclusive trabalhando com a Turquia, um dos principais protagonistas, disse Lukyanov à RT.
Conflito na Líbia
O líder do Governo do Acordo Nacional (GNA), Fayez Sarraj, e o líder do Exército Nacional Líbio (LNA), marechal Khalifa Haftar, emergiram em uma Líbia devastada pela operação de 2011 da OTAN, que ajudou militantes islamistas da cidade de Benghazi a derrubar o governo de Muammar Kadhafi. Após a queda do ditador, as milícias passaram a disputar o poder entre si.
As consequências negativas do colapso do Estado líbio são diversas. A situação caótica permitiu a criação de uma rota de imigração descontrolada para a Europa, além da emergência de um mercado de escravos no país norte-africano.
Os EUA também arcam com as consequências da anarquia líbia: em 2012, militantes atacaram o consulado do país em Benghazi e mataram quatro norte-americanos, inclusive o chefe do posto, embaixador Christopher Stevens.