Nesta quarta-feira, a Rádio França Internacional (RFI) publicou uma matéria tratando do avanço das preparações na União Europeia para a implantação do 5G no bloco, que planeja estar totalmente integrado a essa nova tecnologia até 2025.
Na reportagem, realizada durante a Conferência 5G Fórum Europa, que acontece hoje e amanhã em Bruxelas, a agência destaca que, apesar das pressões norte-americanas, o continente optou por não proibir a Huawei de participar das disputas por esse mercado, enquanto o Brasil ainda adia o anúncio de uma resposta clara sobre esse assunto.
Mas por que tanto se fala da tecnologia 5G e que implicações ela pode trazer?https://t.co/DpDvRegAhW
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Líder dessa revolução digital, a empresa chinesa é alvo de uma intensa campanha negativa levada a cabo pelos Estados Unidos, que a acusam de planejar usar seus equipamentos para espionagem. Mas a UE afirma não ter encontrado evidências suficientes para corroborar essa teoria. E até mesmo o Reino Unido, principal aliado dos EUA, já aprovou a tecnologia da Huawei para instalação do 5G no país, escreve a RFI.
Para o professor da FGV Direito-Rio Evandro Menezes de Carvalho, coordenador do Núcleo de Estudos Brasil-China da instituição, a demora do Brasil para chegar a uma decisão sobre uma eventual parceria com os chineses nessa disputada área pode ser explicada pela direção tomada pela política externa do governo de Jair Bolsonaro.
EUA não podem decidir se 5G entra no Brasil, diz Marco Ponteshttps://t.co/cD1KkzlLNv
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Em entrevista à Sputnik Brasil, o acadêmico avalia que o perfil de alinhamento a Washington do ministério comandado pelo chanceler Ernesto Araújo "gera uma série de ponderações e preocupações por parte do governo Bolsonaro em relação às decisões a serem tomadas em relação a outros países que possam desagradar aos Estados Unidos".
"Nós sabemos que esse tipo de política externa é pouco pragmático", afirma ele, acrescentando que esse perfil revelaria uma "sujeição a uma política externa ditada por outro país". "Há um certo temor com o tipo de eventual retaliação que possa ser feita pelos EUA no caso de uma decisão que desagrade ao governo americano."
Carvalho acredita que o Brasil não tem ainda capacidade tecnológica, ou não está usando, para verificar, por conta própria, a procedência das acusações norte-americanas contra os chineses.
"A sensação que dá é a de que o governo brasileiro fica refém de uma opinião, de um lado, dos Estados Unidos, e de outra opinião, que é a opinião chinesa, que diz que não faz nada disso [utilizar o 5G para espionagem]."
Ainda de acordo com o especialista, as decisões do governo britânico em favor da Huawei, com repercussão em toda a Europa, mesmo com algumas restrições, colocam em xeque a pertinência das alegações dos EUA em relação à China.
Reino Unido aceita Huawei como fornecedora de 5G, mas dá limite de 35% para a empresa chinesa no mercadohttps://t.co/FQK4PLQG7O
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"E a opinião americana é complicada porque está, cada vez mais, misturando assuntos de comércio com segurança nacional. E, quando a gente começa a fazer isso, a gente começa a entrar em um campo onde as decisões são tomadas, no plano comercial, com pouca racionalidade, sobretudo pelos países que não detêm a capacidade para fazer, por eles próprios, a análise da segurança."