Nesta quinta-feira (27), o Brasil marcou presença na reunião do Grupo de Contato sobre Assuntos Econômicos e de Comércio (CGETI) do BRICS, em Moscou.
O Grupo discute temas da agenda comercial do bloco com o intuito de tomar medidas concretas, que mudem efetivamente a realidade econômica dos países do BRICS.
O Diretor do Departamento de Organismos Econômicos Multilaterais do Ministério das Relações Exteriores, André Odenbreit Carvalho, conversou com a Sputnik Brasil sobre o trabalho do grupo e as perspectivas para o bloco que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul em 2020.
Em 2019, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, havia antecipado que "em primeiro lugar" seria necessário "atualizar a Estratégia para a Parceria Econômica" do BRICS.
Carvalho conta que o trabalho já começou e "as primeiras propostas de linguagem já estão surgindo".
Pragmatismo é palavra de ordem
O Brasil quer uma estratégia ampla, que dê ênfase a temas como "sistema multilateral de comércio, impacto de digitalização e ganho de competitividade", disse o diplomata à Sputnik Brasil.
A Estratégia é essencial para a coordenação da posição dos países em fóruns multilaterais, como a Organização Mundial de Comércio (OMC), que vem enfrentando desafios em um mundo cada vez mais protecionista.
A palavra de ordem da participação do Brasil nos BRICS em 2020 será o pragmatismo, garante Carvalho. O Brasil quer "chegar a resultados" concretos que vão "alterar as práticas nacionais".
"A forma de sintetizar o modo como nós consideramos a agenda comercial dos BRICS é um enfoque pragmático, de garantir que ela gere soluções para os desafios que nós enfrentamos nacionalmente", disse.
O diplomata conta que o desafio de negociar em blocos heterogêneos, que unem potências regionais, como o BRICS, é "saber identificar o desafio comum" e ter "clareza de qual a situação de cada país".
"É possível notar uma tendência entre os BRICS, que é o reconhecimento das áreas nas quais existe diferença significativa. Ao invés de forçar uma convergência onde ela não tem grande potencial, [o bloco] identifica os espaços de convergência", explicou.
Micro, Pequenas e Médias Empresas
No ano passado, o presidente da Rússia também havia manifestado o interesse de ver o tema das micro, pequenas e médias empresas no topo da agenda do BRICS.
"A Rússia tem uma proposta de lançar um sistema de intercâmbio de informações entre pequenas e médias empresas do BRICS. Isso iria permitir que as empresas recebessem informações atualizadas sobre bens, serviços e fornecedores, e assim procurassem novos parceiros" dentro do bloco, disse Putin na ocasião.
Carvalho acrescentou que as micro, pequenas e médias empresas agregam "boa parte do potencial de geração de emprego e do potencial de soluções inovadoras", por isso o Brasil tem interesse em "trocar informações e avaliar o que os países [do BRICS] estão fazendo", garantindo que o tema "está na agenda" do grupo de contato.
Agenda intensa
O diplomata está otimista quanto ao trabalho do BRICS em 2020, por ter notado disposição por parte das delegações dos países membros.
Mesmo a China, que enfrenta uma crise de proporções significativas, em função do coronavírus, "fez a lição de casa e trouxe propostas elaboradas para a reunião" desta quinta-feira.
"[Os chineses] estão presencialmente com pessoas da sua Embaixada e alguns técnicos estão em Pequim, participando por vídeo conferência", contou. "A China sempre tem uma capacidade de preparação muito boa para as reuniões", acrescentou.
Realmente, será necessário bastante empenho por parte dos países dos BRICS nesse ano. Com a Reunião de Cúpula prevista para julho, as partes devem trabalhar a toque de caixa para avançar na agenda de um dos fóruns multilaterais mais influentes do mundo.
O trabalho da delegação da Rússia, que ocupa a presidência do bloco, será particularmente intenso.
"[Os russos] estão com várias propostas dentro da área comercial, precisam aprovar vários textos [...] em um período curto [...] então está meio frenético", contou.
'Saudades' de Moscou
Mas Carvalho conhece bem a dinâmica de seus colegas russos, uma vez que morou em Moscou de 2002 a 2005, período que "lembra com muitas saudades".
Negociar com os russos tampouco é um desafio para ele, que conta com "a boa vontade da delegação russa em considerar os temas" relevantes para o Brasil.
"A Rússia valoriza bastante os BRICS, e quer assegurar o seu sucesso", afirmou.
O diplomata trabalhou no Grupo de Contato durante a presidência do Brasil do BRICS, em 2019, e notou com satisfação o empenho das delegações russas durante aquele ano: “Foi um prazer trabalhar com eles”.
"Nós queremos retribuir isso que a gente sentiu da delegação russa durante a presidência brasileira, apoiar a presidência russa com esse mesmo espírito", disse.
O Diretor do Departamento de Organismos Econômicos Multilaterais do Itamaraty está acompanhado da Analisa de Comércio Exterior do Ministério da Economia, Flora Vargas Leitão, para participar das reuniões do Grupo de Contato, celebradas entre os dias 26 e 28 de fevereiro.