A epidemia do COVID-19 que espalhou-se mundo afora após o primeiro surto na China também causou impactos econômicos ao redor do globo.
Segundo a revisão publicada pela OCDE na terça-feira (2), a projeção de crescimento global em 2020 está agora em 2,4%, uma queda de 0,5% em relação ao relatório anterior, lançado em novembro de 2019. A projeção da organização em relação ao crescimento do Brasil não foi alterada e manteve-se em 1,7%.
A OCDE ainda faz um alerta de que caso a epidemia não seja controlada com sucesso, a expectativa de crescimento mundial deve cair ainda mais, chegando até a 1,5%.
Para Milton Pignatari, professor de economia na Universidade Presbiteriana Mackenzie, esse cenário aponta a necessidade de medidas imediatas por parte dos governos.
"Sem dúvida nenhuma a economia da Ásia-Pacífico como um todo de uma certa forma já foi afetada, com certeza vai ter uma diminuição. A cidade que foi afetada era uma linha de produção muito grande da China e responde por uma quantia muito grande do PIB chinês e sem dúvida nenhuma vai gerar um problema na estrutura não só da China", aponta Pignatari em entrevista à Sputnik Brasil.
O economista explica que as organizações da área econômica têm recomendado que os governos apliquem medidas considerando a desaceleração econômica na China, incluindo diálogo com instituições financeiras pensando no impacto sobre as empresas.
"[As organizações recomendam] que os governos levem em consideração que algumas matérias-primas, que algumas importações, que alguns produtos no geral estão sendo afetados por esse problema e isso não pode ser ignorado", afirma.
Pignatari aponta que a China tornou-se indispensável na cadeia produtiva global de forma acelerada nos últimos 20 anos. Segundo ele, os produtos chineses são fundamentais para a produção nas Américas e na Europa.
"Isso dá início a um problema no ciclo econômico como um todo, porque se a China não fornece, por exemplo, esse material para a Alemanha, a Alemanha não pode fazer a sua parte produtiva e consequentemente não vai poder distribuir, por exemplo, para os países europeus", avalia.
O professor ressalta que é uma questão de tempo até que países da América do Sul sejam afetados pelo impacto no ciclo econômico, lembrando que já há efeitos em plantas industriais brasileiras.
"O problema é que a gente já vem de uma crise financeira de 2008-2009, da qual a gente veio se recuperando mas na totalidade essa recuperação ainda não está completa", lembra o professor.
Para Pignatari, a forma como está desenhada a cadeia produtiva mundial faz com o que o impacto econômico também se espalhe mundo afora.
"É até uma ironia a gente falar, mas na mesma proporção em que o vírus se espalha, esse problema econômico também pode se espalhar. Ele vai pegar os países sem a preparação para uma eventual recessão econômica, que não estava prevista para esse biênio 2020-2021", afirma.
O professor alerta que os economistas calculam uma proporção de que o tempo para recuperação da produção chinesa seja de cerca de duas vezes mais o tempo parado. Por isso, quanto mais tempo os efeitos dos esforços para conter a epidemia durarem, maiores serão os impactos na economia mundial.