Diversas curiosidades e mistérios que envolvem uma ilha submersa no estado norte-americano de Rhode Island vêm relatadas na edição de ontem (10) do jornal local Warwick Beacon.
Estamos falando da ilha de Greene, de 267 hectares, adquirida no longínquo ano de 1642 aos índios locais Narragansett por um capitão inglês, de seu nome John Greene, que ali instalou uma colônia de crentes puritanos.
Greene comprou a ilha por 30 rosários Wampum, designação dada a uma espécie de moeda de troca, feita de conchas de moluscos marinhos tradicionalmente consideradas sagradas pelas tribos ameríndias da região nordeste dos atuais Estados Unidos.
Em 1773, três anos antes da independência dos EUA, seria vendida a um John Brown por 3.000 dólares em moeda de prata.
Uma ilha fascinante
A ilha já teve altos diques e árvores e era um lugar favorito para acampar. As tempestades e inundações causavam regularmente estragos, sendo também zona de nidificação de andorinhas-do-mar e gaivotas e local de reprodução de caranguejos-ferradura.
O historiador de Warwick, Henry Brown, sabe muito sobre a ilha. Da janela de sua casa conseguia vislumbrá-la no horizonte, quando ela ainda existia. Agora é só, de quando em quando, uma mancha de areia.
Mas ela permanece bem viva na sua memória. Quando criança, e aproveitando a acessibilidade da ilha a pé durante a maré baixa, adorava explorá-la. Quando tinha sede, podia sempre recorrer a uma de duas nascentes de água doce.
As histórias de tesouros de piratas, alegadamente enterrados no local, fascinavam-no à época. A sua descoberta de uma garrafa de rum holandês fortaleceu ainda mais essas crenças.
Os restos de um navio naufragado intrigavam igualmente a população.
"O único campo de milho sobrevivente de uma variedade de milho duro de sílex, conhecido como Johnny Tee era cultivado na Ilha Greene", relembra Brown em declarações ao Warwick Beacon.
Antigamente, os cidadãos se juntavam na ilha a cada 4 de Julho, acendendo e soltando fogos de artifício para comemorar. Os peixes e amêijoas eram abundantes.
Com recurso a carroças puxadas por bois recolhia-se a zostera, uma espécie de capim de água que, misturado com estrume de fazenda, ficava curtindo em pilhas durante os meses de verão, sendo depois utilizado para fertilizar os campos e pomares de maçãs e peras.
O grande furacão de 1938
Tudo começou a descambar com o grande furacão de 1938, que partiu literalmente a ilha em dois e que expôs ainda mais os destroços de um navio de madeira de 31 metros.
Apesar da crença local que se trataria de um navio pirata, acredita-se que se trata da escuna britânica Gaspee, que encalhou e foi queimada por colonos independentistas na noite de 9 de junho de 1772, operação que foi tida como o primeiro golpe pela liberdade da nação.
Ilha desaparecida
Com o tempo, a ilha entretanto partida em dois acabaria definitivamente por desaparecer, só se vislumbrando, de quando em quando, uma língua de areia no seu lugar.
A ilha tem sido objeto de um levantamento do Projeto Arqueológico Marinho de Rhode Island há vários anos. Com o assoreamento, até os destroços do navio misterioso estão desaparecendo, ele que é o grande cartaz da região, graças às histórias da ilha desaparecida, de piratas e tesouros.
Impostos continuam sendo cobrados
A prefeitura da cidade de Warwick parece ser hoje a única beneficiária da situação, pois nos seus registros a ilha existe e, como tal, cobra os impostos sobre ela.
A ilha pertence à empresa Spring Green Corp. e está sendo tributada até hoje, em um total de US$ 91,78 (R$ 425.86) ao ano.
Os seus proprietários tentaram em vão reverter a situação, pois a prefeitura exigiu uma avaliação do terreno, apesar da dificuldade óbvia que os avaliadores teriam de encontrar a ilha.
A empresa prefere assim pagar o imposto anual a suportar uma avaliação caríssima de uma ilha que não existe.