Apesar da queda abrupta nos preços do petróleo, a situação será normalizada quando a nova epidemia de coronavírus for erradicada e as cadeias globais de abastecimento forem restauradas, dizem especialistas chineses, advertindo contra conclusões precipitadas sobre a queda de segunda-feira (9) nos preços das ações das empresas de energia chinesas, segundo a Sputnik China.
Na terça-feira (10), os mercados asiáticos do Pacífico recuperaram após uma queda acentuada nos preços do petróleo na segunda-feira, quando as ações estavam em queda livre nas bolsas asiáticas, incluindo China, Japão, Hong Kong, Singapura, Taiwan, Coreia do Sul, Tailândia, Austrália e Nova Zelândia.
A demanda global de petróleo despencou devido ao surto do novo coronavírus. Em uma reunião de sexta-feira (6) da OPEP+ em Viena, a Arábia Saudita propôs reduzir a produção de petróleo bruto em mais 1,5 milhão de barris por dia até o final de 2020. Mas a Rússia insistiu em manter os volumes atuais. Como resultado, os estados membros da OPEP+ não terão obrigações de limitar a produção de petróleo a partir de 1 de abril.
Depois que os preços do petróleo bruto caíram 30% desde segunda-feira (9), a queda mais acentuada desde 1991, a Goldman Sachs advertiu que o petróleo Brent (um dos dois padrões de referência do petróleo) pode baixar para US$ 20 (R$ 92.88) por barril. No entanto, os preços do petróleo bruto saltaram parcialmente de novo no dia seguinte, após um anúncio feito por Donald Trump sobre medidas de alívio econômico para combater a COVID-19, e notícias de que novos casos de coronavírus têm baixado na Ásia.
Mercados viram quedas recordes
Os preços do petróleo voltarão a subir, prevê Pan Changwei, diretor do Centro para a Rússia e Ásia Central da Universidade do Petróleo da China
"Penso que no futuro, os preços do petróleo não só voltarão ao seu nível anterior à crise, mas aumentarão ainda mais", diz ele, destacando que a prioridade número um é de neutralizar o novo coronavírus mundial, que ajudará a restaurar as cadeias de abastecimento global e a atividade econômica.
De acordo com Pan, não está claro se a China se beneficiará da queda dos preços do petróleo. Ele prevê uma maior desaceleração econômica na China e em todo o mundo, destacando que a atual necessidade da República Popular em petróleo bruto não é tão grande assim, pois conseguiu armazenar um estoque suficiente de hidrocarbonetos em seus depósitos.
"Por estas razões, a China reagirá indiferentemente aos atuais desenvolvimentos no mercado global do petróleo", opina ele.
Entretanto, a decisão de Riad de aumentar a produção em abril para cerca de 12 milhões de barris por dia provocou receios de novas vendas em massa de ações. Na segunda-feira (9), as maiores perdas foram sofridas pelos detentores de ativos relacionados com o setor petrolífero, metais e alta tecnologia.
Os preços das ações da Petrochina (uma das maiores empresas chinesas de petróleo e gás), da China National Offshore Oil Corporation (CNOOC), e da Sinopec, em particular, caíram drasticamente na Bolsa de Valores de Hong Kong.
Outra opinião
No entanto, Xu Qinghua, diretora do Centro para a Estratégia Energética Mundial (Center for World Energy Strategy) da Universidade Popular da China, disse à Sputnik China que a demanda por ações das empresas de energia chinesas não é de forma alguma o principal critério que determina seu papel no mercado.
"O preço das ações da Petrochina está há muito longe de ser perfeito", diz ela. "E, na minha opinião, isto está ligado não só e não tanto ao preço do petróleo. A principal razão é que é uma empresa estatal que cumpre uma tarefa estratégica de prover o país com recursos energéticos. Para o Estado, o principal critério para a eficácia de suas atividades não é apenas a rentabilidade, mas também um desenvolvimento estável e de longo prazo".
"Portanto, na minha opinião, neste momento é muito mais importante que a Petrochina se concentre em resolver tarefas estratégicas do governo, e não na flutuação de suas ações no mercado", conclui.
O desequilíbrio do mercado também saiu pela culatra aos sauditas: na segunda-feira (9), a gigante petrolífera Aramco viu suas ações caírem 10%, segundo a Gulf News, seu nível mais baixo desde a abertura de capital da empresa em dezembro de 2019. Ao mesmo tempo, do outro lado do oceano, o Dow Jones Industrial perdeu mais de 2.000 pontos em 9 de março, seu pior dia desde a crise financeira global de 2008.
Na terça-feira (10), os mercados recuperaram parcialmente, após o declínio recorde, com o petróleo Brent sendo negociado acima dos US$ 36 (R$ 167,21) por barril.