Um desses locais é Bnei Brak, a leste de Tel Aviv, que é o principal centro da corrente do judaísmo ultraortodoxo Haredi e o segundo maior foco de incidência da pandemia, depois de Jerusalém.
Segundo dados oficiais, mais de mil pessoas já foram diagnosticadas com a doença em Bnei Brak e há receios de que na cidade mais densamente habitada de Israel este número possa se multiplicar em poucos dias.
Razões da propagação
Mas a densidade populacional de Bnei Brak não é a única razão para esta situação. Segundo David Rose, diretor internacional da ZAKA, uma organização composta por equipes voluntárias de resposta de emergência, outra razão é a natureza das comunidades Haredi, declarou ele em exclusivo à Sputnik Internacional.
"Primeiro, estamos falando de famílias grandes com seis ou sete crianças vivendo em pequenos apartamentos de dois e três quartos, tornando quase impossível eles ficarem em casa o tempo todo", afirmou David, salientando em segundo lugar o fato de a comunidade Haredi não recorrer a telefone, rádio e televisão, "recebendo por isso as notícias com atraso".
As comunidades ultraortodoxas são contra a utilização de smartphones e televisões, que acreditam distribuir conteúdo e informações obscenas.
Por essa razão, quando as autoridades israelenses começaram a impor medidas de contenção no início de março, incluindo a proibição de eventos públicos com mais de 2.000 participantes, Bnei Brak, bem como outras cidades e zonas com uma população predominantemente ultraortodoxa, prosseguiram suas atividades, desconhecendo o que se passava em seu entorno.
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Por exemplo, no início de março, milhares de judeus ultraortodoxos foram para as ruas de Bnei Brak celebrar Purim, festa judaica que comemora a salvação dos judeus persas. Já no final do mês, centenas de pessoas assistiram ao funeral de um rabino, suscitando a ira de muitos israelenses que acusaram a comunidade Haredi de propagar a doença.
Contudo, segundo Rose, uma das principais razões foi a falta de comunicação básica entre as autoridades governamentais israelenses e os rabinos que controlam estas comunidades ultraortodoxas.
Seguindo estritamente as regras da Torá, as comunidades Haredi frequentemente ignoram as disposições do governo secular, preferindo seguir as instruções dos seus rabinos.
Consciencialização chegou tarde
Quando os líderes religiosos finalmente se aperceberam do perigo, já o mal estava feito e o novo coronavírus ficou à solta no seio de suas comunidades.
Há uma semana, o rabino Chaim Kanievsky, um destacado líder da comunidade ultraortodoxa lituana em Bnei Brak, apelou a seus seguidores que observassem rigorosamente as regras de higiene pessoal, mantivessem uma distância de dois metros uns dos outros, deixassem de visitar as sinagogas e não abandonassem suas casas salvo em caso de estrita necessidade. Ele advertiu que quem se atrevesse a quebrar as regras seria considerado um "rodef", uma ameaça à sociedade.
Sabendo que a decisão do rabino poderia chegar tarde demais, várias centenas de voluntários da ZAKA decidiram não ficar parados e começaram a difundir com alto-falantes a declaração do líder religioso, dirigindo pelas ruas estreitas de Bnei Brak, juntamente com as regras emitidas pelas autoridades israelitas.
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Medida que se revelou eficaz, segundo David Rose, tendo a adesão sido enorme. O problema é que, quando os judeus ultraortodoxos perceberam a magnitude do problema, "o vírus já tinha penetrado nas comunidades Haredim", acrescentou.
Segundo estimativas médicas, cerca de 38% das 200.000 pessoas de Bnei Brak já estão infectadas e espera-se que esse número cresça nos próximos dias à medida que forem realizados rastreios médicos.
Em conjunto com o Ministério da Saúde israelita, a ZAKA está tentando localizar os infectados e os alertar para os perigos da doença.
No entanto, os progressos nos esforços para conter a pandemia estariam sendo dificultados por ainda existirem alguns elementos na comunidade Haredi que insistem em não seguir as regras.
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Alguns dias após a declaração de Kanievsky, a polícia multou pessoas que se encontravam nas filas de supermercados locais sem manter a distância mínima de dois metros. Foram aplicadas multas mais severas às empresas que permaneceram abertas apesar da proibição.
No entanto, Rose acredita que o número de pessoas que não seguem as regras é residual, comparando com aqueles que as seguem.
"Noventa por cento da população tem levado muito a sério os apelos do governo e dos líderes religiosos. As ruas estão agora na sua maioria vazias, as pessoas só deixam suas casas por razões essenciais", garantiu David Rose.
Segundo os últimos dados de 6 de abril da Universidade Johns Hopkins, em Israel estavam contabilizados 8.611 infectados, dos quais 51 faleceram e 585 recuperaram.