As preocupações sobre o que viria a ser a pandemia de COVID-19 foram indicadas em um relatório do Centro Nacional de Informações Médicas (NCMI, na sigla em inglês) do Exército dos EUA, de acordo com dois funcionários não identificados e familiarizados com o documento.
O relatório se baseou em análises de intercepções de rede e de computadores, bem como imagens de satélite, embora não tenham sido revelados mais pormenores, disse a emissora ABC News.
"Os analistas concluíram que poderia ser um evento cataclísmico", disse uma das fontes. A Agência de Inteligência da Defesa (Defense Intelligence Agency), o Estado-Maior Conjunto do Pentágono e a Casa Branca foram então "informados várias vezes" sobre o perigo.
"[...] Uma doença fora de controle constituiria uma séria ameaça às forças dos EUA na Ásia, forças que dependem do trabalho da NCMI", escreve o autor do artigo.
As fontes revelaram ainda que, depois do relatório, houve briefings até dezembro "para os decisores políticos de todo o governo federal, bem como para o Conselho Nacional de Segurança [National Security Council] na Casa Branca", informou a emissora.
"A cronologia do lado da informação pode estar mais atrasada do que estamos discutindo. Mas isto estava definitivamente sendo comunicado desde o final de novembro como algo em relação ao qual os militares precisavam de tomar uma postura", explicou a fonte.
Recepção do relatório
Segundo Mick Mulroy, o ex-secretário adjunto da Defesa, os dirigentes governamentais não ignoram os relatórios divulgados pelo NCMI.
"Isto teria desencadeado um alarme significativo, e teria sido algo que teria seria seguido literalmente por todas as agências de recolha de informações", explicou Mulroy.
O ex-secretário salientou que a inteligência médica "tem em conta toda a informação de origem", incluindo "inteligência imagética, inteligência humana, inteligência de sinais".
"Assim, se surgisse algo assim, seria revisto por especialistas na matéria. Estão reunindo o significado dessas informações e depois analisando o potencial para uma crise de saúde internacional", acrescentou Mulroy.
Pergunta difícil
Quando questionado sobre o relatório de novembro no programa de domingo (5) "This Week" da ABC, o secretário de Defesa norte-americano Mark Esper disse George Stephanopoulos ao apresentador:
"Não me consigo lembrar, George. Mas temos muitas pessoas que observam isto de perto. Temos o principal instituto de investigação de doenças infecciosas da América, no seio do Exército dos Estados Unidos. Portanto, os nossos homens que trabalham estas questões estão sempre vigiando isto diretamente".
Stephanopoulos perguntou então: "Então você saberia se isto tivesse sido informado ao Conselho de Segurança Nacional em dezembro, não saberia?".
"Sim. Eu não tenho conhecimento disso", respondeu Esper.
De acordo com dados do governo chinês obtidos pelo diário South China Morning Post, o primeiro caso COVID-19 foi rastreado em 17 de novembro. No entanto, se crê que o verdadeiro surto em Wuhan tenha começado entre 12 e 29 de dezembro.
Resposta inicial de Trump
O presidente dos EUA, Donald Trump, fez seus primeiros comentários sobre o vírus em uma entrevista à CNBC, em 22 de janeiro. Quando questionado sobre se estava preocupado com uma pandemia, Trump respondeu: "Não, de forma alguma, e nós temos tudo sob controle. É uma pessoa que vem da China, e nós temos tudo sob controle. Vai correr tudo bem".
No entanto, a China comunicou sua primeira morte relacionada com a COVID-19 em 11 de janeiro, e já tinha comunicado dezenas de casos nessas semanas. Mesmo em 18 de fevereiro, Trump continuava afirmando que o coronavírus estava sob controle.
"Estou confiante que eles [a China] estão se esforçando muito", disse Trump durante uma entrevista com a emissora Fox 10 em Phoenix, estado de Arizona. "Eles estão trabalhando nisso, construíram, construíram um hospital em sete dias, e agora estão construindo outro. Acho que vai correr tudo bem".
Menos de um mês depois, em 13 de março, Trump declarou emergência nacional no país, quando o número de casos de coronavírus nos EUA disparou, apenas dois dias depois de a Organização Mundial de Saúde ter declarado o surto de COVID-19 uma pandemia.
Atualmente, o número de casos confirmados e de mortes nos EUA ultrapassou em muito os da China. Existem 432.554 casos do vírus nos EUA, que resultaram em 14.829 mortes, segundo a Universidade Johns Hopkins norte-americana. A China, pelo contrário, conseguiu conter o vírus, que infectou 82.883 dos seus habitantes e matou 3.339.