Neste sábado (25), a Boeing anunciou que abandonaria a fusão, que daria à companhia norte-americana 80% das ações do setor comercial da Embraer, assim como 49% do avião de carga C-390 Millennium.
Ainda que a Boeing tenha afirmado que a companhia manteria os acordos de cooperação anteriores para promover o C-390 internacionalmente, analistas comentaram ao portal Defense News que a disputa entre as companhias poderia representar o colapso desta colaboração na esfera militar.
"O futuro do KC-390 sem a Boeing - ou sem um auxílio da Defesa dos EUA - não é nada bom", comentou Richard Aboulafia, analista do setor aeroespacial do Grupo Real. "Parece que as cabeças mais frias deveriam prevalecer".
Em novembro, as companhias anunciaram a formação de uma nova entidade, a Boeing-Embraer Defense, criada com o propósito de promover ativamente o C-390 internacionalmente. O acordo deu à companhia norte-americana uma aeronave que poderia competir com o C-130 da Lockheed Martin, enquanto capacitava a Embraer com recursos.
A grande questão é se a Embraer buscará outras parcerias para esta aeronave ou o seu setor comercial como um todo, argumentou Byron Callan, analista da Capital Alpha Partners.
"Me pergunto se há algo ou alguém que poderia emergir em 2021 ou 2022 e estabelecer uma parceria com a Embraer. Poderiam ser os chineses? Os indianos? Outro país, companhia ou entidade fora dos EUA?", comentou Callan. "Seria uma ampla e interessante mudança para a indústria aeroespacial, que possui também implicações militares".
É até possível que a Airbus possa tentar usurpar o papel da Boeing como parceira da Embraer no C-390, disse Callan, observando que a Airbus - tal como a Boeing - não possui um avião de carga médio que concorra diretamente com o C-130.
Impacto do coronavírus
Outra grande questão é como a pandemia do coronavírus afetará os gastos internacionais com defesa, o que terá implicações para as indústrias locais e internacionais do setor militar.
Callan agregou que alguns países que encomendaram a aeronave, como Portugal e o Brasil, "estão provavelmente observando diferentes prioridades no planejamento do orçamento militar".
Enquanto isso, Aboulafia acrescentou que o abandono do acordo com a Boeing aumenta a probabilidade de a Embraer precisar de estímulos econômicos do governo federal para fortalecer o seu setor comercial durante a pandemia.
"Estes fundos poderiam facilmente vir dos gastos de defesa, o que impactaria os programas militares da Embraer, particularmente o Gripen ou o C-390", afirmou o especialista.