Em 4 de maio uma força naval da OTAN composta por três destróieres norte-americanos e uma fragata britânica, acompanhados de perto por um navio de abastecimento da Marinha norte-americana, assomaram no mar de Barents, no oceano Glacial Ártico.
A frota ficou em águas internacionais, não chegando a violar a zona econômica exclusiva da Rússia. Contudo, a presença foi considerada inoportuna pelas autoridades russas, mesmo tendo sido previamente avisadas da operação pelo alto comando norte-americano.
A missão da OTAN se destinaria alegadamente a garantir a segurança em condições meteorológicas adversas, manter a liberdade de navegação e exercitar a contínua interação entre aliados, e foi acompanhada de perto por forças navais e aéreas da Rússia.
Finalidade do exercício
O especialista militar Viktor Murakhovsky, ouvido pela Sputnik, afirmou que a OTAN "enviou navios de guerra para as fronteiras marítimas da Rússia a fim de demonstrar a 'força e prontidão' da aliança tendo como pano de fundo os exercícios cancelados", aludindo a um exercício semelhante planejado para o largo da costa da Noruega, mas que foi interrompido devido ao coronavírus.
Navios da Marinha dos EUA não apareciam no mar de Barents desde a Guerra Fria, nos anos 80. Naquela época, a Frota do Norte da União Soviética, tal como a Frota do Pacífico, era considerada uma séria ameaça para os Estados Unidos e seus aliados.
"Não vou revelar um grande segredo se disser que estamos criando no Ártico um sistema de vigilância abrangente para monitorar a situação no ar, na superfície marítima e debaixo d'água. Seus elementos essenciais já foram colocados em funcionamento. A visita dos destróieres no mar de Barents é uma excelente oportunidade para testar este sistema", afirmou o especialista militar.
Murakhovsky assinalou que tem havido nos últimos tempos uma mudança na estratégia geral naval do Pentágono. Se após o fim da Guerra Fria os norte-americanos desconsideravam o poderio naval russo e, com exceção de suas visitas ao mar Negro, estavam principalmente engajados em operações de inteligência junto das fronteiras terrestres da Rússia, agora veem na Rússia e na China duas potências que não poderão ignorar.
"Por isso, eles estão mudando o foco de seu treinamento operacional e de combate, a estrutura das Forças Armadas e até mesmo os conjuntos de armamento e equipamento militares. E a entrada da força naval no mar de Barents é um dos elementos dessa estratégia", garantiu o especialista.
Rota Marítima do Norte
Especialistas e políticos concordam que a visita sem precedentes de uma força de ataque de navios dos EUA e do Reino Unido ao mar de Barents representa um passo para o aumento da presença militar da OTAN na região do Ártico, fato que tem preocupado a Rússia.
Vale recordar que já em janeiro, Nikolai Korchunov, diplomata do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, alertou para o fato de a crescente atividade da OTAN no Ártico "criar tensão, o que prejudica a preservação da região como zona de paz, estabilidade e interação construtiva".
Mudança de paradigma
Representantes dos EUA têm se pronunciado repetidamente sobre planos para tornar a região "livre para uso internacional", tendo sido mesmo em 2019 publicada a "doutrina do Ártico", que implica, entre outras coisas, o bloqueio da Rota Marítima do Norte por navios de guerra.
Assim, o Ministério da Defesa russo vê-se na contingência de aumentar sua própria presença militar na região.
No final de fevereiro, o ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, anunciou a implantação de mais uma divisão de defesa antiaérea no Ártico, asseverando que a Rota Marítima do Norte está sob proteção segura, assegurando a "defesa de instalações industriais importantes e a proteção dos interesses econômicos da Rússia na zona do Ártico".
"Lançamos ali uma base confiável para a criação da infraestrutura militar. Nas ilhas dos arquipélagos árticos foram construídos complexos administrativos e residenciais sem paralelo no mundo, onde os militares prestam serviço em regime de rotação", salientou o ministro.