Em coletiva realizada na quarta-feira (3) em Genebra, na Suíça, Brown explicou sua iniciativa de mandar carta aos líderes do G20 (grupo que reúne as maiores economias do mundo) pedindo que o bloco volte a se encontrar para planejar resposta global à crise econômica e ao coronavírus.
Segundo coluna de Jamil Chade, do UOL, o ex-primeiro-ministro trabalhista disse que a "história não será gentil" com líderes que optarem por uma postura contrária ao multilateralismo. "Qualquer um que achar que pode liderar uma coalizão antiglobalista está errado", complementou.
"Eu me lembro de que como o Brasil era ativo na cooperação em termos econômicos, mudanças climáticas e pressionando por acordo comercial", afirmou Brown ao lembrar o papel do país na consolidação do G20 como fórum de debate. "O Brasil tem uma história de cooperação internacional e deve se lembrar disso", acrescentou o ex-premiê.
Para Paulo Velasco, diretor do curso de Relações Internacionais da UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro), Brown foi "bastante preciso" em suas declarações.
'Brasil tem violado suas tradições'
"O Brasil deveria buscar atuar mais em conformidade com os organismos internacionais, e certamente não atuando na contramão deles, ou copiando posturas e críticas feitas pelo governo Donald Trump ao multilateralismo", afirmou.
Segundo o pesquisador do Cebri (Centro Brasileiro de Relações Internacionais), o Brasil tem "violado suas melhores tradições diplomáticas".
"A postura do Gordon Brown aponta para o modo como o Brasil tem violado e contrariado suas melhores tradições diplomáticas. País que sempre buscou, sobretudo ao longo do século 20, e nesse início de 21, um engajamento internacional maior, privilegiando os foros internacionais, o multilateralismo. Esse é justamente o caminho para ampliarmos e fortalecemos nossa legitimidade internacional", apontou o especialista.
'Influenciados pelo Olavo de Carvalho'
Velasco afirmou também que "não é interessante no âmbito internacional" os países "mudarem muito radicalmente". Ele aponta influência do escritor Olavo de Carvalho no Itamaraty, e diz que atualmente a "percepção da politica externa brasileira é muito negativa mundo afora".
"Essa orientação antiglobalista, as ideias de Ernesto Araújo [ministro das Relações Exteriores] e do Filipe Martins [assessor da Presidência para assuntos internacionais], influenciados pelo Olavo de Carvalho, são ideias que não têm muito a ver e nunca combinaram com o modo como o Brasil pensava o mundo e sua atuação internacional. Deixar nos levar por esse tipo de ideias acaba abalando muito a imagem internacional do país", ponderou.
Legitimidade é perdida rapidamente
O analista disse ainda que o Brasil não pode se deixar "seduzir" pelo "isolacionismo", e que o governo deveria "perceber" que a legitimidade do país no cenário internacional, conquistada ao longo de muito tempo, pode ser rapidamente perdida.
"Demora-se muito tempo para construir uma imagem que aponte para a credibilidade e inspire confiança em outros atores, mas leva-se muito pouco tempo para perder essa confiança e credibilidade, e infelizmente é isso o que tem acontecido", afirmou Paulo Velasco.