Ao inspecionar tropas egípcias estacionadas na fronteira com a Líbia, o presidente egípcio Abdel Fattah as-Sisi assegurou que "se o povo líbio pedir para intervir, o Cairo ajudará", protegendo as fronteiras comuns dos terroristas.
O presidente egípcio exigiu também que as tropas do Governo de União Nacional (GNA) – liderado por Fayez al Sarraj e reconhecido pela ONU – parem a ofensiva contra Sirte e al-Jufrah.
Sirte e al-Jufrah, são o portão de entrada para região líbia onde se situam os terminais responsáveis pela exportação de 60% do petróleo líbio.
Em janeiro, o Exército Nacional Líbio (LNA) do marechal Khalifa Haftar, que controla o leste do país, fechou esses terminais, privando de receitas o governo de Sarraj, que controla a parte ocidental do país.
Em resposta, com auxílio turco e de mercenários sírios, tropas leais ao GNA empurraram o exército de Haftar para longe de Trípoli na direção do leste do país, só sendo detidas em El Jufrah.
Iniciativas de guerra e paz
Os combates cessaram após intervenção de mediadores internacionais. Moscou e Ancara retomaram suas negociações bilaterais sobre a Líbia e o governo egípcio – tradicional apoiante de Haftar – tentou intermediar conversações entre ambas as facções.
O presidente as-Sisi exortou a comunidade internacional a ajudar na reconciliação entre as facções ocidental e oriental, exigindo ao mesmo tempo o fim da ingerência turca, a retirada dos mercenários sírios e o desmantelamento dos grupos armados ilegais.
Politicamente, o Egito propôs um período de transição – a durar até 2022 – com a criação de um conselho presidencial composto por representantes das regiões, que asseguraria a realização de eleições e a elaboração de uma nova constituição.
Termos do armistício
Muito tem se discutido internacionalmente sobre o problema líbio, multiplicando-se inclusive os acordos de cessar-fogo, prontamente quebrados.
No entanto, os apelos do Cairo para o fim das hostilidades foram bem aceitos pelos Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Rússia, EUA e UE.
Mas as condições da trégua apresentadas por as-Sisi, não colheram unanimidade. Turquia e a Argélia expressaram seu descontentamento por o Egito exigir unicamente o desmantelamento e desarmamento das tropas do GNA.
Fayez al Sarraj – acalentado pelo ascendente sobre as tropas rivais – reagiu de forma dura e categórica às propostas egípcias.
"Haftar é um criminoso de guerra, deve ser punido. Nós não vamos parar até acabarmos com o inimigo", garantiu o líder do governo reconhecido pela ONU.
As-Sisi respondeu ameaçando invadir a Líbia para ajudar as tribos do leste.
Zona tampão
O cientista político líbio Mustafa Fetouri vê as ameaças de as-Sisi como uma reação ao fracasso de sua proposta para a região.
Em declarações à Sputnik, ele assegurou que "muitos líbios acharam estranho que a paz estivesse sendo solicitada pelo Egito, que por sua vez está armando Haftar".
Segundo o especialista, se o Egito introduzir tropas na Líbia, não será em grande distância. "O Cairo está provavelmente planejando criar uma zona tampão na fronteira com a Líbia, de 20-30 quilômetros de profundidade, no máximo".
Para Fetouri, o preço a pagar pelo Egito seria demasiado alto, quer doméstica quer internacionalmente, caso ocorresse uma invasão em grande escala.
Já Kirill Semyonov, chefe do Centro de Pesquisas Islâmicas do Instituto para o Desenvolvimento Inovador da Rússia, duvida que os egípcios sequer atravessem a fronteira. Ele vê as declarações de al-Sisi como uma tentativa de salvar Haftar.
"Se Sarraj tomar o controle de todo o país […] os grupos islâmicos vão se fortalecer na Líbia. [...] A influência da Turquia, onde o poder há muitos anos que pertence aos islamistas moderados, vai aumentar. O Egito não pode permitir isso", afirmou Semyonov.
Para o especialista, a chave do conflito não está tanto nas mãos do Cairo, mas mais nas da Rússia e da Turquia, pois se Erdogan tem o poder de influenciar Sarraj, já a Rússia tem a vantagem de ter pontes de diálogo abertas com ambas facções.