Em junho de 1520, os acolhuas, um povo aliado aos astecas, que habitavam a cidade de Zultépec-Tecoaque, atual centro do México, capturaram um comboio de conquistadores espanhóis. Tudo indica que os 450 membros do grupo, composto por homens, mulheres, crianças, homens de infantaria e aliados de grupos indígenas, foram assassinados em poucos meses.
Ao saber o que havia acontecido, Hernán Cortés ordenou que seu chefe de polícia, Gonzalo de Sandoval, destruísse a cidade como medida de retaliação, nos primeiros meses de 1521, relata o Instituto Nacional de Antropologia e História do México (INAH, na sigla em espanhol).
Os eventos são relatados em vários textos históricos, e as descobertas realizadas durante três décadas de trabalho de escavação na localidade, recentemente publicadas pelo INAH, parecem corroborar sua veracidade.
Os arqueólogos localizaram em Zultépec-Tecoaque os restos mortais dos membros do grupo espanhol. Os cativos foram oferecidos às divindades locais durante oito meses e tiveram mortes agonizantes, inclusive com evidências de canibalismo, razão pela qual a localidade recebeu o nome de Tecoaque, que em Nahuatl significa "onde eles foram comidos".
"Em Zultépec-Tecoaque, os prisioneiros foram trancados em celas sem portas, e foram alimentados por seis meses, de acordo com os especialistas. Pouco a pouco, os habitantes de Zultépec-Tecoaque massacraram e aparentemente comeram cavalos, homens e mulheres. [...] Os esqueletos dos europeus capturados foram mutilados e mantiveram marcas de corte indicando que a carne tinha sido retirada dos ossos", detalha a revista National Geographic.
Segundo o arqueólogo Enrique Martínez Vargas, as escavações sugerem que os habitantes de Zultépec-Tecoaque sabiam, ou pelo menos esperavam, que Cortés se vingaria deles, como indicam as estruturas defensivas primitivas, erguidas apressadamente pelo povo. Além disso, descobriu-se que os restos mortais dos espanhóis e outras evidências dos sacrifícios foram jogados em poços rasos (aljibes), em uma tentativa de escondê-los.
As escavações revelaram que nenhuma das defesas construídas funcionou como esperado. Sandoval e sua expedição punitiva entraram na cidade sem problemas. De acordo com um comunicado do INAH, alguns dos guerreiros conseguiram escapar, mas as mulheres e as crianças permaneceram, tornando-se, assim, as principais vítimas deste massacre.
"As mulheres e crianças que permaneceram abrigadas em seus aposentos foram, por sua vez, mutiladas, como evidenciado pela recuperação dos ossos cortados no chão dos quartos. Os templos também foram queimados, e as esculturas de deuses, decapitadas, destruindo, assim, este local que representava uma resistência a Cortés", conta o arqueólogo, citado pelo INAH.
Até agora, mais de 25.000 objetos foram exumados em uma área de escavação de 3,5 hectares dos 32 hectares que compõem o sítio arqueológico de Zultépec-Tecoaque, relatou a organização.