O presidente Jair Bolsonaro participou nesta terça-feira (26) de uma recepção promovida pela embaixada da Índia em homenagem ao Dia da República. No Clube Naval de Brasília, o presidente jantou com o embaixador da Índia, Sureh Reddy.
Durante o evento, Bolsonaro fez questão de elogiar a relação bilateral entre o Brasil e Índia. "Realmente, cada vez mais a Índia se torna um país irmão do Brasil", afirmou.
Em entrevista à Sputnik Brasil, Jonuel Gonçalves, professor de Relações Internacionais do Núcleo de Estudos Avançados do Instituto de Estudos Estratégicos da UFF (Universidade Federal Fluminense), disse que o Brasil possui relações comerciais fortes com a Índia há muito tempo, mas recentemente há uma aproximação entre os dois países.
"Neste momento há um conjunto de convergências e de pontos de vista entre o presidente Bolsonaro e o primeiro-ministro Narendra Modi. São duas figuras de direita, com um perfil e uma visualização muito grande nesse sentido", afirmou.
A ida de Bolsonaro ao evento da embaixada indiana ocorreu na semana seguinte em que o governo da Índia liberou as exportações comerciais de vacinas produzidas pelo Instituto Serum contra a COVID-19.
Segundo Gonçalves, a Índia mostrou com a pandemia da COVID-19 que é um país com uma posição estratégica e com capacidade de produção independente.
"Isso naturalmente empurra desde logo não só para aprofundar as relações, mas também porque o Brasil estuda o modelo indiano. Não é em si um modelo muito exemplar, mas tem vários aspectos que podem nos interessar", disse.
Contrapeso à China
Para o especialista, a aproximação entre o governo Bolsonaro e o governo de Narendra Modi faz parte de um jogo político para tentar diminuir a dependência dos dois países em relação à China.
"O reforço das relações do Brasil com a Índia é também olhando para a China. Os dois olhando para a China e procurando parceiros de grande peso internacional para contrabalançar o peso da China", analisou.
Jonuel Gonçalves explicou que tanto o Brasil quanto a Índia têm vivido, por motivos diferentes, momentos conturbados nas suas relações bilaterais com o governo chinês.
As relações entre a China e a Índia vêm se deteriorando desde abril de 2020, quando soldados de ambos os lados, estacionados na Linha de Controle Real (LAC, na sigla em inglês), trocaram acusações de desrespeito dos acordos fronteiriços e tentativa de expansão das áreas ocupadas.
Joe Biden adotou uma posição de ameaças e retaliação diante da política ambiental brasileira.
— Sputnik Brasil (@sputnik_brasil) January 27, 2021
Para especialista ouvido pela Sputnik Brasil, ou o pragmatismo retorna ao Itamaraty, ou o Brasil será um pária internacional.https://t.co/0SaJ5Z8rYN
Já o Brasil viveu tensões diplomáticas com a China durante o mandato de Jair Bolsonaro. Integrantes do governo e o filho do presidente já criticaram o país.
"A Índia tem esse problema no imediato, tem a China na fronteira, tem tido choques fronteiriços em algumas zonas mal delimitadas. O Brasil tem tido choques que ultimamente são de caráter ideológico", afirmou o especialista.
Outro ponto destacado por Gonçalves é de que a aproximação com a Índia pode ser útil em um momento de "enfraquecimento" do BRICS.
"No caso do Brasil com a Índia, ou com os outros membros do BRICS, é um relacionamento que é importante no sentido de que provavelmente o BRICS vai se tornar obsoleto. Na medida que os países vão se desenvolvendo, vão ter menos interesse em se afirmar como emergentes. Querem se afirmar como desenvolvidos", completou.