De acordo com a agência Bloomberg, os preços dos alimentos estão ficando mais altos desde os últimos seis anos. O motivo é que, no geral, todos os produtos também viram seus custos aumentarem, desde a soja ao óleo de palma, pela enorme demanda da China, como também devido às cadeias de fornecimento mais vulneráveis e a condições climáticas adversas que, por sua vez, podem ter efeitos nefastos na produção e no comércio de determinados bens alimentares a nível global.
Alguns bancos vêm avisando de que o mundo poderá estar se dirigindo para um "superciclo" de commodities, e a inflação está colocando ainda mais pressão sobre os consumidores já prejudicados pela recessão fruto da pandemia atual. E em conjunto, alguns países, se encontram com sua moeda em declínio.
Levando em consideração a informação acima, vejamos como o aumento de preços em produtos alimentares afeta alguns dos países mais populosos da Terra.
Brasil – pressão popular
A maior economia da América Latina se destaca de seus mercados vizinhos ao apresentar rápido aumento nos preços dos alimentos no ano passado em relação à inflação geral, segundo a Oxford Economics Ltd.
Ao mesmo tempo, a popularidade do presidente Jair Bolsonaro está caindo vertiginosamente, e o mesmo já começou a tomar medidas para segurar seu eleitorado, tais como a remoção do diretor de uma companhia petrolífera estatal após uma discórdia sobre os preços dos combustíveis e a criação de uma nova rodada de ajuda contra a COVID-19 aos mais desfavorecidos, sublinha Bloomberg.
O problema é que todo o dinheiro envolvido nessas medidas, entre outros gastos, fez com que o preço da comida aumentasse, segundo Maria Andreia Lameiras, pesquisadora no Instituto de Pesquisa Econômica (IPEA) em Brasília. Por exemplo, o preço do arroz subiu 76% no ano de 2020, enquanto o valor do leite e da carne bovina aumentou em mais de 20%. Lameiras explica que "o governo disponibilizou dinheiro para a população com os maiores gastos em comida", segundo a mídia.
Porém, o custo para assegurar a nutrição vital ameaça aumentar ainda mais a desigualdade no país que, por sua vez, apresenta a maior desigualdade salarial da região, uma situação que tem sido ainda mais acentuada com a pandemia.
Rússia – memória histórica
As memórias de preços crescentes e de prateleiras vazias após o colapso da União Soviética ainda se encontram bem vivas na memória de muitos cidadãos russos. O presidente, Vladimir Putin, está ciente do impacto político oriundo do aumento dos preços dos alimentos.
Nas últimas semanas, a Rússia, o principal exportador de trigo, impôs tarifas e cotas designadas para refrear vendas internacionais e diminuir os preços domésticos. De igual modo, outros fornecedores foram instruídos a congelar os preços de alguns alimentos, tais como cenouras e batatas. Contudo, estas medidas podem se revelar não tão eficazes assim no final do mês de março, pois quando as restrições forem canceladas, o preço geral da comida deverá aumentar.
Nigéria – uma 'tempestade perfeita'
Os preços da comida na maior economia da África constituem mais da metade do índice de inflação do país, tendo aumentado rapidamente nos último 12 anos.
Em média, uma família nigeriana gasta mais de 50% de seu salário em comida. Tais custos contribuem para uma perfeita tempestade de segurança alimentar que tem sido um grande desafio para o país ao longo da pandemia da COVID-19.
Turquia – um líder furioso
Sendo o maior consumidor per capita de pão do mundo, bem como o maior exportador de farinha para a sua fabricação, a Turquia está bastante exposta a preços elevados no mercado de commodities. Desde o ano passado que os preços da comida vêm aumentando e chegaram a 18% (registrados em janeiro deste ano), segundo a mídia.
As implicações políticas para o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, estão se elevando, uma vez que os crescentes preços em alimentos estão, de igual modo, submergindo o valor da lira (moeda turca). Sabendo disto, Erdogan já ordenou uma investigação sobre o aumento dos preços da comida, dizendo que óleo, leguminosas, vegetais e frutas são "preocupações primárias".
Índia – liberalização do empobrecimento
A Índia é o país com a terra mais fértil no mundo depois dos EUA, sendo o maior exportador de arroz e o segundo maior produtor de trigo. No entanto, milhões de pessoas não conseguem ter acesso a alimentos com preços baixos, e deste modo, o país tem uma das maiores porcentagens de má nutrição infantil.
A comida permanece no centro das tensões políticas que há muito predominam na Índia. Os protestos dos agricultores continuam escalando após o governo, liderado pelo primeiro-ministro, Narendra Modi, ter liberado o mercado para as colheitas. Esta medida preocupa os produtores, pois estes temem que os preços de seus produtos possam descer, o que prejudicaria muitos agricultores e suas famílias, muitas vezes, já em uma situação financeira difícil.
Assim, é possível ter uma melhor percepção sobre como os preços da comida não só afetam as vidas das pessoas, mas, especialmente, como podem interferir no equilíbrio econômico e nos vários jogos políticos.