Índia e Paquistão surpreenderam seus próprios cidadãos e especialistas na semana passada, quando iniciaram uma conversa que estava paralisada desde 2016, após uma série de ataques terroristas a campos militares na Caxemira. O anúncio, apoiado por algumas conversas secretas entre altos funcionários dos dois países, veio após uma série de vibrações positivas enviadas pelo chefe das Forças Armadas do Paquistão, general Qamar Javed Bajwa, e pelo primeiro-ministro Imran Khan, recentemente em relação à Índia.
Khalid Shah, membro associado da Fundação de Observação e Pesquisa, em Srinagar, na Índia, que acompanha o conflito da Caxemira e a região, falou à Sputnik sobre o anúncio feito pelas duas nações movidas à energia nuclear e seu impacto na Caxemira.
Shah acredita que uma das razões por trás do anúncio repentino da estrita implementação do acordo de cessar-fogo entre a Índia e o Paquistão seja a ameaça de um cenário de guerra em duas frentes. O analista acredita que a Índia está aliviando as tensões nas fronteiras oriental e ocidental para garantir que um conflito não estoure. Mais ainda, para ele, a Índia estaria reorganizando sua postura militar e movendo forças de ataque que estavam enfrentando o Paquistão na frente ocidental e, assim, estaria ganhando tempo para reestruturar e modernizar suas forças de defesa.
Em contrapartida, Khalid Shah não acredita que o Paquistão deixou de apoiar grupos terroristas e organizações militantes e separatistas envolvidas na separação da Caxemira. "O apoio a esses grupos é uma estratégia de longo prazo do Exército paquistanês e não vai acabar logo", afirma. A visão do especialista é de que tenha havido apenas uma mudança tática para que esses grupos se escondam ou parem de conduzir ataques na Caxemira.
"Com o apoio do Paquistão, esses grupos [terroristas] continuam florescendo. Se o financiamento for cortado, existe a possibilidade de que a militância de baixo nível, conduzida e apoiada localmente, continue na Caxemira", ressaltou.
Questionado pela Sputnik sobre um possível diálogo de liderança sobre a questão da Caxemira em um futuro próximo, Khalid Shah foi enfático: "Não vejo um engajamento de nível político na Caxemira ou em qualquer outra questão indo-paquistanesa no horizonte. Será necessária muita confiança para os dois primeiros-ministros se sentarem à mesa."
Shah é pessimista e não vê as recentes demandas de trabalhos de desenvolvimento e oportunidades de emprego como solução para a violência na região. "Vimos um grande número de recrutas militantes da Caxemira vindo de famílias abastadas. É necessário abordar a causa-raiz do conflito, que certamente não é a pobreza ou a falta de desenvolvimento", explica.
O governo do primeiro-ministro paquistanês, Imran Khan, tem enfrentado pressão da China para atingir paz com a Índia em uma tentativa de garantir o Corredor Econômico entre China e Paquistão. Para Khalid Shah, Pequim é uma terceira parte na disputa da Caxemira.
Em uma visão estrategista, Shah compara que a China prefere "se juntar à mesa como um terceiro ou jogar sua carta através do Paquistão". Para o especialista, Pequim, ao contrário de Washington, é mais relevante para a Caxemira, principalmente no contexto do Corredor Econômico entre a China e o Paquistão e de outros interesses chineses na região. "Minha sensação é que Pequim continuará apoiando o esforço do Paquistão enquanto isso for adequado aos interesses da China na região", concluiu.