Dados do Instituto Internacional de Pesquisa sobre a Paz de Estocolmo (SIPRI, na sigla em inglês) confirmaram que EUA e Rússia são os líderes mundiais em exportações de armamentos.
Entre 2016 e 2020, os EUA foram responsáveis por 37% das exportações mundiais e Rússia 20%. O terceiro colocado, França, ficou com 8,2% do mercado, seguido da Alemanha, com 5,5%, e China, 5,2%.
Apesar de mais de 50% do mercado seguir nas mãos de Moscou e Washington, o relatório apontou queda de 22% nas exportações russas, quando comparado ao período de 2011 a 2015.
De acordo com o analista de defesa e coronel aposentado, Aleksandr Zhilin, a Rússia passa por um momento de reformulação de suas capacidades militares.
"A Rússia está desenvolvendo novas classes de armamentos", disse Zhilin. "Ela está interessada em aumentar a qualidade e efetividade no campo de batalha de suas armas para que, em caso de agressão contra Moscou, possa se usar armamentos não nucleares."
Nessa nova classe de armamentos estariam os mísseis hipersônicos "que são de categoria extremamente secreta".
"A Rússia não pode exportar esse tipo de armamento para nenhum país neste momento, em função do caráter confidencial da tecnologia", explicou Zhilin.
Outro motivo da relativa queda nas exportações russas foi a diminuição das entregas para a Índia.
"Deli ficou um pouco desconfortável com a nossa cooperação técnico-militar com a China", esclareceu o analista.
Pequim adquiriu frotas de caças russos Su-35 e sua aproximação com Moscou pode ser vista com desconfiança pela Índia, que enfrenta disputas territoriais com a China.
A indisposição indiana não é fruto de mero "patriotismo", mas da percepção de que "realmente os aviões russos de última geração são ótimos" e poderiam representar perigo à Nova Deli.
Além disso, "a Índia sofre muita pressão norte-americana para não importar armamentos de outros fornecedores", disse Zhilin.
Pressão dos EUA
Segundo o analista militar, os EUA, líderes em exportações mundiais de armamentos, "se portam de maneira bastante agressiva" no mercado internacional de armas.
"Se um parceiro dos norte-americanos ou aliado da OTAN decide comprar um equipamento de defesa russo [...] Washington bate na mesa e o força a comprar armas norte-americanas, mesmo que sejam de qualidade inferior", disse Zhilin.
No que se refere aos países membros da OTAN, "simplesmente não lhes é permitido comprar armamentos de outros fornecedores", relatou.
Caso emblemático seria o da Turquia, que sofreu forte pressão de Washington após comprar sistemas de defesa antimísseis russos S-400.
"Erdogan quis estabelecer um precedente. Washington reagiu de forma muito severa e mostrou que exerce sua dominação através da força", disse Zhilin.
Nesta segunda-feira (22), o secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, disse que a Índia deve evitar a compra do sistema russo S-400, caso não queira ser alvo de sanções norte-americanas.
"Nós certamente incentivamos a todos os nossos parceiros que fiquem longe dos equipamentos russos e realmente evitem qualquer aquisição que possa gerar sanções", disse Lloyd durante visita oficial à capital indiana, Nova Deli.
Rússia e Índia assinaram contrato para o fornecimento de cinco regimentos do sistema antimísseis S-400. A compra, realizada em 2018, foi avaliada em US$ 5 bilhões (cerca de R$ 27,5 bilhões) e as entregas devem ser concluídas até 2023, de acordo com a empresa estatal russa de exportação de armamentos, Rosoboronexport.
Para Zhilin, as ameaças norte-americanas demonstram que o mercado de armas internacional não é regido pelas regras da concorrência.
"Já há algumas décadas é difícil falar sobre concorrência nesse mercado ", disse o analista. "Hoje em dia ele é dominado pela política e pelo mercado negro."
Segundo ele, a Rússia tem como recuperar algumas parcelas do mercado mundial de armamentos a curto e médio prazo.
"A Rússia precisa aumentar a sua participação em feiras internacionais de armamentos, para demonstrar as suas capacidades, a efetividade de seu arsenal e o manejo prático dessas armas, que com certeza impressionam", acredita.
Além disso, Moscou não deve se esquivar da "utilização de práticas que sempre foram características desse mercado", como "desenvolver canais extraoficiais" com clientes e "fazer acordos por detrás da cena".
De acordo com dados do SIPRI, a Rússia foi a segunda maior exportadora de armas do mundo entre 2016 e 2020. Moscou exportou armamentos para 45 países e respondeu por 20% das transações mundiais.