Os investimentos militares contínuos da Rússia no Ártico podem estimular a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) a conceder à região uma maior atenção no planejamento de defesa da aliança, de acordo com autoridades e analistas nórdicos ouvidos pelo portal Defense News.
A mídia recorda que o aquecimento global está abrindo novas frentes de competição no Ártico, uma região rica em recursos, e até mesmo a distante China está se envolvendo. Esse contexto, argumenta, pode se transformar em um problema de segurança para a OTAN e, se isso acontecer, a aliança deve ter uma estratégia para administrar o conflito.
"Você tem tantos componentes para um dilema de segurança clássico que está aumentando no Ártico […]. Não se trata de colocar imediatamente mais vigilância lá em cima, ou mais tropas e instalações militares, trata-se mais de obter um entendimento conjunto de como lidar com isso e encontrar maneiras de avançar, se possível, com os russos", afirmou Anna Wieslander, diretora do programa do Conselho do Atlântico Norte.
Relação Noruega-Rússia
A Noruega, Estado-membro da OTAN, que faz fronteira com a Rússia, por um lado, denuncia o aumento militar de Moscou na península de Kola, base da Frota do Norte da Rússia. Por outro lado, Oslo busca manter boas relações com Moscou na gestão das pescas e cooperação da guarda costeira.
"Estamos trabalhando em um diálogo aberto com a Rússia", disse o ministro da Defesa norueguês, Frank Bakke-Jensen, durante conferência virtual organizada pelo Conselho do Atlântico Norte em 19 de março. A ideia, acrescentou o ministro, é "sustentar" todos os instrumentos de sucesso que ainda existem, como o serviço conjunto de busca e salvamento e o canal de telecomunicações de crise.
Mas, de acordo com portal Defense News, as autoridades norueguesas estão cada vez mais assustadas com os mísseis russos de longo alcance, novos armamentos subaquáticos e exercícios navais que se aproximam cada vez mais das costas dos aliados da OTAN.
Oslo vê Moscou retornando a um tipo de estratégia, usada na era da Guerra Fria, de negação de área que busca criar águas seguras para que os submarinos nucleares realizem um contra-ataque nuclear no caso de uma guerra atômica.
"Não podemos fugir do fato de que o cenário de segurança no Ártico está ficando mais difícil […]. Não vemos a Rússia como uma ameaça direta à Noruega, mas vemos cada vez mais sinais [de ameaça] para a OTAN e, portanto, a Noruega como membro da OTAN", afirmou Ine Eriksen Soreide, ministra das Relações Exteriores da Noruega.
EUA de 'olhos abertos'
Segundo a mídia, os legisladores dos EUA não veem a região do Ártico como uma fonte de conflito iminente.
"É a região onde, em muitos aspectos, o status quo é invejável […]. Não estou minimizando os riscos aqui. Precisamos estar de olhos abertos", disse James DeHart, coordenador do Departamento de Estado dos EUA para a região do Ártico.
Ao mesmo tempo, os funcionários do Pentágono estão convencidos de que as tensões em outros lugares podem se espalhar rapidamente para o Extremo Norte.
"Temos que ser capazes de conectar alguns pontos e pensar no que devemos esperar da Rússia na região", comenta Jennifer Walsh, autoridade sênior de política do Departamento de Defesa dos EUA. Walsh acrescenta que embora o objetivo atual de Moscou seja reforçar sua defesa territorial no Ártico, "até onde [a Rússia] irá para aumentar sua supervisão ou controle das rotas marítimas no norte?". O mesmo vale para a China.
Com as ambições declaradas de Pequim de ser protagonista na região, as tentativas da China de influenciar os mecanismos de governança no Ártico existentes devem ser julgadas à luz de seu comportamento em outros lugares, garante Walsh.
Todavia, a OTAN não dedicado muita atenção ao Ártico, deixando o trabalho pesado para os países individualmente, disse Wieslander.
"Se você tem uma quantidade maior de atividades militares, mas [não tem um] fórum político para colocar essas atividades em algum tipo de perspectiva, então você tem um problema", sentencia Wieslander.