O primeiro-ministro japonês, Yoshihide Suga, enfatizou que, apesar da referência sobre Taiwan em uma declaração conjunta divulgada após seu recente encontro com o presidente dos EUA, Joe Biden, não há possibilidade de as forças japonesas serem comprometidas com qualquer contingente militar em torno de Taiwan, relata o jornal South China Morning Post nesta quarta-feira (21).
Em resposta a uma pergunta de um político da oposição sobre os detalhes do compromisso do Japão com Taiwan, Suga respondeu que a declaração conjunta com Biden "não pressupõe envolvimento militar de forma alguma".
Analistas dizem que a Constituição do Japão bloquearia os militares do país de participarem do combate caso a China tentasse tomar Taiwan à força, embora o Japão pudesse fornecer uma gama de apoio logístico e de retaguarda aos EUA.
Frente unida em Taiwan
A declaração conjunta entre líderes dos EUA e do Japão foi a primeira desde 1969, quando o premiê japonês daquele período afirmou que a manutenção da paz e da segurança na "área de Taiwan" era importante para sua própria segurança. Isso foi antes de Tóquio normalizar os laços com Pequim, em 1972.
Biden e Suga pediram "paz e estabilidade em todo o estreito de Taiwan", que Pequim considera uma província independentista que deve ser reunificada com o continente. Os dois líderes também disseram que iriam conter a "intimidação" da China na região da Ásia-Pacífico.
A China expressou sua "forte preocupação e firme oposição" às declarações e acusou o Japão e os EUA de semearem a divisão, além de prometer que defenderia resolutamente sua soberania e segurança nacional.
No fim de semana, o Comando do Teatro de Operações Oriental do Exército de Libertação Popular (ELP) da China, responsável por vigiar o estreito de Taiwan, acionou dezenas de bombardeiros estratégicos H-6K em exercícios de fogo real por nove horas seguidas.
Mensagem para japoneses
Analistas disseram à mídia que os comentários recentes de Suga foram a maneira que o governante encontrou de deixar claro que o Japão não irá à guerra.
"Se ele não dissesse nada, isso poderia ter um efeito negativo na aliança de segurança Japão-EUA, mas, ao mesmo tempo, Suga precisava deixar claro para seu público doméstico que o Japão não iria à guerra por causa Taiwan", afirma Ben Ascione, professor assistente de Relações Internacionais na Universidade Waseda, Japão.
"Não creio que possamos esperar que o Japão faça mais do que mudanças incrementais por enquanto", acrescentou Ascione.
Yuko Ito, professora de Relações Internacionais na Universidade da Ásia, Japão, afirma que as mãos de Suga estão atualmente amarradas pela Constituição japonesa de renúncia à guerra, que apenas permite que os militares sejam enviados para defender a nação e seus aliados. Mas ela acrescenta que há um sentimento crescente de preocupação em alguns setores de que Tóquio estava sendo "muito ingênuo".
A professora afirma que "a maioria dos japoneses ainda é contra o uso do poder militar do país, então o debate sobre a Constituição não pode ocorrer […]. Mas eles também não percebem [...] que os militares japoneses estão realizando muitos exercícios conjuntos com os EUA em áreas muito próximas a Taiwan como uma mensagem à China". Dessa forma, conclui Ito, "se não tivermos discussões sobre como mudar ou reinterpretar a Constituição agora e esse debate só ocorrer após uma invasão [da China em Taiwan], será tarde demais".