Após uma segunda onda da pandemia do coronavírus na Índia, o governo de Narendra Modi tem sido criticado pelos veículos de imprensa nacionais e internacionais por má gestão da crise. Ainda em janeiro, Modi disse ao Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês) que a Índia havia conseguido controlar a pandemia.
No entanto, os governos estaduais são igualmente culpados, diz Suvam Pal, um profissional de mídia e autor indiano que trabalha em Pequim, China.
"Complacência, incompetência, descuido, insensibilidade e caos são as cinco palavras adequadas que resumem as razões por trás da segunda onda catastrófica na Índia", argumenta Pal em conversa com a Sputnik.
O jornalista sugere que Nova Deli subestimou a ameaça potencial da segunda onda.
"Depois de conter a primeira onda e dar o pontapé inicial de sua ambiciosa e muito publicitada campanha de vacinação mais diplomacia vacinal, o governo liderado por Modi estava repousando sobre esses louros e foi pego completamente desprevenido", diz.
Segundo o especialista, Harsh Vardhan, ministro da Saúde da Índia, um médico qualificado, que foi eleito para o cargo de presidente do Conselho Executivo da Organização Mundial da Saúde (OMS) ainda em 2020, também não seguiu os protocolos, políticas e contramedidas recomendadas pela OMS contra a segunda onda.
Ao mesmo tempo, os governos estaduais indianos, encarregados de executar muitos programas governamentais e que podem desenhar suas próprias abordagens, também "entraram em uma hibernação do tipo Rip van Winkle depois de afastarem a primeira onda" e não realizaram nenhuma política proativa para conter o coronavírus, refere Pal.
Enquanto os estados governados pelo Partido Bharatiya Janata, governista, aguardavam as ordens de seus ministros centrais, "a maioria dos estados governados pelos partidos da oposição estavam envolvidos em jogos de acusações e sem mostrarem qualquer intenção de estar na mesma página com o governo central em uma luta coletiva contra o vírus", argumenta Suvam Pal.
Cobertura da mídia
A mídia indiana se dividiu em grupos pró-Modi e anti-Modi, que às vezes acabam escolhendo as histórias que lhes são mais convenientes, de acordo com o profissional.
"A mídia pró-Modi tem culpado entusiasticamente a congregação do Tablighi Jamaat [movimento islâmico internacional] pela primeira onda e os comícios e protestos dos fazendeiros como superpropagadores durante a segunda onda, enquanto a mídia anti-Modi tem atacado vigorosamente a horrível reunião de Kumbh Mela [peregrinação e festival hindu] ou comícios eleitorais", aponta Pal.
Na verdade, todos os fatores acima mencionados, incluindo outros encontros de massas de hindus, muçulmanos, sikh e cristãos, devem ter contribuído para o aumento acentuado das infecções e mortes pela COVID-19, continua o autor. No entanto, muitos veículos de imprensa preferem atribuir culpas em vez de "chamar a atenção para cada um desses eventos superpropagadores e dar um quadro abrangente e multidimensional".
Como seria futuro político de Modi?
A crise pandêmica nesta segunda onda na Índia pode ter desacelerado a popularidade do primeiro-ministro indiano, afirmou na quarta-feira (12) a revista Foreign Policy, apesar de os indícios disso não serem muito dramáticos.
Por um lado, as taxas de aprovação de Modi caíram de 74% no final de março para 63% na terça-feira (11), segundo a empresa Morning Consult. Por outro lado, com exceção de Bengala Ocidental, o partido ganhou mais assentos do que nas eleições anteriores em vários estados.
"Se Modi continuar ignorando ou negligenciando a ciência real e permitindo atividades não científicas de seu governo, como a criação da [organização sobre gados] Rashtriya Kamdhenu Aayog, que antes propagou publicamente o experimento pseudocientífico de cobrir telefones celulares com esterco de vaca, estou certo de que os eleitores urbanos e educados o abandonarão por promover a estupidez às custas de seus notáveis trabalhos de desenvolvimento de base", sugere o especialista.
Até hoje, a Índia já registrou mais de 24 milhões de infecções e mais de 266.000 mortes relacionadas à doença do novo coronavírus, com fatalidades diárias que atingem cerca de 4.000.