Vladimir Putin, presidente da Rússia, disse nesta quarta-feira (9) que pelo menos 50% dos ucranianos não desejam aderir à OTAN e tornar-se "bucha de canhão", e criticou Kiev por não aderir aos acordos de Minsk sobre o conflito militar na região de Donbass.
Em comentários à emissora Rossiya 24, ele referiu que "alguém deveria pensar" sobre como Moscou deveria reagir à expansão da OTAN até às fronteiras da Rússia, e sobre o que pode ser considerado uma "linha vermelha".
Se a Ucrânia se tornasse membro da Aliança Atlântica, observou Putin, o tempo de voo dos mísseis desde Kharkov ou Dnepropetrovsk até o território ocidental da Rússia seria inferior a sete-dez minutos.
"Isso é uma linha vermelha para nós ou não?", questionou o presidente da Rússia.
O líder russo deu ainda como exemplo uma colocação hipotética de mísseis em Cuba pela Rússia, que reduziria seu tempo de voo em direção a Washington, EUA, alcançando território norte-americano em até 15 minutos, e também um destacamento no norte do México ou sul do Canadá. Nesses casos, a distância até a capital norte-americana seria percorrida pelos mísseis em sete-dez minutos.
"Isso é uma linha vermelha para os EUA ou não?", perguntou Putin.
Relações OTAN-Rússia
Segundo o presidente russo, os interesses de Moscou foram ignorados durante a tomada de decisão da expansão da OTAN, apesar dos acordos atingidos anteriormente.
"O que isso diz? Que colocam seus interesses geopolíticos acima dos interesses de outras nações, independentemente mesmo da natureza das relações com esses países", disse Putin.
O presidente russo não concordou com a opinião de muitos veículos de imprensa na Rússia, que parecem não levar a sério a possibilidade de entrada de Kiev na Aliança Atlântica.
"Eu tenho uma opinião diferente. Eu já falei como aconteceu o alargamento da OTAN, e já disse que ninguém nos perguntou", e acrescentou que é muito possível que estejam sendo conduzidas discussões sobre o assunto, que pelo menos ninguém nega que estejam ocorrendo, e, portanto, não há garantias que isso não vá acontecer.
Russos na Ucrânia
Putin também abordou a questão dos russos étnicos no país vizinho, sublinhando ser incorreto falar dos russos como "não indígenas" na Ucrânia, e apontando não estar claro como "indígena" será definido.
"Falar dos russos como um povo não indígena não é apenas incorreto, é ridículo e estúpido. Não corresponde em nada à história", disse.
"Os bolcheviques, ao organizar a União Soviética, criaram, entre outras coisas, as repúblicas da União e a Ucrânia. Podemos lembrar que [...] o processo de reunificação deles com a Rússia começou em 1654 [...]. E então aquelas pessoas que viviam nesses territórios, que são, no linguajar de hoje, três regiões, [...] essas pessoas, consideradas e chamadas a si mesmas de russas e ortodoxas, estão todas nos documentos, todos esses documentos estão nos arquivos."
Ucrânia nos tempos recentes
A Ucrânia passou por uma Revolução Laranja em 2004, com a eleição do primeiro-ministro pró-ocidental Viktor Yuschenko no final daquele ano. Ele foi seguido pelo primeiro-ministro pró-russo Viktor Yanukovich em 2010, sendo reeleito em 2013.
No entanto, os eventos no final daquele ano e no início de 2014 levaram a um golpe de Estado e fuga do premiê, que foi seguido no cargo pelos pró-ocidentais Pyotr Poroshenko (2014-2019) e Vladimir Zelensky (desde 2019), e por um conflito militar no leste, com as autoproclamadas repúblicas populares de Donetsk e Lugansk.
A Ucrânia tem desde 2014 tentado integração com a União Europeia e o bloco ocidental, inclusive uma entrada na OTAN. Philip Reeker, secretário de Estado adjunto dos EUA para Assuntos Europeus e Eurasiáticos, disse em 30 de abril que Washington tem interesse no assunto, mas espera que Kiev cumpra as normas necessárias para isso acontecer.