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'Banidos acenos à Venezuela': como chapa com Alckmin impacta a diplomacia de eventual governo Lula?
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Se voltar ao Palácio do Planalto, Lula terá que lidar com a bipolaridade entre EUA e China. Como será a política externa de um eventual terceiro mandato do... 26.01.2022, Sputnik Brasil
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Em ano de eleições presidenciais no Brasil, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva lidera as intenções de votos e apresenta menor rejeição entre os candidatos. De acordo com as pesquisas dos institutos Quaest/Genial, XP/Ipespe e Exame/Ideia, Lula tem entre 41% e 45% das intenções de voto no primeiro turno, contra 23 a 24 pontos percentuais do atual presidente, Jair Bolsonaro.O desempenho de Lula leva grupos de interesse a não mais debaterem qual será o seu candidato, mas sim a disputar a formulação do programa de governo do petista em áreas como economia e defesa.Mas a política externa também é um campo em disputa, principalmente pela sua influência no ambiente de negócios e nas relações entre o Brasil e seu principal parceiro comercial, a China.Lula é afeito à política externa e gosta de recordar momentos de seu governo, como a participação do Brasil nas negociações do acordo nuclear iraniano, ou quando foi chamado pelo então presidente dos EUA, Barack Obama, de "o cara".Mas a política externa lulista também foi marcada por momentos polêmicos, como a aproximação comercial com a Venezuela e a garantia de asilo político ao italiano, acusado de terrorismo em sua terra natal, Cesare Battisti.Caso volte ao poder depois de mais de uma década, Lula vai apostar na reedição de uma política que considera bem-sucedida ou trará ideias novas para a arena internacional?De acordo com o Dawisson Belém Lopes, professor de política internacional e comparada na Universidade Federal de Minas Gerais e pesquisador sênior do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI), a política externa petista está fadada a se adaptar às novas configurações do sistema internacional."Quando o Lula assume, em 2003 [...] havia a crença de que o mundo estivesse se tornando mais multipolar. Uma crença, bem fundamentada em estatísticas, de que os países do Sul global estavam emergindo e haveria novos polos de poder, capazes de desafiar a hegemonia dos EUA", lembra Belém Lopes.O contexto atual, no entanto, é de crescente bipolaridade entre EUA e China, acredita o pesquisador.A boa notícia é que o Brasil tem experiência em lidar com cenários internacionais tensionados pela bipolaridade. Belém Lopes lembra que, durante a Segunda Guerra Mundial, o então presidente Getúlio Vargas aproveitou a posição estratégica do Brasil para realizar uma barganha entre EUA e Alemanha, obtendo vantagens de ambos países.''Uma possibilidade é trazer de volta esse modelo e o Brasil adotar uma política pendular'', apostou Belém Lopes. ''O custo de tomar um partido claro é muito alto.''Back to BahiaApesar da bipolaridade entre superpotências econômicas, a principal tarefa da nova política externa brasileira será reconstruir as relações com os seus vizinhos.Após anos de entusiasmo em relação a projetos de integração regionais, o Brasil de Bolsonaro se retirou de importantes iniciativas, como a CELAC e a UNASUL.Para Belém Lopes, "o Brasil deve reclamar para si um papel de maior liderança, de ajudar a região a empreender projetos regionais, mesmo que envolvam governos de esquerda e centro direita".Nesse sentido, uma eventual política externa lulista em 2023 fará uma "reedição do que vimos há quinze anos"."O Lula é beneficiado pelo fato de que [...] temos uma retomada da esquerda latino-americana, diferente: uma esquerda renovada, menos bolivariana, mais liberal, com uma mescla de agendas novas, de direitos civis e energia verde. Uma esquerda mais light, que compõe com o centro", resume o professor.Tucano vermelhoA composição com o centro poderá ser a tônica da política interna Luiz Inácio Lula da Silva. Ainda em pré-campanha, o petista aponta para uma chapa com seu ex-rival e ex-tucano Geraldo Alckmin.Apesar de ainda não estar consumada, em entrevista no dia 19 de janeiro Lula defendeu a aliança, dizendo que "da minha parte não existe nenhum problema em fazer aliança com Alckmin e ter ele de vice".Para Belém Lopes, a chapa com Alckmin "impõe certos limites para a diplomacia de um terceiro governo Lula".Segundo ele, o Itamaraty será fundamental para dirimir alguns "conflitos fáceis de se antecipar, como o entre a Secretaria de Relações Internacionais do Partido dos Trabalhadores (PT) [...] e a coalisão que se forma em torno do ex-presidente".Quem assina embaixo?Os anos desde a saída de Lula do Palácio do Planalto modificaram não só o sistema internacional, mas também a assessoria internacional do presidente.Belém Lopes lembra que alguns nomes de peso da política externa petista, como Marco Aurélio Garcia e Ana Maria Stuart, lamentavelmente já não estão entre nós. A Secretaria Internacional do partido, no entanto, conta com figuras relevantes, como Valter Pomar.Celso Amorim foi ministro de Lula durante seus dois mandatos, entre 2003 e 2010, e foi eleito o melhor chanceler do ano em 2009 pela revista norte-americana Foreign Policy.Quando perguntado se assumiria novamente a chefia do Itamaraty, em recente entrevista à agência de notícias Reuters, Amorim disse que "atravessaremos essa ponte quando chegarmos nela".Mesmo que Amorim não seja chanceler em 2023, a nomeação para o cargo deverá passar pelo seu crivo, acredita Belém Lopes.A nomeação do chanceler aponta que, de fato, a política externa de um eventual governo Lula será uma diplomacia pendular: oscilando entre ser uma reedição de si mesma e construir uma nova história.
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'Banidos acenos à Venezuela': como chapa com Alckmin impacta a diplomacia de eventual governo Lula?
12:06 26.01.2022 (atualizado: 13:18 26.01.2022) Se voltar ao Palácio do Planalto, Lula terá que lidar com a bipolaridade entre EUA e China. Como será a política externa de um eventual terceiro mandato do petista? E quem poderá comandar esse barco?
Em ano de eleições presidenciais no Brasil, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva lidera as intenções de votos e apresenta menor rejeição entre os candidatos. De acordo com as pesquisas dos institutos Quaest/Genial, XP/Ipespe e Exame/Ideia, Lula tem entre 41% e 45% das intenções de voto no primeiro turno, contra 23 a 24 pontos percentuais do atual presidente, Jair Bolsonaro.
O desempenho de Lula leva grupos de interesse a não mais debaterem qual será o seu candidato, mas sim a disputar a formulação do programa de governo do petista em áreas como economia e defesa.
Mas a política externa também é um campo em disputa, principalmente pela sua influência no ambiente de negócios e nas relações entre o Brasil e seu principal parceiro comercial, a China.
Lula é afeito à política externa e gosta de recordar momentos de seu governo, como a participação do Brasil nas negociações do acordo nuclear iraniano, ou quando foi chamado pelo então presidente dos EUA, Barack Obama, de "o cara".
Mas a política externa lulista também foi marcada por momentos polêmicos, como a aproximação comercial com a Venezuela e a garantia de asilo político ao italiano, acusado de terrorismo em sua terra natal, Cesare Battisti.
Caso volte ao poder depois de mais de uma década, Lula vai apostar na reedição de uma política que considera bem-sucedida ou trará ideias novas para a arena internacional?
De acordo com o Dawisson Belém Lopes, professor de política internacional e comparada na Universidade Federal de Minas Gerais e pesquisador sênior do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI), a política externa petista está fadada a se adaptar às novas configurações do sistema internacional.
"Quando o Lula assume, em 2003 [...] havia a crença de que o mundo estivesse se tornando mais multipolar. Uma crença, bem fundamentada em estatísticas, de que os países do Sul global estavam emergindo e haveria novos polos de poder, capazes de desafiar a hegemonia dos EUA", lembra Belém Lopes.
O contexto atual, no entanto, é de crescente bipolaridade entre EUA e China, acredita o pesquisador.
"O mundo bipolar dá menos margem de manobra. Num eventual governo Lula o Brasil vai formular sua política externa com maior constrangimento", acredita o pesquisador.
A boa notícia é que o Brasil tem experiência em lidar com cenários internacionais tensionados pela bipolaridade. Belém Lopes lembra que, durante a Segunda Guerra Mundial, o então presidente Getúlio Vargas aproveitou a posição estratégica do Brasil para realizar uma barganha entre EUA e Alemanha, obtendo vantagens de ambos países.
''Uma possibilidade é trazer de volta esse modelo e o Brasil adotar uma política pendular'', apostou Belém Lopes. ''O custo de tomar um partido claro é muito alto.''
Apesar da bipolaridade entre superpotências econômicas, a principal tarefa da nova política externa brasileira será reconstruir as relações com os seus vizinhos.
Após anos de entusiasmo em relação a projetos de integração regionais, o Brasil de Bolsonaro se retirou de importantes iniciativas, como a CELAC e a UNASUL.
Para Belém Lopes, "o Brasil deve reclamar para si um papel de maior liderança, de ajudar a região a empreender projetos regionais, mesmo que envolvam governos de esquerda e centro direita".
Nesse sentido, uma eventual política externa lulista em 2023 fará uma "reedição do que vimos há quinze anos".
"O Lula é beneficiado pelo fato de que [...] temos uma retomada da esquerda latino-americana, diferente: uma esquerda renovada, menos bolivariana, mais liberal, com uma mescla de agendas novas, de direitos civis e energia verde. Uma esquerda mais light, que compõe com o centro", resume o professor.
A composição com o centro poderá ser a tônica da política interna Luiz Inácio Lula da Silva. Ainda em pré-campanha, o petista aponta para uma chapa com seu ex-rival e ex-tucano Geraldo Alckmin.
Apesar de ainda não estar consumada, em entrevista no dia 19 de janeiro Lula defendeu a aliança, dizendo que "da minha parte não existe nenhum problema em fazer aliança com Alckmin e ter ele de vice".
Para Belém Lopes, a chapa com Alckmin "impõe certos limites para a diplomacia de um terceiro governo Lula".
"Na minha opinião, fica banida qualquer hipótese de que a diplomacia brasileira tenha conotações mais socialistas, de aproximação com países como Venezuela", declarou o professor. "Não dá para fazer acenos simpáticos ao [presidente da Nicarágua] Daniel Ortega, isso feriria de morte a turma que está junto no barco para eleger o Lula."
Segundo ele, o Itamaraty será fundamental para dirimir alguns "conflitos fáceis de se antecipar, como o entre a Secretaria de Relações Internacionais do Partido dos Trabalhadores (PT) [...] e a coalisão que se forma em torno do ex-presidente".
Os anos desde a saída de Lula do Palácio do Planalto modificaram não só o sistema internacional, mas também a assessoria internacional do presidente.
Belém Lopes lembra que alguns nomes de peso da política externa petista, como Marco Aurélio Garcia e Ana Maria Stuart, lamentavelmente já não estão entre nós. A Secretaria Internacional do partido, no entanto, conta com figuras relevantes, como Valter Pomar.
"Mas o alfa e ômega desse projeto é o Celso Amorim. Ele é quem está assinando os documentos e é a grande figura que assessora o Lula", assegura o especialista.
Celso Amorim foi ministro de Lula durante seus dois mandatos, entre 2003 e 2010, e foi eleito o melhor chanceler do ano em 2009 pela revista norte-americana Foreign Policy.
Quando perguntado se assumiria novamente a chefia do Itamaraty, em recente
entrevista à agência de notícias Reuters, Amorim disse que "atravessaremos essa ponte quando chegarmos nela".
Mesmo que Amorim não seja chanceler em 2023, a nomeação para o cargo deverá passar pelo seu crivo, acredita Belém Lopes.
"Ele pode indicar uma mulher e fazer história, porque nunca houve uma chanceler mulher no Brasil, nem uma ministra da Defesa, nem uma embaixadora em Washington", notou o especialista.
A nomeação do chanceler aponta que, de fato, a política externa de um eventual governo Lula será uma diplomacia pendular: oscilando entre ser uma reedição de si mesma e construir uma nova história.