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Por que o Brasil também sente os efeitos colaterais do conflito na Ucrânia?

© AP Photo / Nariman El-MoftySoldados ucranianos disparam durante exercício de treinamento, em local não revelado, perto de Lviv, no oeste da Ucrânia, em 29 de março de 2022.
Soldados ucranianos disparam durante exercício de treinamento, em local não revelado, perto de Lviv, no oeste da Ucrânia, em 29 de março de 2022. - Sputnik Brasil, 1920, 31.03.2022
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A Sputnik Brasil explica quais são os efeitos da crise ucraniana sobre os brasileiros. Além da alta dos preços de commodities, como combustíveis, o país é o maior importador de fertilizantes, vindos da Rússia e de Belarus, e sofrerá com uma eventual escassez de trigo importado da Argentina.
Quem já brincou de enfileirar as peças de um jogo de dominó e deu um empurrãozinho na primeira sabe o que ocorre com todas as outras, da segunda até a última.
Por mais que o Brasil esteja a 10.686 quilômetros da Ucrânia, em um mundo globalizado, com peças conectadas, o que ocorre por lá vai impactar aqui.
Em meio às tensões em território ucraniano, o mundo inteiro viu novas incertezas baterem à porta enquanto muitos países ainda buscavam a saída da crise econômica anterior, causada pela pandemia de COVID-19.
Não só o conflito em si, mas as sanções antirrussas promovidas pelo Ocidente vão — e já estão — produzindo efeitos econômicos em diversas nações do globo.
Isso porque a Rússia é a segunda maior exportadora de petróleo do mundo, atrás apenas dos Arábia Saudita.
Petróleo bruto, derivados e combustíveis fósseis, como gás natural e carvão, correspondem a 56,9% do total exportado pelo país e 11% das exportações mundiais desse segmento, segundo dados levantados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).
© REUTERS / Brendan McDermidÓleo sai de um jorro do poço original de Edwin Drake, de 1859, que lançou a indústria de petróleo moderna, no Drake Well Museum and Park, em Titusville, Pensilvânia, EUA, 5 de outubro de 2017.
Óleo jorra de um jorro do poço original de Edwin Drake, de 1859, que lançou a indústria de petróleo moderna no Drake Well Museum and Park em Titusville, Pensilvânia, EUA, 5 de outubro de 2017 - Sputnik Brasil, 1920, 29.03.2022
Óleo sai de um jorro do poço original de Edwin Drake, de 1859, que lançou a indústria de petróleo moderna, no Drake Well Museum and Park, em Titusville, Pensilvânia, EUA, 5 de outubro de 2017.
Entre outros produtos russos, o trigo aparece com 16% das exportações mundiais.
Com menor participação global, a Ucrânia exporta óleo de girassol, milho e trigo, que representam, respectivamente, 19%, 4% e 3% das exportações totais.
Embora não seja grande importador dessas commodities, o Brasil também é severamente impactado pelas restrições aos produtos russos e ucranianos devido ao aumento da demanda dos importadores a outros países, segundo economistas consultados pela Sputnik Brasil.
O país pode não depender do trigo russo, mas importa o produto da Argentina: 76,4% das importações brasileiras vêm do país vizinho. Os especialistas explicam que o aumento da demanda em outros mercados pressiona a inflação e pode gerar escassez.
Além disso, Rússia e Belarus respondem por 30,5% das exportações de fertilizantes potássicos e o Brasil é o maior importador do produto e principal parceiro dos países.
© Foto / Pixabay / Johannes PlenisColheita de trigo (imagem referencial)
Colheita de trigo (imagem referencial) - Sputnik Brasil, 1920, 29.03.2022
Colheita de trigo (imagem referencial). Foto de arquivo

Brasil já sente os efeitos econômicos do conflito na Ucrânia?

Especialistas ouvidos pela reportagem afirmam que não só o Brasil, mas o mundo inteiro já está sendo impactado após pouco mais de um mês da crise ucraniana.
Segundo o economista e professor de Finanças do Insper Alexandre Chaia, a consequência mais imediata no bolso dos brasileiros até agora tem sido a alta no preço dos combustíveis.
Com o conflito na Ucrânia somado às sanções contra a Rússia, os recursos disponíveis em outras praças sofrem maior procura e ficam mais caros.
"Os preços das commodities de energia, como gás e petróleo, subiram porque a Rússia e a Ucrânia são grandes fornecedoras de petróleo, e a escassez vai impulsionar o consumo de outros mercados", afirmou Chaia.
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O economista e advogado especialista em Direito Tributário Gabriel Quintanilha ressalta que a alta do preço do petróleo impacta diretamente na inflação do país. Para ele, "há uma tendência de que fiquemos sob o jugo" das oscilações nesse setor.
No entanto, o especialista alerta que um "impacto muito relevante" para o Brasil será sobre as importações de insumos agrícolas, principalmente fertilizantes.
"Afetará inclusive o preço da carne, porque a produção de frangos e derivados depende dos fertilizantes. O governo precisará substituir essas importações para estabilizar nosso mercado", apontou Quintanilha.
O economista da FGV Mauro Rochlin afirma que um modelo de escoamento de produção majoritariamente rodoviário em um país continental agrava a situação brasileira, gerando "importante impacto final no preço dos produtos em geral".
"O conflito na Ucrânia, ao provocar escassez de alguns produtos, notadamente petróleo, trigo e milho, faz o preço dessas commodities aumentarem no mercado internacional, com consequências muito evidentes nos mercados locais", afirmou Rochlin.
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Como minimizar efeitos na economia nacional?

O economista Gabriel Quintanilha aponta um caminho para o Brasil mitigar os impactos externos na economia: reativar a indústria nacional.

"Na década de 1990, o país era praticamente autossuficiente na produção de fertilizantes. Com a perda industrial nos últimos anos, o Brasil sofreu profundamente esses prejuízos. Por isso é necessário retomar a produção em casa em substituição às importações", disse ele.

O economista Alexandre Chaia acredita ser difícil que a economia nacional sobreviva a uma nova crise do petróleo.

"Mesmo sendo autossuficiente em produção e refino de petróleo, o país teria que aumentar o preço para seguir a tendência mundial, pois a Petrobras é uma empresa privada de controle público", afirmou o professor do Insper.

Segundo Chaia, do ponto de vista estratégico, o que o Brasil precisa é seguir o mundo na reorganização de cadeias globais de produção. O especialista aponta que a pandemia e agora o conflito na Ucrânia deram esse indicativo de mudança.
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'Todo aumento de preço global impacta o preço local'

Para o professor de Finanças do Insper, o país precisará alterar seu atual modelo de importação de combustíveis para se adequar aos novos desafios e demandas mundiais.

"Vai acontecer, mas não deverá ser autossuficiente. Esse modelo já foi tentado pelos militares, e o Brasil ficou para trás. O mundo se expandiu", disse Chaia.

Segundo ele, a solução é montar uma cadeia de suprimentos de fornecedores diversificados para não ficar dependente de um único produtor.

"No caso de um choque, como agora, ou em uma pandemia, é inevitável que os preços subam. Então, mesmo com produção 100% nacional, não faria sentido imaginar que o país estaria imune a situações globais", avaliou.

Mauro Rochlin, da FGV, afirma que, no modelo capitalista vigente, o governo não deve congelar preços a cada nova crise para socorrer a população. Segundo ele, políticas com objetivo de evitar os impactos do custo das commodities "são completamente ineficazes".
"Acabam até conseguindo algum controle no curto prazo, mas no médio e longo prazo trazem um custo maior ao consumidor", disse.
Na mesma linha, Chaia destaca que não teria lógica impor ao produtor a perda do lucro que ele teria vendendo com os preços do mercado internacional.
"Todo aumento de preço global impacta o preço local, porque o produtor brasileiro tem a oportunidade de vender fora", afirmou.
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