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Escuta revela que Planalto teria oferecido cargos pela morte de ex-PM ligado ao clã Bolsonaro

© Foto / Polícia Civil / ReproduçãoEx-PM Adriano da Nóbrega, assassinado na Bahia em fevereiro de 2020.
Ex-PM Adriano da Nóbrega, assassinado na Bahia em fevereiro de 2020. - Sputnik Brasil, 1920, 06.04.2022
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O Palácio do Planalto teria oferecido cargos em comissão em troca da morte do ex-capitão da Polícia Militar (PM) do Rio de Janeiro Adriano Magalhães da Nóbrega, segundo mostram escutas interceptadas pela Polícia Civil há dois anos.
Revelados nesta quarta-feira (6) pelo jornal Folha de S.Paulo, os áudios mostram uma das irmãs do ex-policial conversando com uma tia dois dias após a morte de Nóbrega, ocorrida em 9 de fevereiro de 2020, após um suposto confronto com a PM da Bahia, estado no qual o miliciano se foragira da Justiça desde o começo de 2019.
Segundo a publicação, Daniela Magalhães da Nóbrega diz à parente que Adriano soube de uma reunião envolvendo o nome dele no Palácio do Planalto e do desejo — que teria sido expresso nesse encontro — de que ele se tornasse um "arquivo morto".

"Ele já sabia da ordem que saiu para que ele fosse um arquivo morto. Ele já era um arquivo morto. Já tinham dado cargos comissionados no Planalto pela vida dele, já. Fizeram uma reunião com o nome do Adriano no Planalto. Entendeu, tia? Ele já sabia disso, já. Foi um complô mesmo", declarou ela, em gravação interceptada pela polícia e autorizada pela Justiça.

Acusado de comandar o Escritório do Crime, grupo de milicianos e assassinos de aluguel sediado em Rio das Pedras, bairro da Zona Oeste do Rio de Janeiro, Adriano era suspeito de envolvimento no esquema conhecido como "rachadinha" dentro do antigo gabinete do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) quando este era deputado estadual na Assembleia Legislativa fluminense.
A ex-mulher e a mãe de Adriano eram lotadas no gabinete. O Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) acusou ambas de serem funcionárias fantasmas do gabinete de Flávio. Segundo a promotoria, elas repassavam a maior parte do salário recebido a um esquema de corrupção cujo beneficiário era o filho do presidente Jair Bolsonaro (PL).
Além disso, o próprio Bolsonaro, então deputado federal, defendeu o miliciano no plenário da Câmara dos Deputados em 2005.
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A gravação revelada hoje (6) foi colhida durante a Operação Gárgula, do MPRJ, cujo objetivo foi monitorar os passos de Adriano depois que ele se tornou foragido, além de mapear o esquema de lavagem de dinheiro da organização criminosa que ele comandava.
A polícia grampeou parentes, amigos e comparsas do ex-PM por mais de um ano.

"Ele falou para mim que não ia se entregar porque iam matar ele lá dentro [do presídio]. Iam matar ele lá dentro. Ele já estava pensando em se entregar. Quando pegaram ele, tia, ele desistiu da vida", disse Daniela, dois dias depois da morte do irmão, à sua tia.

Após a informação de que cargos em comissão teriam sido distribuídos no Planalto em troca da morte do ex-capitão da PM ligado ao clã Bolsonaro, a tia (cujo nome não foi revelado pelas autoridades) faz um comentário com a outra irmã de Adriano, Tatiana. "Daniela sabe de muita coisa, hein?", palpitou.
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Mesmo com a fala da irmã, a postura de Bolsonaro foi elogiada por Tatiana, já que o próprio presidente levantou suspeitas pela morte de Adriano e pediu uma perícia independente no cadáver do ex-PM.

"Ele foi nos jornais e colocou a cara. Ele falou: 'Eu estou tomando as devidas providências para que seja feita uma nova perícia no corpo do Adriano'. Porque ele só se dirige a ele como Adriano, capitão Adriano", comentou.

Em seguida, ela imputou a morte do irmão ao ex-governador Wilson Witzel, que havia se tornado inimigo do clã Bolsonaro devido às investigações do caso Marielle Franco. Naquela altura, o presidente e seus filhos eram investigados por um possível ordenamento da execução do crime.

"Foi esse safado do Witzel que disse que, se pegasse, era para matar. Foi ele", acusou.

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A fala sobre o Planalto foi feita em conversa com uma tia dois dias depois da morte de Adriano, que estava supostamente em confronto com policiais militares no interior da Bahia. A família, na época, levantou a suspeita de "queima de arquivo", o que ainda não foi comprovado.
A proximidade entre o presidente Bolsonaro e o miliciano também foi registrada em outro áudio — do sargento da PM Luiz Carlos Felipe Martins, o Orelha, um dos gestores do patrimônio criminoso milionário de capitão Adriano.
Orelha foi assassinado a tiros na porta de casa em 20 de março de 2021, conforme a revista Veja revelou.
No áudio, Orelha comentou com um homem não identificado a amizade de Bolsonaro com Adriano.

"Ele falava para mim: 'Orelha, nunca vi isso. Estamos se f****** por ser amigo do presidente da República. P****, todo mundo queria uma p**** dessa. Sou amigo do presidente da República e tô me f******'. Morreu por causa disso", disse o sargento.

Até hoje, tanto a execução de Orelha como as circunstâncias da morte de Adriano, ocorrida um ano antes, não foram totalmente esclarecidas pelas autoridades.
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