Rússia sabe quem planejou a provocação em Bucha, diz Putin após encontro com Guterres da ONU
13:47 26.04.2022 (atualizado: 16:33 27.04.2022)
© AFP 2023 / Natalia KolesnikovaO presidente russo, Vladimir Putin, faz um discurso ao receber os atletas medalhistas da Rússia nos Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim 2022 e membros da equipe paralímpica do país no Kremlin, em Moscou, em 26 de abril de 2022
© AFP 2023 / Natalia Kolesnikova
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Moscou recebeu o chefe das Nações Unidas para encontro com o ministro das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, e com o líder russo, Vladimir Putin.
Nesta terça-feira (26), o secretário-geral da ONU, António Guterres, encontrou com o líder russo, Vladimir Putin, em Moscou. Durante a reunião, Putin disse ao chefe das Nações Unidas que a Rússia, como um dos países fundadores da ONU, sempre apoiou a organização.
"A Rússia, como um dos países fundadores das Nações Unidas e membro permanente do Conselho de Segurança, sempre apoiou essa organização universal. E acreditamos que ela não é apenas universal, mas única em seu tipo", afirmou.
O líder acrescentou que "não existe outra organização desse tipo na comunidade internacional", e ao mesmo tempo, expressou o desejo de continuar os diálogos com Kiev.
"Apesar do fato de que a operação militar está em andamento, ainda esperamos poder chegar a acordos também na via diplomática. Estamos mantendo conversas, não vamos desistir delas", disse Putin.
"Além disso, nos diálogos em Istambul [em 29 de março] [...] conseguimos alcançar um avanço bastante significativo, porque nossos colegas ucranianos não vincularam demandas por garantias de segurança internacional com questões como 'fronteiras internacionalmente reconhecidas da Ucrânia'. Crimeia, Sebastopol e as repúblicas de Donbass, reconhecidas pela Rússia, foram deixadas de fora, embora com algumas reservas", acrescentou.
O mandatário também declarou a Guterres que sabe de sua preocupação com a operação militar especial russa na Ucrânia, mas que todo o problema com Kiev surgiu após o golpe de 2014 no país, e que Moscou teve o direito de começar a operação em solo ucraniano para ajudar as repúblicas em Donbass.
"Todo o problema surgiu após o golpe de Estado ocorrido na Ucrânia em 2014. Este é um fato óbvio. Qualquer apego que se queira a quem o fez, mas este foi realmente um golpe inconstitucional."
O presidente acrescentou que "infelizmente para nós, ao longo de oito anos, as pessoas que viviam nestes territórios [Donbass] foram, em primeiro lugar, submetidas a um bloqueio, com as autoridades de Kiev dizendo publicamente e não se esquivando de dizer que estavam organizando um bloqueio desses territórios [...]. E eles continuaram a pressão militar. Nestas circunstâncias, depois que as autoridades em Kiev publicamente – e eu gostaria de enfatizar isso, disseram que não pretendiam realizar esses acordos de Minsk, fomos forçados – com o objetivo de parar o genocídio das pessoas que vivem nestes territórios, para reconhecê-los como Estados soberanos e independentes".
© Aleksei FilippovMinistro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov (à esquerda), e o secretário-geral da ONU, António Guterres, durante reunião em Moscou
Ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov (à esquerda), e o secretário-geral da ONU, António Guterres, durante reunião em Moscou
© Aleksei Filippov
Como consequência, "as Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk apelaram à Rússia por assistência em meio à agressão militar ucraniana, e Moscou foi forçada a responder com sua operação militar".
Segundo Putin, alguns acordos foram definidos, mas que "infelizmente, depois que esses acordos foram alcançados, e depois que Moscou deu passos para que as negociações continuassem, inclusive retirando tropas de áreas ao redor de Kiev e Chernigov, fomos recebidos com a provocação no assentamento de Bucha, que o Exército russo não tem nada a ver".
"Sabemos quem fez isso [em Bucha], sabemos quem planejou essa provocação, quais recursos e pessoas estavam envolvidas", destacou Putin. Consequentemente, disse ele, "a posição de nossos negociadores com a Ucrânia mudou radicalmente".
O presidente também reiterou que a entrada da Rússia em Donbass foi "uma medida forçada para interromper o sofrimento de habitantes de alguns territórios", mas que "infelizmente nossos colegas do Ocidente preferiram não notar tudo isso".
Por fim, Putin afimou a Guterres que a luta em Mariupol acabou e contou ao secretário-geral que ele foi "enganado" sobre inatividade dos corredores humanitários no local, uma vez que eles estão funcionando.
Do lado da ONU, o secretário-geral disse que a organização "entende o quão difícil é a situação em Mariupol [...], estamos dispostos a mobilizar plenamente recursos logísticos e humanos junto à Cruz Vermelha". Guterres também expressou sua preocupação com os incidentes na Transnístria, assim como com qualquer declaração que possa escalar a situação.
"Entendo que a Federação da Rússia tem várias queixas sobre o que está acontecendo na Ucrânia, bem como a segurança em toda a Europa. Nossa posição é que essas queixas precisam ser resolvidas usando vários instrumentos que existem sob a Carta da ONU. Acreditamos firmemente que a violação da integridade territorial de qualquer país contraria a Carta da ONU e estamos seriamente preocupados com o que está acontecendo. No entanto, vim a Moscou com uma posição pragmática. Estamos seriamente preocupados com a situação humanitária na Ucrânia. As Nações Unidas não são parte das negociações políticas", afirmou.
A autoridade disse a Putin que violar a integridade de um Estado soberano vai contra os princípios da ONU, mas que no entanto, a organização está disposta a fazer qualquer esforço para resolver a situação.