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Pedagoga: governos precisarão 'agir no atacado' para enfrentar desafios da educação no Brasil

© Folhapress / Rivaldo GomesSala de aula da Escola Estadual Antônio Vieira de Souza, em Guarulhos (SP)
Sala de aula da Escola Estadual Antônio Vieira de Souza, em Guarulhos (SP) - Sputnik Brasil, 1920, 12.07.2022
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Professora critica ações do governo que agravaram problemas já existentes na educação e destaca que, no pós-pandemia, os novos governos federal e estaduais precisarão "mudar a lógica do que nós fizemos até hoje" e "agir no atacado, nas diferentes áreas que impactam no processo formativo e de desenvolvimento dos estudantes".
A questão da educação no Brasil sempre foi um tema espinhoso. Inúmeros governos entraram e saíram do poder, sem que gargalos antigos, como a evasão escolar e a falta de infraestrutura nas escolas, fossem de fato resolvidos. Com o advento da pandemia, os problemas se agravaram. A evasão escolar entre crianças e adolescentes, por exemplo, cresceu 171% durante a pandemia, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua).
Sobre essas e outras questões que atuam como entraves para o avanço da educação, a Sputnik Brasil conversou com Catarina de Almeida Santos, professora da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (Unb).
Pedagoga e doutora em educação pela Universidade de São Paulo (USP), Catarina alerta que a pandemia, somada à má gestão do atual governo, fez o Brasil "retroceder na educação, em um momento em que já estávamos precisando avançar".

"A gente estava brigando, por exemplo, pela implementação do Custo Aluno-Qualidade [Inicial], que ia fazer com que todas as escolas tivessem as condições adequadas para o processo de ensino e aprendizagem, pela implementação das metas do Plano Nacional da Educação. E a gente paralisou tudo e retrocedeu. O governo atual cortou verbas da Educação, piorou a condição das escolas", explica a professora.

Ela destaca que os problemas na educação são históricos no Brasil, mas foram potencializados "a ponto de o país aprovar uma emenda à Constituição para não punir quem não aplicou os recursos mínimos na Educação, em um período em que a gente deveria extrapolar os recursos mínimos, que foi durante a pandemia". Segundo Santos, um erro grave foi não ter possibilitado às crianças, jovens e adolescentes "as condições mínimas que eles tinham dentro das escolas para que ficassem em casa estudando".
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A especialista afirma que o ensino remoto "certamente não foi o melhor dos mundos, mas era a saída que nós tínhamos para oferecer".

"Não foi uma opção, foi uma condição imposta pela pandemia. O erro foi o Estado brasileiro não ter garantido a todos os estudantes as condições necessárias para que se desenvolvessem no ensino remoto, dispositivos para o acesso à Internet."

Catarina também destaca que o bom desenvolvimento do ensino e aprendizagem não é restrito à sala de aula: ele abrange toda a realidade do estudante. Ela aponta que para um bom desenvolvimento é necessário garantir que crianças, jovens e adolescentes tenham garantido o acesso à saúde, à alimentação, à segurança e a um ambiente familiar que possibilite boas condições para que se dediquem ao estudo.
"A educação não se desenvolve sozinha. Se a gente não garante essas condições de vida à população, não dá para imaginar que os sujeitos vão aprender com fome, doentes, com insegurança, sem ter onde morar, morando nas ruas", sublinha.
Questionada sobre o salto na evasão escolar, a professora explica que, com a COVID-19, os fatores já colocados, como a falta de equipamentos, infraestrutura e acompanhamento, se somaram às perdas geradas pela pandemia. "Tudo isso fez com que muitos estudantes não permanecessem na escola. Com outros sequer a escola conseguiu ter contato."
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Ela diz que para reverter esse quadro de evasão são necessárias ações e políticas públicas para trazer o estudante de volta à sala de aula.
"A gente precisa ter um processo sério de busca ativa, fazer campanhas, fazer o recenseamento da população, ver quem está em idade escolar obrigatória que está fora da escola", explica Catarina. Porém ela ressalta que "trazer apenas de volta não basta. É preciso eliminar as barreiras que fizeram com que esses estudantes saíssem da escola".

"Se a gente traz de volta para a escola, mas eles continuam com os mesmos problemas, eles vão sair da escola novamente. É preciso resolver o que fez com que o estudante saísse da escola. Se a gente não resolver, não adianta trazer, porque ele vai evadir de novo", diz Catarina.

De acordo com a especialista, é preciso verificar se os estudantes "estão em condição de violência, de vulnerabilidade, de trabalho infantil, em condição de fome". Ela também destaca que "é preciso fazer com que a escola seja um espaço estimulante, que permita que os alunos façam experimentos e tenham uma aprendizagem mais criativa".
Também é necessário estimular o estudante para que ele se sinta bem frequentando a escola. "É preciso garantir condições de que ele aprenda, que não fique na escola passando de ano, sem aprender. Porque isso desestimula o estudante, faz com que ele se desmotive e entenda que aquilo não faz sentido para ele", explica Catarina.
Catarina afirma que "o impacto do processo de evasão é cada vez mais distorção idade-série, cada vez mais adultos sem concluir a educação básica". E "isso traz prejuízo para o desenvolvimento dos sujeitos, da sociedade, do país, da ciência, da tecnologia, da vida. Isso traz impactos em todos os aspectos, já que a educação é parte constitutiva da nossa vida, da produção do país, do nosso desenvolvimento", diz Catarina.
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Para lidar com esse desafio, a pedagoga acredita que os próximos governos federal e estaduais, uma vez que também haverá eleições para governador neste ano, vão precisar "agir no atacado, nas diferentes áreas que impactam no processo formativo e de desenvolvimento dos estudantes".
"Isso significa que a gente precisa olhar as questões diretamente vinculadas à escola, e aquilo que está fora da escola, mas que impacta no trabalho que a escola vai desenvolver."
"Qualquer governo que assuma o país, no âmbito nacional, mas também nos estados, terá de se comprometer em devolver, inclusive, a perspectiva de futuro para os estudantes", afirma Catarina, acrescentando que é preciso acabar com as turmas superlotadas e garantir infraestrutura nas escolas. "A gente precisa mudar a lógica do que nós fizemos até hoje."
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