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Ausência de Bolsonaro não será maior dos problemas da Cúpula do Mercosul, diz pesquisador

© Foto / CC BY 2.0 / Palácio do Planalto / Clauber CaetanoPresidente brasileiro, Jair Bolsonaro (à esquerda), e ministro das Relações Exteriores do Brasil, Carlos França, na LIX Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul e Estados Associados, em 17 de dezembro de 2021 (foto de arquivo)
Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro (à esquerda), e ministro das Relações Exteriores do Brasil, Carlos França, na LIX Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul e Estados Associados, em 17 de dezembro de 2021 (foto de arquivo) - Sputnik Brasil, 1920, 21.07.2022
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Depois de dois anos de eventos à distância em razão da pandemia de COVID-19, a Cúpula do Mercosul será realizada nesta quinta-feira (21) em Assunção, no Paraguai. Apesar da ausência do presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, o evento conta com a presença da maioria dos chefes de Estado e de governo dos países-membros e associados do bloco.
O principal debate da 60ª Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul e Estados Associados é a flexibilização de regras relativas a acordos comerciais com países de fora do Mercosul. Em especial, trava-se um embate em torno do tratado de livre-comércio (TLC) articulado pelo Uruguai com a China. As negociações, já avançadas, têm gerado tensões que colocam em xeque a própria manutenção do bloco e estão entre as motivações para a ausência do presidente brasileiro no evento. Por outro lado, deve ser formalizado um acordo com Cingapura.
Bolsonaro anunciou na segunda-feira (18) que não participaria do encontro. Com menos de 80 dias para as eleições gerais de 2022, em outubro, o presidente afirmou que tem problemas para resolver no Brasil e, por isso, não poderia ir a Assunção.
Além do presidente paraguaio, anfitrião, estão confirmados os presidentes de Argentina, Uruguai, Bolívia e Suriname e o primeiro-ministro da Guiana.
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Lucas Mesquita, coordenador do curso de relações internacionais da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), conversou com a Sputnik Brasil sobre as tensões que afetam a cúpula e disse que o Mercosul pode sair ainda mais enfraquecido desse encontro.
O pesquisador destaca que são dois os principais conflitos que afetam a cúpula: a tensão entre Uruguai e Argentina em razão do acordo proposto pelos uruguaios com a China e as questões políticas internas de Brasil e Argentina.
Mesquita aponta que os governos dos dois maiores países do bloco passam por crises internas de reprovação, em decorrência principalmente dos efeitos negativos na economia. Nesse sentido, espera-se a redução da Tarifa Externa Comum, até mesmo como uma medida para frear o avanço inflacionário no Brasil.
Sobre o TLC articulado pelos uruguaios, o pesquisador disse que há questionamentos que podem impedir sua aprovação, principalmente por colocar a China em outro patamar na América do Sul. Um outro fator que pesa é o fato de o Paraguai não ter relações diplomáticas com a China, mas ter com Taiwan.
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"O TLC com a China passa por alguns questionamentos internos ao bloco. Primeiro porque coloca em um outro patamar a inserção da China nas economias dos países-membros. Segundo [por] uma intensidade muito maior por parte do governo uruguaio em adotar o acordo, principalmente quando observamos a política argentina para o bloco e a política paraguaia para os chineses. Há inclusive uma propensão maior dos membros de caminharem para o anúncio do acordo com Cingapura, inclusive com maior prioridade, seja pelo fato de as negociações com a China estarem fora das atuais regras do bloco enquanto com o outro país asiático passam pelas normas do bloco, seja porque reduz os tensionamentos com argentinos e paraguaios", afirma.
Diante dessas questões, a ausência de Bolsonaro acaba não sendo o maior dos problemas e, para o pesquisador, só reflete a política adotada pelo governo brasileiro no último período.

"A não participação do Brasil na cúpula, no meu entender, é reflexo e reforça a política adotada pelo governo Bolsonaro com relação à integração regional, em especial ao Mercosul. Nas últimas cúpulas a participação do Brasil já foi bem reduzida e extremamente protocolar. Não se avançou em agendas efetivas da integração regional, pelo contrário. Nesse sentido, a ausência é só mais um reflexo dessa agenda do governo de desintegração regional", disse Mesquita.

Essa ausência foi bastante criticada pelo senador Humberto Costa (PT-PE), presidente da Comissão de Direitos Humanos do Senado Federal, membro da Comissão de Relações Exteriores e integrante do Parlamento do Mercosul (Parlasul).

"É lamentável que, na primeira cúpula realizada desde a pandemia, o Brasil não se faça representar. Somos o maior país do bloco e não estaremos lá porque o presidente da República cancelou a sua participação. Isso só demonstra o quanto Bolsonaro está isolado do ponto de vista continental e também internacional", criticou Costa.

"Talvez, para os demais presidentes do Mercosul e Estados associados, seja um alívio não ter de dividir a mesa com alguém da estatura política de Bolsonaro. Mas o isolamento é dele, não é do Brasil. E vamos provar isso quando Lula vencer as próximas eleições. Nosso país retomará os diálogos e refará as pontes democráticas com os nossos vizinhos e com o resto do mundo, rompidas por esse governo de caráter fascista", completou o senador.
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Apesar de os debates acalorados sobre o acordo com a China afetarem a unidade do bloco, Mesquita acredita que não há risco de rompimento.
"O Mercosul, sem sombra de dúvidas, se enfraquece ainda mais, mas creio que não seja o caso de rompimento. Embora muito enfraquecido e com vários questionamentos internos, a interdependência econômica e política que o bloco possui, principalmente para grupos econômicos internos dos países, é um elemento de manutenção", apontou.

"Um rompimento, no meu entendimento, é mais prejudicial para os grupos econômicos internos do que a permanência do bloco da forma que ele se encontra. Entendo que é melhor buscar a acomodação de forças dissonantes do que romper com o bloco e gerar crises econômicas", finalizou.

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