Alemães criticam discurso de energia de Scholz e afirmam que nação está 'no caminho para a pobreza'
© AP Photo / Markus SchreiberO chanceler alemão, Olaf Scholz, participa de reunião semanal de gabinete em Berlim, Alemanha, 6 de julho de 2022
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O Ministério das Finanças da Alemanha informou em agosto que os preços da energia aumentaram 105% em 2022 em relação ao ano anterior, graças aos aumentos nas tarifas de gás natural e eletricidade. No início deste mês, o Instituto de Pesquisa Econômica, disse que espera que o país entre "em uma recessão de inverno" devido à crise de energia.
Os alemães não estão acreditando nas promessas do chanceler Olaf Scholz sobre alívio de energia para famílias de baixa renda e indústrias de uso intensivo de energia.
"A máquina legislativa começou a se agitar e organizará o apoio necessário muito, muito rapidamente", disse Scholz em vídeo endereçado à nação postado em sua conta oficial no Twitter no sábado (24). "Os preços [de eletricidade, aquecimento e gás] estão altos demais e devem cair", acrescentou.
Culpando pelos problemas econômicos da Alemanha a "guerra de Putin", Scholz assegurou que Berlim já tomou medidas para garantir o fornecimento adequado de carvão, petróleo e gás, bem como eletricidade, no inverno que se aproxima no Hemisfério Norte. "Nós vamos passar [por essa situação difícil]", prometeu ele, instando o país a "resolver essas tarefas juntos".
Os seguidores de Scholz no Twitter expressaram ceticismo, inundando a seção de comentários sob sua postagem com frases como "renuncia, por favor" e questionando por que as pessoas comuns deveriam pagar o preço pelas políticas de seu governo. "O que você quer dizer com 'resolver isso juntos?' Você nos colocou nessa porcaria em primeiro lugar", reclamou uma pessoa. "E é por isso que você interrompeu 10% da produção de energia nuclear, plano inteligente!", escreveu outra.
"As questões que você está listando são decisões políticas que você tomou. Não ter coragem de defender essas decisões, mas apresentar tudo como uma espécie de evento natural ou algo que não tem alternativa porque 'Putin é mau' é hipocrisia", argumentou um usuário. "Se você não colocar os tetos de preços de gás e eletricidade nos próximos dias, empresas e indivíduos estarão falidos por esta altura no próximo ano", alertou outro. "O fraco chanceler nunca se atreveu a dizer 'não' aos Estados Unidos e à Ucrânia diante das enormes contas para o público!", reclamou outra pessoa. "Com todo o respeito, senhor chanceler [...] A loja está queimando agora, não graças a Putin, mas à sua própria política", ironizou alguém.
O tópico acabou se convertendo em um debate sobre a Ucrânia, com alguns usuários pedindo a Berlim que entregasse imediatamente tanques pesados e veículos blindados para Kiev, enquanto outros pediram a colegas comentaristas que parassem de espalhar "propaganda que levará ao fim de toda a Europa".
Os leitores do jornal alemão Welt também deram a Scholz sua opinião.
"A mesma pessoa que elevou os preços com sua política energética agora está exigindo preços mais baixos? Fico sem palavras com essas declarações!", escreveu uma pessoa. "Este governo tem apenas um ano e estamos no caminho da pobreza. Conceitos inteiros de vida estão se desfazendo em pó. Para quem e para quê?", perguntou outro usuário. "No começo ele aumentou os preços com sanções inúteis, e agora está exigindo que sejam reduzidos", disse um terceiro.
Berlim tem procurado fontes alternativas de energia depois que as sanções ocidentais e as restrições ao petróleo, gás, carvão e eletricidade russos deixaram a Alemanha e a maior parte da Europa diante de uma grave escassez. O chanceler viajou para a Arábia Saudita, Catar e Emirados Árabes Unidos no fim de semana na esperança de garantir novos contratos de petróleo e gás. No entanto, o jornal pan-árabe Al-Arab, com sede em Londres, informou neste domingo (25) que a ausência do tópico da energia no resumo oficial das conversas de Scholz no sábado com o príncipe herdeiro saudita Mohammed bin Salman pode significar que não há resultados tangíveis a serem relatados.
A Alemanha, a principal potência econômica e industrial da Europa, foi particularmente atingida pela repercussão da "guerra híbrida" econômica do Ocidente com a Rússia, com as fundições de alumínio, aço e zinco do país forçadas a cortar a produção ou fechar e outras indústrias intensivas, como fabricantes de fertilizantes e produtores de alimentos frescos e congelados, alertando sobre a escassez de alimentos, a menos que medidas urgentes de apoio sejam implementadas imediatamente.
Welt informou no domingo que três dos 16 estados federais da Alemanha querem que o país seja dividido em zonas de preços de energia em meio a alegações de autoridades nos estados do norte de que o governo do estado da Baviera estaria "sabotando" a expansão das redes elétricas e da energia eólica e passando os custos elevados da energia para outras regiões.
Em entrevista ao Funke Mediengruppe na sexta-feira (23), o primeiro-ministro da Saxônia, Michael Kretschmer, instou o governo federal a fazer todo o possível para encerrar a crise de segurança na Ucrânia por meio de negociações e reiniciar a cooperação econômica com a Rússia o mais rápido possível.