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Eleições 2022
Notícias e análises sobre as eleições gerais no Brasil em 2022. Acompanhe aqui todos os destaques envolvendo a acirrada disputa pela preferência do eleitorado brasileiro.

Doações privadas nas eleições 2022: por que eleitorado 'abraça' candidatos com mais recursos?

© Folhapress / Ton Molina / FotoarenaUrna eletrônica durante treinamento de votação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em Brasília, em 5 de setembro de 2022 (foto de arquivo)
Urna eletrônica durante treinamento de votação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em Brasília, em 5 de setembro de 2022 (foto de arquivo) - Sputnik Brasil, 1920, 29.09.2022
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A Sputnik Brasil explica o funcionamento e os impactos das contribuições privadas às campanhas neste ano. Empresários do agronegócio lideram apoio financeiro ao presidente Bolsonaro, ao passo que o setor cultural é o que mais ajudou o ex-presidente Lula.
Não é nada comum um eleitor definir seu voto por descobrir que um candidato é o que dispõe do maior financiamento de campanha. Apesar disso, são justamente os partidos com as maiores verbas para as eleições que obtêm mais sucesso.
Segundo especialistas consultados pela Sputnik Brasil, a eleição do presidente Jair Bolsonaro (PL) em 2018 foi um caso à parte na história política brasileira. Em geral, os eleitores confiam seus votos naqueles que mais se apresentaram e se comunicaram — seja por meio da campanha de rua ou por meios de comunicação — com o público no dia a dia.
Apesar de atualmente o fundo eleitoral ser o principal responsável pelo financiamento de campanha, as doações privadas, por pessoas físicas, ainda podem fazer a diferença.
Conforme levantamento do jornal O Globo, enquanto a coligação partidária de Bolsonaro é alavancada pelo agronegócio e pelo setor energético, a do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) recebeu mais apoio financeiro do segmento cultural e do varejo.
Apenas empresários do agronegócio, campo de sustentação do governo, injetaram R$ 8,4 milhões na campanha do presidente. No setor de energia, o montante foi de R$ 5,9 milhões.
Para Lula, empresários do ramo cultural doaram R$ 4,2 milhões, pouco mais que os do varejo, com R$ 3,6 milhões.
© AFP 2023 / Mauro Pimentel/ Miguel SchincariolO presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Lula
O presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) - Sputnik Brasil, 1920, 28.09.2022
O presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Lula. Foto de arquivo
Desde 2015, com a minirreforma eleitoral, empresas são proibidas de doar recursos diretamente a campanhas políticas. Outra reforma política, em 2017, criou o fundo eleitoral e limitou as doações de pessoas físicas, que agora devem ser proporcionais a no máximo 10% dos rendimentos brutos do doador no ano anterior à eleição.
O objetivo das mudanças, anunciado à época pela classe política, era prevenir a corrupção de representantes eleitos com a ajuda de doações de grandes empresas.
Então qual será o real peso das doações privadas para o resultado das eleições em 2022? E quais os maiores desafios das equipes de campanha para arrecadar e gerenciar esses recursos?
José Paulo Martins Júnior, cientista político e professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), afirma que apesar de as doações de pessoas físicas terem perdido o protagonismo, "é sempre um recurso adicional" para ajudar as campanhas.

"Como os doadores são multimilionários, podem doar um valor mais expressivo. Então tem um peso. A influência privada nas eleições diminuiu em relação a eleições anteriores, mas continua sendo importante, porque dinheiro em campanha nunca é demais", disse Martins Júnior à Sputnik Brasil.

De acordo com o especialista, existe uma associação entre o volume de recursos e o sucesso eleitoral. "Quanto mais dinheiro tem o candidato, mais provável é que ele ganhe a eleição", indica. Para ele, uma das principais utilizações do recurso financeiro na campanha eleitoral é levar a mensagem dos candidatos ao eleitorado com "múltiplas formas de comunicação".

"Ter dinheiro ajuda e colabora em fazer o candidato ficar presente na vida dos eleitores. Em geral, os eleitores são muito mal informados sobre a política. Em um momento eleitoral, o nível de informação disponível sobre os candidatos aumenta, é mais fácil estar informado, mas muitos eleitores não buscam essa informação", afirma.

© AP Photo / Eraldo PeresEm Brasília, mulher com bebê nos braços vota em urna eletrônica, durante as eleições gerais no Brasil, em 28 de outubro de 2018
Em Brasília, mulher com bebê nos braços vota em urna eletrônica, durante as eleições gerais no Brasil, em 28 de outubro de 2018 - Sputnik Brasil, 1920, 28.09.2022
Em Brasília, mulher com bebê nos braços vota em urna eletrônica, durante as eleições gerais no Brasil, em 28 de outubro de 2018. Foto de arquivo
Por isso, segundo ele, ter mais recursos financeiros ajuda as candidaturas a irem atrás do eleitor, tornando-as mais visíveis, "de tal forma que o eleitorado possa abraçar os candidatos".
Para a cientista política Mayra Goulart, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), as reformas eleitorais reduziram a influência das elites econômicas no processo político. Por outro lado, continua reforçando o poder dos maiores partidos e dificultando o crescimento dos menores.
Isso porque, com o fundo eleitoral, o montante é distribuído conforme representação dos partidos no parlamento, ficando com mais acesso aqueles com mais deputados.

"Os maiores ficam maiores e os menores tendem a continuar menores, pois não vão ter dinheiro para suas campanhas", explica a especialista, em entrevista à Sputnik Brasil.

Isso torna a eleição para Câmara dos Deputados "a mais importante", aponta, já que define o acesso a "verbas vitais para o financiamento cotidiano dos partidos e de campanha".

"O que as campanhas têm feito é incentivar a doação por parte de pessoas físicas, militantes de maneira geral, simpatizantes, e também de pessoas com mais poder financeiro. Com o teto de até 10% da renda, muitos estão caçando doadores com pujança econômica suficiente para fazer a diferença", disse.

Adolescente mostra o título de eleitor na tela do celular. - Sputnik Brasil, 1920, 04.05.2022
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Qual vai ser o impacto do voto dos eleitores de 16 e 17 anos nas eleições de outubro?
As grandes doações, porém, "não são feitas por puro altruísmo", lembra Martins Júnior, da UFF. Segundo ele, essas pessoas, geralmente empresários, sejam do agronegócio ou do setor varejista, "têm interesse em prestigio e poder e em auferir rendas futuras a partir dessa doação".

"O dinheiro público é despesa dividida entre todos os brasileiros, não existe nenhum interesse particular que envolve esse montante. Já com relação à doação privada, sim, há interesse particular", afirma o cientista político.

O pilar pragmático e o ideológico do apoio do agronegócio a Bolsonaro

Para Martins, o governo Bolsonaro representou "um excelente momento para o agronegócio". Apesar disso, ele não acredita que o setor tenha sido desprezado pelos governos do Partido dos Trabalhadores (PT).

"Este embate com o MST [Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra] é falso, fajuto, nunca existiram embates entre o MST e os grandes latifundiários", disse.

© AP Photo / Andre PennerAgronegócio brasileiro (foto referencial)
Agronegócio brasileiro (foto de arquivo) - Sputnik Brasil, 1920, 28.09.2022
Agronegócio brasileiro (foto referencial). Foto de arquivo
Goulart, da UFRJ, avalia que há dois fatores primordiais para o apoio do agronegócio à candidatura de Bolsonaro, um pragmático e outro ideológico.
Quanto ao primeiro, ela lembra que o governo afrouxou regulamentações ambientais, favorecendo uma parte do segmento com competitividade insuficiente para gerir seu negócio com base em todas as regulamentações ambientais.

"Favorece esse tipo de empresário. Por outro lado, desfavorece aqueles bem-sucedidos e competitivos e que têm no mercado externo sua principal fatia no negócio", disse a especialista.

Na dimensão ideológica, ela aponta que há "elos de identificação" entre os empresários do setor e o presidente.
"São homens com perfil conservador, que se identificam pessoalmente com a figura de Bolsonaro, com declarações e críticas aos movimentos sociais, que no imaginário desses empresários são os grandes inimigos. Com essa retórica, Bolsonaro agradou esses empresários", afirmou.
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