Alemanha vai acumular € 200 bilhões em empréstimos para compensar crise de energia
© AP Photo / Michael SohnBandeiras alemãs tremulam em frente ao edifício do Reichstag, sede do Parlamento Federal Alemão Bundestag, em Berlim, Alemanha
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Em meio à alta de preços da energia, a "superpotência industrial" Alemanha anunciou um programa maciço de ajuda governamental oferecendo "soluções sob medida" para superar a crise energética, já que vários ministros do governo alertaram sobre "revoltas populares" caso os custos disparassem fora de controle.
O governo alemão está se preparando para acumular € 200 bilhões (cerca de R$ 1,054 trilhão) em novas dívidas para compensar o impacto amargo da crise energética, informou a Bloomberg.
Um teto para o preço da gasolina foi anunciado pelo chanceler alemão, Olaf Scholz, para proteger as famílias e as empresas da disparada de preços. Sob a medida de salvaguarda econômica proposta, o Estado vai estabelecer um limite para os preços do gás e pagar a diferença entre esse teto e o que os importadores de gás pagam no mercado mundial.
"O governo alemão fará tudo o que estiver ao seu alcance para baixar os preços [da energia]. Estamos agora colocando um grande guarda-chuva defensivo [...] que dotaremos de € 200 bilhões", anunciou o chanceler Olaf Scholz em entrevista coletiva em Berlim na quarta-feira (28).
#Doppelwumms mit 200 Mrd. Euro Abwehrschirm: Wir senken die Energiepreise mit einer Strom- und #Gaspreisbremse und verzichten auf die #Gasumlage. Das machen wir für Rentner, Familien, Arbeitnehmerinnen, große Unternehmen genauso wie kleinere Betriebe. Niemand steht allein.
— Bundeskanzler Olaf Scholz (@Bundeskanzler) September 29, 2022
Os detalhes do teto de preço do gás vão ser elaborados por um grupo de especialistas, com recomendações a serem apresentadas em meados de outubro.
Anteriormente, o governo planejava compensar os fornecedores com uma taxa sobre as contas de gás dos consumidores, mas em meio a uma reação negativa ao aumento das contas de energia a proposta foi descartada.
Berlim pretende utilizar seu Fundo de Estabilização Econômica (WSF, na sigla em alemão) do período da pandemia de COVID-19, que expirou oficialmente no verão europeu e não faz parte do orçamento federal regular para financiar a fixação do preço do gás. Isso vai ajudar a evitar quebrar o "freio da dívida" da Alemanha — o limite constitucional para a captação da dívida.
"O fundo de estabilização econômica é um instrumento de crise que já provou seu valor na crise da COVID-19, como provou o resgate da Lufthansa", disse o porta-voz do orçamento do governo de coalizão, Dennis Rohde, do Partido Social Democrata (SPD, na sigla em alemão).
O ministro das Finanças, Christian Lindner, disse que a medida não deve alimentar mais inflação e insistiu que o fundo não implicaria mais empréstimos regulares.
"Queremos separar claramente os gastos de crise de nossa gestão orçamentária regular. Queremos enviar um sinal muito claro aos mercados de capitais: mesmo que agora usemos um guarda-chuva tão defensivo, a Alemanha manterá sua política fiscal orientada para a estabilidade e sustentabilidade", disse Lindner.
O governo também está considerando usar um imposto inesperado sobre os lucros das empresas de energia que não usam gás para gerar energia.
'Abordagem errada'
O plano do governo alemão de limitar os preços do gás foi criticado pelo Tribunal de Contas Federal na quinta-feira (29).
Em comentários enviados por e-mail ao Politico, o presidente do Tribunal de Contas Federal da Alemanha, Kay Scheller, expressou desaprovação da estratégia de colocar uma enorme quantidade de novas dívidas fora do orçamento regular.
"Quando o dinheiro é sacado de fundos especiais, o Estado tem que pedir emprestado. Em última análise, fundos especiais, mesmo que não sejam chamados assim, são dívida federal", advertiu Scheller.
O professor de política energética Lion Hirth, da Hertie School, em Berlim, também denunciou o teto de preço da gasolina como "exatamente a abordagem errada".
"A indústria reverteria todos os seus esforços para economizar e queimaria mais gás novamente, as instalações de armazenamento ficariam vazias e os políticos acabariam tendo que fechar empresas à força em grande escala. Ninguém pode querer isso", disse Hirth à Bloomberg.
29 de setembro 2022, 06:17
A inflação é uma grande preocupação na Alemanha, onde a taxa está atualmente em torno de 7,9%. De acordo com estimativas oficiais, a taxa de inflação deve ser de +10,0% em setembro de 2022 — a taxa mais alta em 70 anos.
Os preços da energia dispararam em meio à pressão de Bruxelas para "eliminar gradualmente" ou reduzir drasticamente as entregas russas de petróleo, gás e carvão para "punir" Moscou por sua operação militar especial na Ucrânia. Após o início da operação da Rússia em 24 de fevereiro de 2022, vários pacotes de sanções contra Moscou foram adotados pela União Europeia (UE), que o presidente russo, Vladimir Putin, caracterizou como "suicidas" por aumentarem os custos de energia.
Desde então, muitos governos da UE foram forçados a recorrer a medidas de contingência. O governo alemão tomou medidas para encher as instalações de armazenamento de gás antes do inverno (no Hemisfério Norte) e, para reduzir o consumo de gás, deu luz verde às usinas a carvão para operar novamente. No entanto, o regulador de rede da Alemanha, o Bundesnetzagentur, disse que o consumo de gás estava bem acima da média, aumentando 14,5% em comparação com a média de 2018-2021, segundo dados citados pela Bloomberg. O presidente da agência, Klaus Mueller, chamou os números de "muito preocupantes" na quarta-feira, acrescentando que sem economias consideráveis, também no setor privado, "será difícil evitar uma escassez de gás neste inverno".
Der private #Gasverbrauch lag letzte (kalten) Woche deutlich über dem Verbrauch der Vorjahre. Ohne erhebliche Einsparungen auch im privaten Bereich wird es schwer, eine #Gasmangellage im Winter zu vermeiden.
— Klaus Müller (@Klaus_Mueller) September 29, 2022
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