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Elon Musk e papa Francisco: Ucrânia tenta silenciar quem não compactua com demonização da Rússia

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Autoridades ucranianas se voltaram contra o empresário Elon Musk após apelos pela construção de diálogos de paz com a Rússia. O bilionário passou a ser atacado, da mesma forma que o papa Francisco, por se levantar contra o mainstream ocidental que demoniza a Rússia e vitimiza o regime da Ucrânia, segundo especialista ouvida pela Sputnik Brasil.
No início do mês, Aleksei Arestovich, conselheiro do chefe do gabinete de Vladimir Zelensky, chamou o empresário Elon Musk e o papa Francisco de "aborígenes" por eles darem ideias de como acabar com o conflito na Ucrânia de forma pacífica.
Segundo o ucraniano, as declarações do papa e do empresário norte-americano indicam que essa visão do conflito na Ucrânia está se espalhando pelo Ocidente, se tornando inclusive uma tendência. "Bom, vamos esmagá-la também", disse Arestovich.
O diplomata ucraniano Andrei Melnik, ex-embaixador na Alemanha, reagiu com xingamentos: "F***-se, esta é a minha resposta muito diplomática para você, Elon Musk. O único resultado será que nenhum ucraniano NUNCA comprará sua porcaria da Tesla".
O plano de paz proposto por Musk incluiria garantias de abastecimento de água à Crimeia, bem como a organização de referendos supervisionados pela Organização das Nações Unidas (ONU) nas regiões que pretendessem aderir à Federação da Rússia.
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Após as críticas de autoridades ucranianas contra esse plano de paz, Musk, que fornecia Internet gratuitamente à Ucrânia diante do conflito com a Rússia, disse que não conseguiria manter os serviços da SpaceX sem financiamento. Na segunda-feira (17), o Pentágono confirmou que poderá pagar pela Internet do dono da Tesla.
Para a socióloga Ana Prestes, doutora em ciência política pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), essa virada de Musk se dá porque "as pessoas são levadas à reflexão de que não há um efetivo esforço de buscar saídas dialogadas e negociadas para um cessar-fogo". A especialista acredita que Musk, assim como o papa, "tenta se posicionar como um ponto de mediação entre os dois polos" do conflito.

"Quando olhamos para todas as tentativas de estabelecimento de mesas de negociação, o cenário é desolador", avalia a socióloga.

Outro alvo dos ucranianos é o papa Francisco, que desde o início adotou uma postura crítica à visão ocidental do conflito, culpando as ações da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) próximo das fronteiras russas pela operação especial da Rússia e criticando o fornecimento de armas à Ucrânia.
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Apesar de ter se posicionado contra o presidente da Rússia, Vladimir Putin, pela integração dos territórios libertados de Lugansk, Donetsk, Kherson e Zaporozhie ao país, o pontífice cobrou de Zelensky que ele esteja "aberto a sérias propostas de paz".

"As posturas do papa incomodam porque contradizem a narrativa mainstream ucraniana, que corresponde aos interesses de seus apoiadores do Ocidente, EUA e União Europeia, de que não podem 'fazer nada' para colocar fim à guerra", aponta Prestes, que enxerga que o pontífice tem se esforçado para ser um "mediador" em prol de um cessar-fogo e de negociações de paz.

"O papa acaba por transmitir o pensamento daqueles que fazem a leitura de uma relutância por parte do governo ucraniano em considerar o início de qualquer negociação de paz. Eles poderiam, por exemplo, pedir um cessar-fogo, com a proposta do início das negociações, mas nem esse gesto fazem. E é bom dizer que o papa não tem sido de modo algum unilateral nesse sentido, ele também faz apelos duros à Rússia e a Putin para um cessar-fogo e início imediato de negociações. Ele faz a denúncia da guerra como uma tragédia humanitária. Mas o papa não corrobora um pensamento de demonização russa e vitimização ucraniana pura e simplesmente, como o Ocidente deseja", avalia.

Negociações paralisadas

Prestes lembra que "quando tudo indicava que as negociações começariam a progredir, o então primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, fez uma visita surpresa à Ucrânia e demoveu Zelensky de prosseguir".
"Em maio, a entrada da Suécia e da Finlândia na OTAN fez se deteriorar ainda mais o ambiente de negociações, demonstrando uma vez mais a má vontade do Ocidente para um diálogo. Posteriormente, os EUA fizeram movimentos bruscos de apoio a Taiwan, o que também interferiu no ambiente internacional. Mas, curiosamente, uma voz americana, Henry Kissinger, foi quem fez uma das propostas mais plausíveis para o início dos acordos, ao sugerir que a Ucrânia reconhecesse o controle russo sobre a Crimeia e a região de Donbass para que o diálogo se iniciasse. Mas Zelensky rejeitou a proposta peremptoriamente. O presidente mexicano, [Andrés Manuel] López Obrador, também chegou a propor um comitê de diálogo, com sua participação, da Índia e do próprio papa, mas também não foi para frente", detalhou.
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"Diante de todo esse cenário, realmente surgem questões, como essa da preocupação ucraniana com o custo humano do conflito. Nas últimas semanas, o conflito se agravou com as explosões nos gasodutos Nord Stream 1 e 2, assim como na ponte de Kerch, na Crimeia. Não é possível que os apelos do papa, do Musk, do Kissinger, dos governos do México, da Turquia, da Índia e da China, com todas as profundas diferenças entre esses atores, continuem sem ressoar nas autoridades ucranianas", destaca.

Sem ilusões com Elon Musk

Sobre Musk, a socióloga destaca que não pode haver "ilusões" sobre o papel dele, apesar do aceno ao diálogo. Ela prega que "não haja ilusões com as intenções de Musk; assim como os capitalistas lucraram com a tragédia humanitária da pandemia, também aproveitam o cenário de guerra para enriquecer e tirar proveito. O imperialismo precisa das guerras para sobreviver".
"A postura dele também é reveladora de como funcionam os grandes capitalistas que se sentem acima dos Estados nacionais. São agentes paraestatais, mas que se consideram no mesmo nível de grandeza. Esse tipo de ação tem ainda mais ambiente quando existem Estados nacionais omissos e negligentes, como EUA e vários europeus, em buscar saídas dialogadas para o fim da guerra", destaca.
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