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Hipocrisia com o Brasil? UE suspende discurso 'verde' e agora faz 'economia de guerra' com carvão

© AP Photo / Martin MeissnerFábrica de produtos químicos da empresa Evonik, em Wesseling, perto de Colônia, na Alemanha, em 6 de abril de 2022
Fábrica de produtos químicos da empresa Evonik, em Wesseling, perto de Colônia, na Alemanha, em 6 de abril de 2022 - Sputnik Brasil, 1920, 19.10.2022
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A Sputnik Brasil conversou com especialistas em relações internacionais sobre a crise energética na Europa após o corte de fontes russas. Eles explicam o debate moral sobre o meio ambiente e o "desespero" europeu em um "cenário de beligerância" fomentado pelos EUA.
Mesmo cientes dos impactos econômicos que sofreriam, os países europeus, sob a liderança dos Estados Unidos, optaram pela escalada das sanções contra a Rússia em resposta à operação militar especial na Ucrânia.
Agora, a dois meses do início do inverno, vivem uma crise energética e recorrem a combustíveis fósseis, reativando usinas termelétricas a carvão para proteger a população na estação mais fria do ano.
Em uma guinada na política que previa o fim do uso do combustível fóssil no país até 2030, a Alemanha anunciou, em julho, o aumento da produção das usinas a carvão.
Em discurso, o chanceler alemão, Olaf Scholz, classificou a medida de necessária devido ao início da operação russa, mas prometeu que o país não perderá de vista o objetivo de abandonar por completo as fontes de energia poluentes.
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Segundo o professor de relações internacionais Christopher Mendonça, do Ibmec Belo Horizonte, a maioria dos países europeus "é extremamente dependente de matrizes energéticas poluentes".

"O carvão e os derivados do petróleo lideram a lista de fatores energéticos mais usados por ingleses, franceses e alemães. Embora haja um quantitativo importante em tecnologias limpas, ainda são insuficientes os esforços de substituição energética", indicou o especialista, em entrevista à Sputnik Brasil.

De acordo com dados da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês), a Rússia foi a maior exportadora de gás para o continente europeu em 2021, com cerca de 45% das importações do combustível da União Europeia (UE) e quase 40% do seu consumo total.
Mendonça lembra que o gás natural é responsável por uma parte considerável do aquecimento das casas na Europa. "Especialmente em momentos de frio intenso, não há alternativa ao uso desse insumo", diz o professor.
Para Charles Pennaforte, professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), as preocupações geopolíticas dos EUA em enfraquecer a Rússia, em meio ao conflito ucraniano, arrastaram a Europa para o caminho das sanções e proibições de fontes energéticas russas, apesar da grande dependência do continente.

"Logicamente a União Europeia não tem a menor capacidade de se sustentar no curto prazo sem os insumos da Rússia. Então os países europeus são obrigados a reativar a indústria de poluentes para tentar diminuir o impacto durante o inverno. O impacto já era esperado, mas as sanções à Rússia provocam um impacto muito mais efetivo e direto nos europeus do que nos russos", explicou Pennaforte à Sputnik Brasil.

Segundo o especialista, a volta da aposta em combustíveis fósseis pela Europa "é exatamente o desespero por não terem uma alternativa de curto prazo" ao gás russo.
O professor aponta que, ao contrário do discurso dos últimos anos da transição energética para fontes "verdes", a Europa agora promove uma "economia de guerra" ao recorrer ao pragmatismo das fontes mais viáveis após cortar o fornecimento de energias russas. E isso, argumenta, poderá ter impactos nocivos sobre o meio ambiente mais adiante.
"A hora agora é de se salvar de alguma maneira. A reativação do carvão, sem dúvida nenhuma, vai ser responsável por impactos sérios, principalmente no cenário ambiental do continente. Trata-se de um processo em que os EUA fomentam todo esse cenário de beligerância, de competição, em que os norte-americanos sentem menos [a crise] que a Europa", afirma.
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'Europa foi epicentro inicial da degradação ambiental'

Enquanto recuam por necessidades urgentes, os países europeus vinham pressionando o Brasil e outros países emergentes a reduzir suas emissões de gás carbônico na atmosfera.
Pennaforte diz que havia uma "questão moral" por trás das acusações contra o Brasil. Ele lembra que de fato o país precisa ter atenção quanto ao desmatamento, em ritmo crescente nos últimos anos, mas afirma que o Brasil está longe de ser um dos responsáveis por poluir o meio ambiente com o uso de combustíveis fósseis.

"No Brasil, na questão ambiental, o mais importante é o desmatamento, não necessariamente a utilização de recursos fósseis, a não ser a questão da gasolina, por exemplo. Mas, no geral, o principal ponto de entrave para o Brasil é o desmatamento, seja para o plantio ou criação de gado. O Brasil, então, não colabora na questão da poluição ambiental exclusivamente com esses insumos fósseis", disse.

Já Mendonça, do Ibmec Belo Horizonte, afirma que o Brasil, embora ainda seja dependente de combustíveis de matriz poluente, tem desenvolvido a sua produção energética com base nas hidrelétricas e em alternativas eólicas e solares.

"A Europa foi o epicentro inicial da degradação ambiental. Não podemos nos esquecer que foi entre os europeus que a revolução industrial se fez presente. Os parques industriais e a agropecuária na Europa tiveram papel central na degradação ambiental do continente", recorda Mendonça.

Só ao longo dos últimos anos, após consolidarem seu desenvolvimento industrial, os europeus passaram a focar mais ativamente na questão ambiental, indica o professor de relações internacionais.
"Mesmo com a diminuição da preservação ambiental no Brasil nos últimos anos, ainda somos um dos países com melhores índices relativos ao meio ambiente", afirmou.
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