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Instabilidade no Reino Unido fortalece reivindicação das Malvinas, diz MRE da Argentina à Sputnik

© AP Photo / Natacha PisarenkoHomem segura bandeira da Argentina com mensagem dizendo "Voltaremos!", durante aniversário do conflito nas Ilhas Malvinas entre Reino Unido e Argentina
Homem segura bandeira da Argentina com mensagem dizendo Voltaremos!, durante aniversário do conflito nas Ilhas Malvinas entre Reino Unido e Argentina - Sputnik Brasil, 1920, 25.10.2022
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A divulgação de documentos que indicam que a Força Aérea Real (RAF, na sigla em inglês), do Reino Unido, planejou bombardeios no sul da Argentina durante a Guerra das Malvinas reacendeu o debate sobre a soberania das Ilhas Malvinas. Especialistas ouvidos pela Sputnik Brasil comentaram as possibilidades de avanço nas discussões sobre o tema.
Em entrevista exclusiva à Sputnik Brasil, o embaixador Guillermo Carmona, secretário de Malvinas, Antártica e Atlântico Sul do Ministério das Relações Exteriores da Argentina, disse que o país tem reiterado e intensificado a reivindicação das Ilhas Malvinas e têm conseguido importantes apoios.
Carmona destaca a decisão recente da Organização dos Estados Americanos (OEA) que pede que o Reino Unido dialogue com a Argentina sobre a questão das ilhas. O apelo, feito na 52ª Assembleia Geral da OEA, realizada entre os dias 5 e 7 deste mês, acompanha uma série de resoluções da Organização das Nações Unidas (ONU) — em especial de seu Comitê de Descolonização — em favor dos argentinos.

"Os avanços que a Argentina tem conquistado se produziram com os apoios contundentes que a maioria dos países do mundo expressou em favor do cumprimento das resoluções da ONU", declarou. "A reticência do Reino Unido é notória e implica em uma violação flagrante do direito internacional", aponta.

© Foto / Maria Eugenia Cerutti/Presidência da ArgentinaO presidente da Argentina, Alberto Fernández, abraça veterano das Malvinas durante cerimônia realizada no Museu das Malvinas, em Buenos Aires, em 2 de abril de 2022
O presidente da Argentina, Alberto Fernández, abraça veterano das Malvinas durante cerimônia realizada no Museu das Malvinas, em Buenos Aires, em 2 de abril de 2022 - Sputnik Brasil, 1920, 25.10.2022
O presidente da Argentina, Alberto Fernández, abraça veterano das Malvinas durante cerimônia realizada no Museu das Malvinas, em Buenos Aires, em 2 de abril de 2022
O diplomata, que avalia a situação das Malvinas como um caso especial de colonialismo, aponta que tem apoio de todos os países de América Latina e Caribe e de potências como China, Rússia e Índia, além de distintos foros internacionais, como o G77 + China, o Mercosul e a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC).

Crise no Reino Unido

Questionado pela Sputnik Brasil sobre o cenário de crise no Reino Unido, com as trocas sucessivas de primeiros-ministros e a mudança de reinado, Carmona acredita que a instabilidade britânica favorece as reivindicações argentinas.

"Para a Argentina é muito importante levar em conta o que acontece no contexto internacional para [reivindicar] o exercício pleno de soberania [sobre as Malvinas]. [...] O Reino Unido está vivendo uma série de comoções políticas que tem que ver com uma instabilidade política expressada pelo fracasso de sucessivos governos conservadores e também com a morte da rainha [...] e, principalmente, [está lidando com] os aspectos que têm a ver com as tensões que o Reino Unido mantém com a União Europeia. [...] Ao Reino Unido não resta outra alternativa a não ser seguir o direito internacional", afirma o embaixador.

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Para o historiador Fernando Castro, professor de história da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pesquisador do Programa de Estudos Americanos (PEA) da UFRJ, é muito difícil que o Reino Unido decida se sentar para dialogar com a Argentina, apesar das decisões contrárias e da possibilidade de incorrer em violação do direito internacional.

"O avanço dessa pauta é extremamente difícil porque não é considerado uma questão central no jogo internacional. Não é algo que mexa com grandes interesses ou gere grande instabilidade política. Por si só, isso já explica porque é um tema tão difícil de discussão", disse o historiador à Sputnik Brasil.

O analista acredita que a crise do Reino Unido não deve impactar no avanço da discussão porque não enxerga a Argentina com força suficiente para mobilizar a comunidade internacional para pressionar os britânicos, apesar de importantes apoios.
"Ainda que tenha a questão [do apoio] da China, vejo muito mais a China pensando no campo estratégico diplomático. A China vem construindo ao longo dos últimos anos um protagonismo estratégico, não apenas comercial. Isso faz a gente entender por que a China tem pleiteado que as reivindicações argentinas sejam ouvidas, rediscutidas."
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"Mas não vejo mudança, não está na pauta. Claro, tudo pode mudar. Mas nesse contexto, não vejo."

O especialista destaca ainda que os Estados Unidos não estão de fato apoiando a reivindicação dos argentinos, apesar de terem se colocado a favor da decisão da OEA que pede a retomada das discussões.

Novas revelações sobre a Guerra das Malvinas

Castro acredita que "a liberação de novos documentos [sobre a Guerra das Malvinas] gera novas narrativas e acende o debate", mas não enxerga "uma perspectiva favorável do campo da diplomacia para que essa temática se torne central". Foi revelado que os britânicos planejavam bombardear bases militares localizadas no sul da Argentina durante o conflito, em 1982.

"Para a Inglaterra, não há discussão. Para eles, as ilhas são britânicas, de população britânica — colocada lá no século XIX. Não é um ponto [de discussão] para a Inglaterra. Não é visto como um tema em aberto."

Sobre a guerra de 1982, Castro entende a investida militar argentina como um "delírio bélico" da ditadura da junta militar (1976–1983), na tentativa de promover a união nacional e a legitimação do regime. A Operação Rosário, lançada pelos militares em 2 de abril de 1982, acabou se desdobrando em uma guerra "rápida, fulminante e [na qual] a Argentina não tinha a menor condição de enfrentar a Inglaterra".
No conflito, 649 militares argentinos morreram, assim como 255 britânicos. Para o professor da UFRJ, "a guerra foi o principal fator responsável pelo fim do regime" em razão da "desmoralização" interna e externa que a derrota relâmpago gerou.
Questionado pela Sputnik Brasil sobre o conflito, o embaixador Guillermo Carmona disse acreditar que há ainda muita coisa a ser descoberta e lembra que no início deste ano revelou-se que os britânicos carregaram armas nucleares na área das Malvinas. Carmona, no entanto, ressalta que a atuação central da diplomacia argentina "está no respeito ao direito internacional".
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