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Vendas de Natal devem sair do negativo após 2 anos, mas combustíveis, IPCA e eleições ligam alerta

© Folhapress / Ronny SantosMovimentação de consumidores pela região da rua 25 de Março, em São Paulo, para compras de Natal, em 20 de outubro de 2021
Movimentação de consumidores pela região da rua 25 de Março, em São Paulo, para compras de Natal, em 20 de outubro de 2021 - Sputnik Brasil, 1920, 26.10.2022
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Em meio a estimativas positivas para o fim de 2022, especialista aponta tripé de condições para a manutenção das boas perspectivas econômicas: preços dos combustíveis reduzidos, inflação controlada e previsibilidade após as eleições presidenciais.
Após dois anos seguidos de queda do consumo em dezembro no país, devido aos impactos da pandemia, o Natal de 2022 deverá trazer boas notícias para a economia brasileira.
Segundo levantamento da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) divulgado nesta quarta-feira (26), a expectativa para este ano é de aumento de 2,1% nas vendas de Natal em comparação com o mesmo período de 2021. Nos dois últimos anos, houve retração no consumo de 2,7%, em 2020, e de 2,1%, em 2021.
Para suprir a reativação da demanda, a CNC estima a contratação de 109,4 mil trabalhadores temporários, a maior oferta desde o Natal de 2013, quando foram abertos 115,5 mil postos com as mesmas características.
Os maiores volumes de contratações deverão ocorrer nos ramos de hiper e supermercados, com 45,5 mil vagas, e de vestuário, com 25,9 mil ofertas, prevê o órgão.
"O segmento de hiper e supermercados, maior empregador do varejo, costuma se destacar no número absoluto de vagas ofertadas, enquanto as lojas de vestuário, acessórios e calçados são, historicamente, as mais positivamente afetadas pelas vendas natalinas", diz a CNC.
Segundo a confederação, o faturamento do varejo cresce, em média, 34% de novembro para dezembro. Já no segmento de vestuário, a alta geralmente é por volta de 90% no período.
Regionalmente, quatro estados brasileiros concentrarão mais da metade da oferta de vagas (54%). Serão eles: São Paulo (30,35 mil), Minas Gerais (12,24 mil), Paraná (8,9 mil) e Rio de Janeiro (8,07 mil).
© Foto / Tânia Rêgo/Agência BrasilSupermercado na Zona Sul do Rio de Janeiro
Supermercado na zona sul do Rio de Janeiro - Sputnik Brasil, 1920, 26.10.2022
Supermercado na Zona Sul do Rio de Janeiro. Foto de arquivo
Ulysses Reis, coordenador do Núcleo de Varejo da Fundação Getulio Vargas (FGV) no Rio de Janeiro, avalia que as boas perspectivas se tornaram viáveis com a redução do preço dos combustíveis, que "impacta direta e indiretamente em todas as áreas produtivas", como o transporte, impulsionado pelo crescimento de vendas on-line.
Outro fator fundamental que ajudará é a queda da inflação. Após seguidas altas até meados de 2022, o país agora chega ao terceiro mês de deflação, de julho a setembro, algo que não ocorria há 24 anos.
Em setembro, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou em -0,29%, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No ano, a inflação acumulada até setembro é de 4,09%.
De acordo com o levantamento da CNC, a desaceleração da inflação, em meio ao processo de encarecimento do crédito, "deverá impactar favoravelmente as vendas em segmentos menos dependentes da tomada de recursos por meio de empréstimos e financiamentos".
Por isso, para o Natal, a Confederação Nacional do Comércio estima que o ramo dos supermercados podem registrar alta de 4,8% nas vendas, já descontada a inflação.
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Por outro lado, os ramos de móveis e eletrodomésticos e de lojas de utilidades domésticas e eletroeletrônicos devem ter retrações de 0,1% e 3,4% em relação ao ano passado, respectivamente.
O coordenador da FGV lembra ainda de outro elemento importante que precisa ser colocado na balança: as eleições presidenciais, em 30 de outubro.

"As perspectivas só vão ser claras depois do dia 30, depois das eleições. Porque existe uma tendência no mercado de as pessoas estarem segurando decisões, esperando o que vai acontecer. Principalmente empresários", lembra Reis.

Segundo o especialista, as decisões dos empresários também vão impactar seus empregados e, consequentemente, consumidores.
"A partir do dia 1º de novembro, vamos ter uma visão muito mais clara do que pode acontecer e o quanto vão aumentar, provavelmente, as vendas desses dois últimos meses", afirmou Reis.
Por enquanto, parte dos consumidores ainda têm se mostrado cautelosos. Em meio às variáveis apontadas por especialistas e a dois meses do Natal, os brasileiros parecem ainda aguardar um gatilho mais concreto e seguro para ir às compras.
Em entrevista à Sputnik Brasil, Fernanda Soares, técnica de administração, admitiu que não está com muitas expectativas para o fim do ano. "Está tudo muito difícil, a economia muito apertada. Então a expectativa é não gastar".
Antonio Queiroz, de 71 anos, aposentado e trabalhando como panfletário, segue a mesma linha. Não pretende gastar, pois afirma que está com o orçamento apertado.
"Trabalho fazendo esse bico para completar minha renda, porque minha aposentadoria não dá, pago casa, aluguel, água, luz, telefone, Internet e tudo. Moro sozinho e quase não faço compras no comércio, o dinheiro não dá. Vamos ver se daqui para frente melhora alguma coisa", disse Queiroz à reportagem.
© Tânia Rego/Agência BrasilLoja de shopping no Brasil
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Loja de shopping no Brasil. Foto de arquivo
Por outro lado, Igor, estagiário de tecnologia da informação, e Eduardo, auxiliar de segurança das lojas Americanas, já estão mais otimistas e começaram a fazer planos para o fim de ano.
"Minha expectativa é conseguir comprar algumas coisas, tenho economias para poder utilizar e comprar o máximo de coisa que eu conseguir. As coisas subiram muito de preço, estão caras, mas a gente tenta economizar o máximo para sobrar alguma grana", contou Igor.
Eduardo, por sua vez, diz que vai "gastar com o essencial", mas admite que algumas compras podem "passar do limite e estourar o cartão".
"Na 'Black Friday' eu não vou gastar, pois trabalho no comércio e conheço a mecânica. Vou deixar para dezembro, para gastar com família e amigos. Acho que do 13º vou usar pelo menos uns 10%, já é o suficiente para fechar o ano. O restante vai para a poupança", afirmou.

Os pesos da 'Black Friday' e da Copa do Mundo

Além da chamada "Black Friday", que inaugura a temporada de promoções em novembro todos os anos, em 2022 também haverá uma Copa do Mundo no fim do ano, pela primeira vez na história.
Ulysses Reis, da FGV, acredita que a Black Friday deste ano terá um impacto importante de antecipação do movimento dos consumidores, mas minimiza o "efeito Copa" no varejo.
"A Black Friday vem todos os anos aumentando a sua cota de participação nas vendas de Natal. Ela já não é mais vista como a chamada 'black fraude', que foi dos anos 2011 a 2015 no Brasil, em que as pessoas compravam pela metade do dobro do preço. Isso passou", afirma.
© Foto / Rovena Rosa/Agência BrasilConsumidores buscam ofertas na Black Friday
Consumidores buscam ofertas na Black Friday - Sputnik Brasil, 1920, 26.10.2022
Consumidores buscam ofertas na Black Friday. Foto de arquivo
Ele explica que a data promocional se tornou mais confiável para os clientes devido à concorrência com outras datas de promoções internacionais e disponibilidade de ferramentas de acompanhamento de preços. "Os consumidores estão mais cuidadosos", diz.
Segundo ele, a tendência é o consumidor cada vez mais antecipar as compras natalinas. E esse comportamento "fortalece mais ainda a Black Friday".
"Com relação à Copa do Mundo, influencia muito pouco. Mesmo se a Copa fosse no Brasil, a influência sobre o varejo diretamente não seria tão forte. Porque as áreas do varejo que ela influenciaria seriam restaurantes, hotéis e transportes aéreos", explica o especialista.
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Ele aponta que poucas áreas do comércio arriscam vender produtos de Copa, já que "são extremamente sazonais". "Se eles não forem todos vendidos durante a Copa, vão encalhar e praticamente não vão ter valor nenhum", adverte.
"Os varejistas não arriscam, praticamente, nesses segmentos porque a chance de prejuízo é muito grande. É muito mais fácil encontrar esse tipo de venda no mercado informal, como camelôs. E é difícil de a gente avaliar realmente o quanto essas vendas crescem, porque é um mercado sem dados, informal", lembra Reis.
Já as festas de fim de ano, segundo o especialista, apesar de não terem o impacto do Natal, também ajudam a movimentar o fim de ano.

"Elas influenciam, na verdade, a partir do dia 22 de dezembro até 2 de janeiro e mexem principalmente com o mercado supermercadista, bebidas, perfumaria, vestuário. Mas não são vendas tão impactantes", disse.

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