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Goldfajn é 'soldado' liberal no BID, mas pode ter atuação estratégica para Lula, diz analista

© AP Photo / Jose Luis MaganaO economista Ilan Goldfajn durante evento do Fundo Monetário Internacional (FMI) em Washington, em 18 de abril de 2018
O economista Ilan Goldfajn durante evento do Fundo Monetário Internacional (FMI) em Washington, em 18 de abril de 2018 - Sputnik Brasil, 1920, 20.11.2022
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O economista brasileiro Ilan Goldfajn foi eleito neste domingo (20) o novo presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), por uma ampla margem. Indicado pelo governo Jair Bolsonaro (PL), o nome sofreu resistências de alas da equipe de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas, no fim, o novo governo acabou avalizando a candidatura.
Goldfajn atuou como presidente do Banco Central durante o governo de Michel Temer (MDB), que chegou ao poder após a derrubada da ex-presidenta Dilma Rousseff (PT) e foi indicado para a disputa do BID pelo atual ministro da Economia, Paulo Guedes.
Esse histórico e a conjuntura já dão elementos que mostram uma certa distância do novo presidente do BID para o governo Lula. A equipe do presidente eleito chegou a tentar adiar a votação por meio de uma solicitação feita pelo ex-ministro Guido Mantega. Diante da negativa e da pressão de aliados de direita e centro-direita, em especial o ex-ministro Henrique Meirelles, o futuro governo sinalizou que não tinha problemas com a escolha do economista para presidir o BID. Esse aval torna possível que haja alguma parceria? Qual deve ser a relação deles e quais frutos o Brasil pode colher?
Para o economista Fabio Castro, doutorando na Universidade Federal do ABC (UFABC) e pesquisador do Instituto Brasileiro de Estudos Contemporâneos (IBEC), o BID pode ser um instrumento importante para o Brasil, apesar de Goldfajn seguir a "cartilha" liberal e servir como um representante do mercado no banco de desenvolvimento. Castro destaca que a eleição do ex-presidente do Banco Central é "natural" por trazer justamente o perfil buscado pelos Estados Unidos, que têm o maior poder de voto da instituição.

"A escolha de Ilan Goldfajn, a meu ver, é bastante 'natural' para uma instituição como o BID. O BID é um banco multilateral com sede em Washington destinado a apoiar projetos de desenvolvimento em países da América Latina e do Caribe desde que se siga a cartilha das boas práticas liberais. Além disso, o peso das decisões pendem para os direcionamentos dos EUA, tendo em vista que o peso do voto dos norte-americanos é de 30% sobre o total. Portanto é um instrumento de disseminação dos interesses do norte, mas que, pelo modelo de dependência crônica a que estão submetidos os países do sul, exerce papel importante na economia dos países mais pobres."

Castro reforça que Goldfajn é um economista da tradição liberal — "um conservador desse modelo de sociedade" —, que ele foi considerado em 2018 o melhor "banqueiro central" do mundo e que atualmente ocupava uma cadeira importante no Fundo Monetário Internacional (FMI).

"Trata-se de um 'soldado' bastante experiente e leal à ideologia liberal e à escola ortodoxa da economia. Por isso seu nome já aparecia como prioridade para substituir o desastre trumpista que ocupou a presidência do BID. E apesar do disse me disse da equipe econômica do presidente eleito no Brasil, Lula, seu nome foi aprovado com mais de 80% das indicações da direção do BID."

O desastre trumpista ao qual o economista se refere foi a breve passagem de Mauricio Claver-Carone pela presidência do banco. O norte-americano foi demitido após ser acusado de favorecer uma funcionária com quem tinha relações.
Castro é reticente ao ser questionado sobre se essa eleição pode fortalecer o Brasil nos cenários internacional e regional, principalmente pela ampla coalizão que Lula precisou buscar para conseguir derrotar Jair Bolsonaro e que precisará manter para garantir governabilidade.

"O jogo de xadrez que está colocado para o governo Lula 3 tem uma dimensão aberta às surpresas, tendo em vista a frente amplíssima que se formou para derrotar Bolsonaro. Há muitos interesses antagônicos em jogo, e, nesse sentido, o presidente Lula terá que ter muita habilidade para equilibrar o país internamente a fim de possibilitar a retomada de um protagonismo regional e global do Brasil de outrora. Por outro lado, não é segredo para ninguém que o governo Lula promete um governo moderado, de conciliação nacional. Nesse sentido, Ilan Goldfajn pode somar para esta reconstrução do país, fortalecendo a posição do Brasil, desde que os regentes da economia nacional não queiram mudar demasiadamente os rumos da administração atual, de Paulo Guedes. [...] A presidência do BID é estratégica e pode ser usada como instrumento de disseminação de políticas que podem beneficiar o Brasil e a região."

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Apesar de ser uma indicação feita no governo Bolsonaro, o economista não enxerga a eleição de Goldfajn como uma vitória do presidente. Para Castro, o êxito é do ministro Paulo Guedes e do mercado financeiro.
"Guedes, que é um tradicional banqueiro, com essa vitória pressionou ainda mais o próximo governo a privilegiar os interesses do mercado, que em parte e com reticências apoiou a eleição de Lula. Evidentemente não se sabe ao certo se a indicação de Ilan Goldfajn tem origem na família Bolsonaro, mas tendo sua formalização sido feita poucos dias antes do segundo turno da eleição, é possível que seja pequena a influência. Por isso acredito que Guedes seja o interlocutor dessa jogada. Procurei e não encontrei referências da rede bolsonarista atenta a esse acontecimento", aponta.

"O atual ministro da Economia garantiu que os interesses do mercado tenham uma ferramenta a mais de poder para moderar o governo Lula 3. Uma ferramenta supranacional em que Lula não poderá interferir e que parte de seus aliados tem alinhamento", avalia.

Para Castro, Goldfajn como presidente do BID deve reforçar a ideia de responsabilidade fiscal para os países latino-americanos como contrapartida ao financiamento dos projetos de desenvolvimento. O economista entende que o banco deveria ter uma atuação mais presente para ajudar os países a enfrentarem as dificuldades do cenário internacional, com a inflação global e os impactos do conflito da Ucrânia. O alinhamento ou não de Lula com o novo presidente do BID é um fator importante nesta equação.

"No mundo ideal, o BID poderia incentivar o desenvolvimento regional como bloco, na ideia de integração para fortalecimento da autonomia dos países. Algo que historicamente não é o reflexo da atuação do BID. Mas, a depender da habilidade de Lula nas próximas jogadas neste tabuleiro, tendo em vista se tratar o Brasil de uma potência, a existência de ao menos um campo de diálogo direto com o BID pode ser um reforço para a atuação externa do país, que promete retomar a ideia de política externa ativa e altiva."

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