'Vitória da política': eleições de 2022 reverteram processo de despolitização?

© Divulgação / Ricardo StuckertO presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante discurso da vitória na Avenida Paulista, em São Paulo (SP), em 30 de outubro de 2022
O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante discurso da vitória na Avenida Paulista, em São Paulo (SP), em 30 de outubro de 2022 - Sputnik Brasil, 1920, 27.12.2022
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As eleições dominaram o debate público deste ano e levaram a discussão política para um local muito mais amplo do que o habitual. Apesar de o acirramento ter provocado radicalização em certos setores, especialistas ouvidos pela Sputnik Brasil enxergam que o processo pode deixar um legado positivo com a superação de uma onda de despolitização.
Em 2022, o Brasil viu pela primeira vez um presidente em exercício perder uma disputa de reeleição. O triunfo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre Jair Bolsonaro (PL) moveu paixões e mobilizou toda a sociedade, na eleição que terminou com a margem mais apertada da história nacional.
Sem dúvidas esse pleito marcou o ano de 2022, motivo pelo qual foi tema de uma retrospectiva feita pelo podcast Jabuticaba Sem Caroço, da Sputnik Brasil, no episódio desta terça-feira (27).
A cientista política Clarisse Gurgel, professora da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), disse às jornalistas Bárbara Pereira e Francini Augusto que houve uma "vitória da política" em 2022.

"A vitória em cima de Bolsonaro é significativa porque a gente percebe que ele não só não se reelegeu a despeito de ter feito uso de todos os instrumentos legais e ilegais para essa reeleição, como também [...] a dubiedade de Bolsonaro permitiu uma maior consistência da política no povo brasileiro. Em 2022, foi a vitória da política porque o povo brasileiro enfrentou todas as ferramentas possíveis e imagináveis que Bolsonaro mobilizou para se reeleger", avalia Gurgel.

"O que a gente pode extrair de 2022 é que houve uma derrota para o Bolsonaro que está para além das urnas. [A reeleição] é algo muito simples em qualquer país, principalmente em um país como o nosso, com alto nível de alienação", disse ainda.
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A especialista descarta a tese de que há um "Brasil dividido" e enxerga que grande parte dos votos que Bolsonaro obteve se deve ao fato de estar com "a máquina na mão". Para Gurgel, o governo tentou capitalizar eleitoralmente em cima de programas sociais como o Auxílio Brasil "em um país onde o histórico é de clientelismo e venda de voto", mas não conseguiu.

"[O ano de] 2022 foi um ano de vitória da política em um país que, desde 2013, vem colhendo frutos de uma crítica conservadora à política. [...] Uma vitória de tudo que é o avesso ao bolsonarismo."

O cientista político Christopher Mendonça, professor de relações internacionais do Ibmec, destaca a inserção da política entre os assuntos do cotidiano como um dos pontos positivos deste ano.

"Houve uma participação muito grande no processo eleitoral. Pessoas que estavam completamente alienadas do cenário político passaram a se envolver. Grupos que estiveram longe da disputa eleitoral passaram a se envolver. Acho que isso é muito bom. [...] [O ano de] 2022 inseriu pessoas que estavam fora das discussões políticas", apontou.

Mendonça acredita que essa proeminência da política no debate público deve permanecer no próximo período e acredita que houve um "fortalecimento da democracia" neste ano.
"Acabamos de passar por uma Copa do Mundo e vimos que a Copa e as questões políticas dividiram muito, quase que de forma equidistante, os comentários nas mesas no almoço, no trabalho, o que não era tão comum no Brasil. Nos anos anteriores em que havia Copa do Mundo, parecia que a gente esquecia completamente o que acontecia em Brasília", disse.

"Foi um ano de muitas mudanças, de embates importantes, de fortalecimento e de testes da democracia. Acho que estamos finalizando bem este ano de 2022", acrescenta.

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