Vai ou racha? Analistas apontam que 'tríade' de ministros na Economia tem 'grande chance de sucesso'
02:17 11.01.2023 (atualizado: 14:47 16.01.2023)
© AP Photo / Armando FrancaEntão presidente eleito do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva gesticula para apoiadores enquanto se dirige a emigrantes brasileiros em auditório em Lisboa. Portugal, 19 de novembro de 2022 (foto de arquivo)
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Segundo especialistas ouvidos pela Sputnik Brasil, os três nomes escolhidos pelo presidente Lula para as pastas econômicas, além de "acomodar a coalização vencedora", traçam "um ponto de equilíbrio" e ajudarão na interlocução do governo com o Congresso Nacional, visando a aprovação de projetos.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deu diversas demonstrações de que pretende fazer um governo sustentado pela chamada "frente ampla", inclusive na economia.
Em vez de manter um único ministério para uma das áreas mais sensíveis de qualquer governo, Lula dividiu a pasta e distribuiu as responsabilidades entre três nomes que representam correntes diferentes: Fernando Haddad (PT), na Fazenda; Geraldo Alckmin (PSB), ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços; e Simone Tebet (MDB), no Planejamento e Orçamento.
Para Carla Beni, economista e professora de MBAs da Fundação Getulio Vargas (FGV), a decisão do governo "segue em total acordo com seu projeto de governo". Segundo ela, com a decisão o presidente "acomoda a coalização vencedora" nas eleições presidenciais e elimina o modelo anterior de um superministro e uma pasta única da Economia.
"Ao colocar o Haddad no Ministério da Fazenda, ele puxa o ministério mais importante para o Partido dos Trabalhadores. O Ministério do Planejamento com a Tebet sinaliza a relevância que ela teve durante as eleições e o seu apoio. E ao escolher que Alckmin não só será o vice-presidente como terá uma pasta de Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, [Lula] enaltece seu papel e o apoio que ele foi durante as eleições", destaca Beni.
© Folhapress / Ton MolinaO futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad, durante reunião em Brasília (DF), em 28 de dezembro de 2022
O futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad, durante reunião em Brasília (DF), em 28 de dezembro de 2022. Foto de arquivo
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De acordo com a especialista, a "tríade" foi escolhida "para se conseguir um resultado melhor no desenvolvimento e planejamento econômico" do país.
"É isso que se espera. São três grandes democratas, pessoas muito relevantes no cenário nacional", avalia.
Contudo Beni lembra que os três nomes são considerados presidenciáveis em futuras disputas, o que, em sua avaliação, poderá causar "algum tipo de entrave no caminho", que precisará ser solucionado pelo próprio presidente Lula.
O último boletim Focus, do Banco Central, divulgado na segunda-feira (9), com previsões de mais de 100 instituições financeiras do país, projeta um crescimento de apenas 0,78% do produto interno bruto (PIB) brasileiro neste ano.
Para a economista, o primeiro ano do governo Lula será de "tensão, ajustes e reformas importantes a serem organizadas e aprovadas". Ela lembra que o governo ainda deverá anunciar a chamada "âncora fiscal", até agosto — após a PEC da Transição, aprovada antes mesmo de o governo se iniciar.
Além disso, há a expectativa de uma reforma tributária, que, segundo a especialista, ajudará o país a realizar os ajustes necessários para o crescimento econômico com estabilidade.
"Teremos um governo muito tenso, na medida em que há uma oposição muito acirrada a ele, e vamos ver como isso vai se desenrolar ao longo deste período", afirmou Beni.
'Chance de sucesso é muito grande'
O cientista político Márcio Coimbra, coordenador do curso de pós-graduação em relações institucionais e governamentais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie em Brasília, afirma que a formação ministerial de Lula na Economia pode ajudar o novo governo a "traçar um ponto de equilíbrio".
"Essa é a ideia, ao trazer três nomes diferentes, sob o comando do Haddad, que tem conexão direta com o Lula. E também são três ministros políticos, ou seja, que sabem ter diálogo com o Congresso Nacional e têm experiência em lidar com parlamentares e a máquina pública. Portanto a chance de sucesso é muito grande neste caso", apontou Coimbra.
Segundo o especialista, haver divergências entre os ministérios na área econômica é saudável, pois podem ser vistas como complementares e ajudar o governo a criar soluções para o país.
"Acredito que sim, porque o equilíbrio fiscal é o que o governo precisa buscar com mais afinco. E não existe desequilíbrio fiscal com o país crescendo. Ou seja, o país não pode crescer com desiquilíbrio fiscal, que é a senha para o crescimento econômico. E os programas sociais não impedem um grande programa de ajuste fiscal. Uma coisa não exclui a outra", afirmou.