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China vê tecnologia militar russa como 'fundamental' na nova corrida armamentista de semicondutores

© AP Photo / Alex Brandon, Eraldo PeresO presidente dos EUA, Joe Biden, em Washington, em 6 de novembro de 2021; e o presidente da China, Xi Jinping, em Brasília, no Brasil, em 13 de novembro de 2019
O presidente dos EUA, Joe Biden, em Washington, em 6 de novembro de 2021; e o presidente da China, Xi Jinping, em Brasília, no Brasil, em 13 de novembro de 2019 - Sputnik Brasil, 1920, 17.01.2023
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A disputa dos Estados Unidos com a China na seara dos semicondutores vem sendo classificada como a nova corrida armamentista deste século, uma alusão que remonta ao período da Guerra Fria. Segundo um especialista ouvido pela Sputnik Brasil, a Rússia é uma pedra fundamental para o desenvolvimento militar do país asiático.
As preocupações dos EUA com a elevação da China como uma superpotência no tabuleiro da geopolítica global já não são exatamente um segredo de Estado.
Desde a ostensiva presença das Forças Armadas norte-americanas no Indo-Pacífico até a sorrateira visita de Nancy Pelosi, ex-presidente da Câmara do país, a Taiwan (gesto que foi, inclusive, muito criticado no Ocidente), o conceito de Guerra Fria 2.0 fica cada vez mais cristalino.
Porém são nas restrições ao acesso da China à tecnologia de semicondutores dos EUA, uma clara tentativa de impedir o esforço de Pequim para desenvolver sua própria indústria de chips e avançar as suas capacidades militares, que se observa a nova corrida armamentista do século XXI.
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De um lado, há vultosas promessas de investimento das fabricantes de chips nos EUA, que tiveram um aumento nos últimos 18 meses. Do outro, há o governo chinês investindo maciçamente em pequenas empresas de tecnologia no país como política de Estado.
Tal escalada vem sendo comparada aos investimentos da era da Guerra Fria na corrida espacial, que traz em seu bojo as implicações na liderança tecnológica global e geopolítica, sobretudo no aspecto do desenvolvimento de produtos que vão desde smartphones até sistemas avançados de defesa.
Elias Jabbour, economista e professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e autor dos livros "China: o socialismo do século XXI" e "Socialist Economic Development in the 21st Century — A Century after the Bolshevik Revolution" ("Desenvolvimento Econômico Socialista no Século 21 — Um Século após a Revolução Bolchevique", em tradução livre), avalia que a China alcançou um grau de soberania monetária em uma dimensão "que a permite praticamente queimar dinheiro em praça pública, no sentido de alcançar a fronteira tecnológica na infraestrutura de semicondutores".

"O primeiro ponto é o fato de a China estar se utilizando de uma soberania monetária absurda. E sobre ela, por exemplo, o Estado financiou o surgimento de 2 mil startups para as infraestruturas de semicondutores há dois anos, mais ou menos. Então uma série de iniciativas vêm sendo criadas e [...] culminaram, por exemplo, não somente no recente anúncio de que a China tinha condições de fazer este chip de 7 nanômetros, como também no mais difícil, que é alcançar a escala para produzir isso. A China tem condições, dado o tamanho do seu mercado interno; ou seja, o mundo precisa dela. Há o tamanho do seu mercado interno, a sua capacidade financeira e a capacidade de concentrar esforço em um único lugar. Um lugar que, por sua vez, é um Estado socialista bem centralizado", observa.

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Segundo Jabbour, a China deve alcançar os norte-americanos em médio prazo no que se refere a essas tecnologias.
Ele explica que um dos grandes entraves dos EUA é, precisamente, a "financeirização", ou seja, a troca capitalista mediada pelo mercado.
Ou seja, o que em tese jogaria a fronteira tecnológica à frente é o elemento que retarda o desenvolvimento tecnológico nos Estados Unidos.

"Creio que a China esteja usando desse artifício para poder enfrentar essa questão. Fora o fato de estar importando engenheiros, oferecendo [salários] quatro a cinco vezes mais altos do que os engenheiros coreanos e taiwaneses ganham em seus lugares de origem. Ou seja, é uma guerra em todos os aspectos possíveis e imagináveis e que pode desembocar inclusive em uma guerra militar. Aí seria a última alternativa americana para brecar a China, o que não está fora do horizonte, a meu ver."

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E quanto à Rússia?

Para o professor da UERJ, é evidente que a Rússia já é uma grande provedora de matérias-primas para a China.

"Aliás, a Rússia talvez seja o único país do mundo que tem todos os elementos da tabela periódica no seu território", lembra.

Ele defende a hipótese de que a Rússia foi "incorporada" ao território econômico chinês, um processo que se acelerou durante o conflito da Ucrânia.

"Não que a Rússia tenha virado uma espécie de 'colônia chinesa', ao contrário. Porque a China também substitui importações, ou seja, existe um processo simultâneo de substituição de importações em ambos os lados. Então a cooperação militar tende a aumentar entre Rússia e China, assim como a cooperação energética. Ou seja, em todos os aspectos da vida econômica os dois lados estreitaram as suas relações. Então é evidente que nesse caso as exportações de matéria-prima da Rússia para a China vão aumentar, e muito", vaticina.

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Jabbour explica que a indústria tecnológica russa é concentrada no setor militar. Inclusive, prossegue, é uma área em que a China ainda é "muito carente e está muito atrás dos Estados Unidos".

"E é nesse aspecto que acontece o casamento perfeito: entre o dinheiro acumulado pelos chineses ao longo das suas reservas cambiais e a necessidade de importar tecnologia russa. Então a tecnologia militar russa é fundamental para a China hoje. Tudo gira em torno da transferência de tecnologia da Rússia para a China no setor militar. Talvez aí esteja a grande atualização que o conflito ucraniano oferece à China: a complementação de sua própria indústria bélica com a tecnologia russa, que é muito superior à chinesa", conclui.

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