Jornal sueco lança concurso de desenhos para zombar de Erdogan e da demora da OTAN em se posicionar
© AP Photo / Presidência da TurquiaO presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, fala aos membros de seu partido, em Ancara, Turquia, em 13 de agosto de 2020
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Após o recente escândalo envolvendo uma representação do presidente turco Erdogan enforcado em efígie em Estocolmo, Ancara alertou que as relações com a Suécia podem se tornar "muito mais tensas". Funcionários alertaram que a Suécia não pode esperar o apoio da Turquia para sua adesão à OTAN, enquanto "ignorar as provocações terroristas".
Um concurso de desenho satírico, visando o presidente turco Recep Tayyip Erdogan, foi lançado pelo jornal socialista Flamman (A chama). Os melhores desenhos vão ser publicados no jornal, e um prêmio de SEK 5 mil (cerca de R$ 2.471) foi prometido para a melhor representação.
Segundo o editor-chefe do jornal, Leonidas Aretakis, o objetivo é "levantar o problema da forma como o governo está lidando com o processo da Organização do Tratado do Atlântico Norte [OTAN]".
"Lançamos esta competição para defender a liberdade de expressão e defender os curdos", disse Aretakis à mídia sueca.
O concurso de desenho foi introduzido com um remake de "Desecrate the flag" (Profanar a bandeira), um clássico de esquerda dos anos 1960 do artista Carl Johan De Geer. A ilustração retrabalhada com uma bandeira turca em chamas em vez da sueca foi feita com a permissão do artista.
© FotoCaptura de tela do tweet com a obra "Desecrate the flag" (Profanar a bandeira) de Carl-Johan de Geer
Captura de tela do tweet com a obra "Desecrate the flag" (Profanar a bandeira) de Carl-Johan de Geer
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Nas redes sociais, De Geer escreveu que "claro que disse sim, com alegria" quando Flamman o contactou para fazer um pastiche do clássico para efeitos da competição.
"Espero que nossa sabotagem tenha o efeito pretendido. Não queremos fazer parte de uma aliança de armas nucleares", escreveu Carl Johan De Geer, referindo-se à OTAN.
Embora a competição obviamente possa ter consequências no mais alto nível político, possivelmente afetando a candidatura da Suécia à OTAN, que depende da aprovação da Turquia, Aretakis argumentou que a responsabilidade não é de Flamman.
"Se houver consequências diplomáticas porque um jornal usa seu direito de imprimir as opiniões que deseja imprimir, então não somos nós que cometemos um erro, mas isso apenas mostra o quão mal concebido é todo esse processo da OTAN", disse ele à mídia sueca, pedindo a outras mídias que façam o mesmo.
© FotoCaptura de tela do tweet com o retrabalho do jornal Flamman da obra "Desecrate the flag" (Profanar a bandeira) de Carl-Johan de Geer
Captura de tela do tweet com o retrabalho do jornal Flamman da obra "Desecrate the flag" (Profanar a bandeira) de Carl-Johan de Geer
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A controversa competição ocorre logo após uma representação do presidente Recep Tayyip Erdogan ter sido enforcada em efígie do lado de fora da Prefeitura de Estocolmo na semana passada durante uma manifestação de apoiadores do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK). A ação teve consequências imediatas, pois a Turquia convocou o embaixador da Suécia para negociações e cancelou a visita do presidente do Parlamento, Andreas Norlen.
O primeiro-ministro sueco e líder do Partido Moderado, Ulf Kristersson, e o ministro das Relações Exteriores, Tobias Billstrom, condenaram o protesto da efígie, chamando-o de "nojento". Aretakis, por sua vez, argumentou que é "repreensível" que o governo da Suécia "faça de tudo para apaziguar um regime opressor".
O próprio presidente da Turquia alertou que as relações com a Suécia podem se tornar "muito mais tensas" a menos que Estocolmo se posicione contra a situação atual. Isso foi repetido pelo ministro da Justiça turco, Bekir Bozdag, que argumentou que a Suécia não pode esperar o apoio da Turquia à adesão à OTAN, enquanto "ignora as provocações terroristas".
Em maio de 2022, três meses após o início da crise na Ucrânia, a Finlândia e a Suécia apresentaram seus pedidos de adesão à OTAN, citando uma mudança na situação de segurança na Europa. Ao fazer isso, os países abandonaram seus princípios de não alinhamento de longa data, enquanto as concessões subsequentes à Turquia — incluindo a suspensão da proibição de exportação de armas para Ancara e a renúncia à cooperação com organizações curdas que eles abraçaram anteriormente — atraíram críticas da oposição. Alguns argumentaram que os esforços de ambos os países para satisfazer Ancara mancham sua imagem como defensores dos direitos humanos.