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Conservadorismo brasileiro pós-Jair Bolsonaro não é terra arrasada, apontam analistas

© FolhapressJair Bolsonaro durante lançamento do Plano Safra 2022/2023, no Palácio do Planalto. Brasília (DF), 29 de junho de 2022
Jair Bolsonaro durante lançamento do Plano Safra 2022/2023, no Palácio do Planalto. Brasília (DF), 29 de junho de 2022 - Sputnik Brasil, 1920, 18.01.2023
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Durante as eleições de 2022, Jair Bolsonaro (PL) foi fundamental para eleger nomes conservadores para o Congresso Nacional. Entretanto, após os eventos de 8 de janeiro em Brasília, a Sputnik Brasil perguntou para analistas políticos se o ex-presidente ainda tem força para figurar como principal candidato de oposição ao governo petista.
Às vésperas de ser preso pela Polícia Federal (PF), em 2018, após dois dias entrincheirado em um sindicato no interior de São Paulo, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), hoje presidente do Brasil, afirmou: "O Lula é uma ideia". Na época, ninguém poderia imaginar que o mais notório dos petistas, anos depois, seria solto para chegar ao Palácio do Planalto.
Com o fim do governo Bolsonaro, resta saber se o ex-presidente também é uma ideia consistente semeada entre os conservadores, que voltará nos próximos pleitos liderando a oposição e figurando como o principal nome da direita no país. Desde 2018 ele consegue reunir politicamente um setor amplo, agregando eleitores antipetistas e conservadores. Agora esse arranjo se fragmentará?
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O futuro político de Jair Bolsonaro, segundo dois analistas consultados pela Sputnik Brasil, José Paulo Martins Junior, da Universidade Federal Fluminense (UFF), e Mayra Goulart, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ainda é incerto, embora existam indicativos que atestam que o seu retorno à política é inevitável.
Para José Paulo Martins Junior, a direita no Brasil está bastante fortalecida, principalmente após o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) e "todos aqueles movimentos", geopolíticos e internos, que pavimentaram a ascensão de grupos de direita no mundo.

"Bolsonaro acabou sendo uma figura que conseguiu capitalizar esse movimento, misturando religião, militares... E conseguiu se colocar como um nome política e eleitoralmente forte nesse quadro", disse ele.

O problema, diz, é que a invasão dos prédios dos três Poderes, em Brasília, somada à forma como Bolsonaro agiu após a derrota nas eleições, vem drenando o capital político do ex-presidente, com aliados mais próximos tentando se desvincular de sua imagem.

"Existem vários quadros da direita que tiveram sucesso eleitoral nesta eleição. Podemos apontar o Romeu Zema [Novo], que tem partido fraco, e se quiser ocupar espaço à direita, no vácuo de Bolsonaro, precisaria mudar de partido ou reunir partidos em torno da candidatura dele", disse o analista.

Para José Paulo Martins Junior, é preciso compreender que a política nacional é altamente mutável e que existem outros nomes, como Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo, assim como Eduardo Leite (PSDB), governador do Rio Grande do Sul, e Ratinho Junior (PSD), reeleito governador no Paraná, que tentarão ocupar o espaço vago.
© Folhapress / Tomzé Fonseca/Futura PressTarcísio de Freitas durante a cerimônia de posse como governador de São Paulo, no dia 1º de janeiro de 2023
Tarcísio de Freitas (Republicanos) durante a cerimônia de posse como governador de São Paulo, no dia 1º de janeiro de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 18.01.2023
Tarcísio de Freitas durante a cerimônia de posse como governador de São Paulo, no dia 1º de janeiro de 2023
Presidente da bancada evangélica na Câmara dos Deputados, Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) diz que vê dois principais caminhos para Bolsonaro no jogo político: liderar a oposição ou se tornar um mentor. Ele atribui ao ex-presidente a onda de políticos jovens que ganharam projeção no último pleito, como os deputados federais Nikolas Ferreira (PL-MG), André Fernandes (PL-CE) e Carol de Toni (PL-SC).
Os novos nomes do conservadorismo brasileiro, para atingir o patamar de popularidade do ex-capitão do Exército, dependem de uma combinação de fatores, entre eles o sucesso de seus mandatos.

Para Cavalcante, embora Bolsonaro tenha perdido "prestígio e capital político com a derrota eleitoral", ele conseguiu se descolar um pouco do desgaste estando fora do país e ainda é o principal nome da oposição. "O Bolsonaro vai aparecer em primeiro ou segundo nas intenções de voto, tem o partido que elegeu mais parlamentares. Então o nome continua sendo forte", avaliou.

Segundo José Paulo Martins Junior, é preciso saber, antes de fazer qualquer previsão, se o ex-presidente continuará apostando no radicalismo, razão pela qual, segundo o analista, o candidato do PL perdeu as eleições para Lula. "O fato de ele não ter reconhecido a derrota certamente contribui para pensarmos que Bolsonaro continuará como um radical", explicou.
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Mayra Goulart analisou que os membros da elite política que desejavam se descolar da imagem do ex-presidente sem perder bases eleitorais conseguiram. Ela explicou que existem dois tipos de oposição, a "tradicional bolsonarista", que está baseada em uma agenda de costumes, e "o posicionamento tradicional da direita brasileira quando um partido de esquerda está no poder, que é o uso da bandeira da disciplina fiscal".
Para ela, Bolsonaro está longe de ser considerado "uma carta fora do baralho". "Ele é uma ideia, um símbolo."
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