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Retorno do Brasil à CELAC fortalece organismo e pode equilibrar relação com EUA, segundo analistas

© Foto / Divulgação / Ricardo StuckertO presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente da Argentina, Alberto Fernández, e o ex-presidente boliviano Evo Morales posam para foto em frente a estátua do ex-presidente argentino Néstor Kirchner. Buenos Aires, 23 de janeiro de 2023
O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente da Argentina, Alberto Fernández, e o ex-presidente boliviano Evo Morales posam para foto em frente a estátua do ex-presidente argentino Néstor Kirchner. Buenos Aires, 23 de janeiro de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 24.01.2023
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participa nesta terça-feira (24), na Argentina, da primeira cúpula internacional desde que assumiu seu terceiro mandato presidencial. Especialistas apontam que o mandatário deve aproveitar a cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC) para relançar o Brasil internacionalmente.
Em declaração dada após encontro com o presidente da Argentina, Alberto Fernández, na segunda-feira (23), Lula destacou a importância da CELAC por ser a única que une todos os países da América Latina sem a presença de países externos, em especial Estados Unidos e Canadá.

"Acho que a criação da CELAC foi uma inspiração extraordinária, porque é a primeira reunião entre países que a gente faz na América Latina sem a participação de outros países, sobretudo dos Estados Unidos e do Canadá. É só a América Latina de verdade. E eu acho que é um espaço extraordinário para que a gente possa discutir, aprender e ensinar, para que os outros possam aproveitar as coisas boas que nós fazemos e resolver conflitos. É possível, e é o único fórum internacional em que Cuba participa. E eu tenho orgulho de ter participado da construção desse fórum. E tenho muito orgulho de os cubanos participarem", afirmou o presidente.

Desde que surgiu, o organismo é apontado como uma tentativa de contraponto à Organização dos Estados Americanos (OEA), capitaneada por Washington desde a sua criação. Para analistas ouvidos pela Sputnik Brasil, o retorno do Brasil à plataforma — formalizado no último dia 5 — a fortalece e ajuda a reconstruir a imagem da diplomacia brasileira.
Segundo Lucas Mesquita, professor de relações internacionais e integração da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), "a CELAC tem uma importância do ponto de vista da política e da construção de um espaço de balanceamento do espaço de cooperação e de discussão entre os países da região".

"A importância da CELAC, sem sombra de dúvidas, está no fato de você ter ali 33 países da região nesse bloco. Isso traz um peso. Na hora em que se discute um tema na CELAC, ele é discutido com todo mundo. Assim, as agendas são agendas amplas: saúde, educação, tecnologia, infraestrutura, desenvolvimento sustentável — uma pauta que extrapola uma integração estritamente comercial."

O historiador Thomas Ferdinand Heye, professor do Instituto de Estudos Estratégicos (Inest) e coordenador do Laboratório de Integração Sul-Americana (LISA) da Universidade Federal Fluminense (UFF), avalia que, apesar de não ter conseguido se consolidar nos 13 primeiros anos de existência, a CELAC precisa ser vista como um "marco declaratório" de interesses dos países da região. Para Heye, a CELAC está longe da consolidação que a União de Nações Sul-Americanas (Unasul) chegou a alcançar antes de ser esvaziada.
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"A CELAC não andou muita coisa. A coisa mais importante da CELAC é que é um marco declaratório. Expressa uma intenção dos povos de uma região do planeta. Em termos institucionais, no entanto, o bloco é completamente anêmico se a gente for comparar com a Unasul", apontou o professor da UFF.

Apesar de esse mecanismo, por si só, indicar uma tentativa de descolamento da hegemonia dos Estados Unidos na região, os dois especialistas acreditam que a CELAC não conseguiu se constituir como um espaço que possa reduzir, de fato, a influência estadunidense na América Latina. Pelo menos até agora.

"A discussão da influência dos EUA na região é algo que a gente ainda vai ter que esperar para analisar. [...] É lógico que um fortalecimento da região vai refletir em um processo de balanceamento [...] com um hegemon. Mas, para ser bem sincero, eu não sei se isso vem com a CELAC. A CELAC ainda tem que ganhar forças para ser esse espaço de balanceamento com os Estados Unidos como a Unasul se propôs", avalia Mesquita.

Para o professor da Unila, ficou evidente pelos primeiros discursos de Lula que o Brasil vai buscar uma priorização dos interesses nacionais no cenário global e isso pode favorecer a pauta comum latino-americana. Mesquita avalia ainda que o retorno do Brasil à CELAC está inserido dentro da lógica de reconstrução da imagem do país no cenário internacional.
"A CELAC acaba sendo um desses eixos, com o Mercosul e a retomada da Unasul. De forma mais concreta, agora a gente tem a CELAC, que está acontecendo hoje, e o retorno das aproximações em torno do Mercosul, principalmente com relação a uma moeda comum para o intercâmbio do Mercosul. Especificamente com a CELAC, o retorno do Brasil era extremamente importante, porque é uma retomada de um espaço que tem uma relevância muito grande pelo fato de estarem ali os 33 países da América Latina e do Caribe, apesar de ser um local de debates mais políticos do que de políticas públicas efetivas. O Brasil retornando demonstra justamente esse dinamismo da política externa, uma política externa brasileira que tem a região como eixo central para a reconstrução da imagem do Brasil no cenário internacional", aponta Mesquita.
Heye enxerga essa movimentação do Brasil da mesma maneira. O retorno à CELAC serve ao país como uma espécie de trampolim para que Lula mostre que o Brasil está pronto para voltar ao "palco principal do teatro internacional".

"É o que eu chamo de política externa ativa e altiva 3.0 [em referência à política externa implementada pelo ex-chanceler Celso Amorim, hoje assessor de Lula]. Simplesmente o governo mostrando que o Brasil não é um pária na comunidade internacional e não o é no seu entorno estratégico. A nossa prioridade é sempre a América do Sul, e para isso tinha sido feita a Unasul, antes da CELAC. Essa região é tradicionalmente uma área de forte influencia norte-americana. O Brasil retornando à CELAC está dizendo que, sim, um ator que estava fora do jogo desde 2020 está retornando ao palco do teatro internacional."

"A CELAC é um indicativo dos interesses geopolíticos do país. Significa que o Brasil vai participar de todas as iniciativas para projetar a imagem no exterior", aponta.
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