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China é a grande fiadora da paz nas negociações entre Rússia e Ucrânia, segundo analista

© AP Photo / Anton NovoderezhkinVladimir Putin, presidente russo, cumprimenta o diretor do Gabinete da Comissão Central de Relações Exteriores do Partido Comunista da China, Wang Yi, durante reunião no Kremlin, em Moscou. Rússia, 22 de fevereiro de 2023
Vladimir Putin, presidente russo, cumprimenta o diretor do Gabinete da Comissão Central de Relações Exteriores do Partido Comunista da China, Wang Yi, durante reunião no Kremlin, em Moscou. Rússia, 22 de fevereiro de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 23.02.2023
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Em entrevista à Sputnik Brasil, especialista diz que é remota a possibilidade de se alcançar a paz nas negociações entre Moscou e Kiev sem a presença da China e que Brasil e BRICS também podem ter um grande papel no processo.
Nas últimas semanas, Pequim elevou o engajamento nas negociações para cessar o conflito entre Rússia e Ucrânia. Recentemente, o diretor do Gabinete da Comissão Central de Relações Exteriores do Partido Comunista da China, Wang Yi, disse que a China está pronta para trabalhar na comunidade internacional pela construção de um diálogo entre as duas partes do conflito.
Na quarta-feira (22), o diplomata chinês foi recebido pelo presidente russo, Vladimir Putin, em Moscou e disse que a China está disposta a trabalhar com a Rússia "para que os dois países desempenhem um papel construtivo na promoção da paz".
Em paralelo, o ministro das Relações Exteriores chinês, Qin Gang, disse na terça-feira (21) que a China está "profundamente preocupada" com a possibilidade de o conflito na Ucrânia escalar ou sair de controle.
À Sputnik Brasil, João Cláudio Pitillo, professor de história e pesquisador da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), destaca que esse engajamento crescente contrasta com o tradicional pragmatismo da China, uma diplomacia que evita se expor. Em entrevista, ele explica o porquê dessa mudança de postura de Pequim, qual a importância da entrada da China nas negociações pela paz e como o Brasil e o BRICS podem colaborar no processo.
Pitillo afirma que o conflito na Europa prejudica os interesses econômicos da China. "O conflito afeta os interesses econômicos de todos, e mais ainda da China, que é um país em franca expansão, que estava se recuperando da pandemia. A China tem interesse de que as relações entre Ocidente e Oriente voltem ao patamar da paz", explica Pitillo.
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Ele acrescenta que o engajamento da China nas negociações de paz entre Moscou e Kiev é importante por dois fatores. Primeiro por conta da importância da China como ator geopolítico global.

"A China hoje é um dos países mais importantes do mundo, ao lado de Rússia, EUA, Reino Unido e França. É um dos países vencedores da Segunda Guerra Mundial, é um gigante da economia e uma das potências militares do planeta", diz o pesquisador.

Ele acrescenta que essa posição torna a presença chinesa algo fundamental para as negociações de paz. "Sem a presença da China neste grupo que quer discutir a paz, eu acredito que vai ficar mais difícil. A possibilidade de se alcançar a paz com a presença chinesa é muito maior."
O segundo fator é a estreita e histórica relação entre Pequim e Moscou, que faz da China o país que talvez tenha mais informações sobre "a origem do conflito na Ucrânia, o desenvolvimento e o possível caminho para o fim". "O presidente russo, Vladimir Putin, e o presidente da China, Xi Jinping, já vêm de longa data dialogando", diz Pitillo.
Ele afirma que esses fatores tornam a China uma fiadora das negociações para a paz entre Moscou e Kiev e contribuem para "garantir que a Rússia não sofra condenações prévias nem seja injustiçada".

"Há um problema aqui no Ocidente com relação ao conflito porque a Rússia é tratada como agressora da Ucrânia. E a gente sabe que não é bem assim. Desde a negativa aos acordos de Minsk [por parte do Ocidente], nós sabemos que a Rússia vem tentando estabelecer um canal de diálogo com a Ucrânia, com a OTAN [Organização do Tratado do Atlântico Norte], e isso está sendo negado. E a China tem ciência disso. Então a presença chinesa é muito importante. Ela é uma grande fiadora desse processo [de paz]."

Brasil e BRICS podem colaborar para acelerar o processo de paz

O governo brasileiro também vem se engajando nas discussões sobre as negociações de paz ante o conflito ucraniano. Em uma viagem recente aos EUA, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tornou a defender a criação de um fórum para mediação entre as partes do conflito e foi favorável à participação da China nas negociações. Na última terça-feira (21), a proposta brasileira de criação de um fórum foi aceita por países europeus.
Questionado sobre os interesses que levam Lula a se engajar nas discussões e o porquê do aceno do presidente a Pequim, Pitillo destaca que "Lula sabe da importância da China e das ótimas relações de Pequim com Moscou". Ele ressalta que Lula tem uma viagem marcada para a China em 28 de março.

"O presidente Lula irá a Pequim. Então eu acredito que em uma conversa franca, Lula e Xi Jinping vão acertar algum instrumento que, se não levar à paz, deve levar a um armistício."

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Ele acrescenta que o engajamento de Lula na questão reflete a intenção de "resgatar a proeminência brasileira no cenário internacional".

"Quatro anos de [Jair] Bolsonaro e os dois anos de [Michel] Temer transformaram o Brasil em um pária internacional. Lula tem essa intenção de protagonismo porque o Brasil tem um longo sonho de adentrar o Conselho de Segurança da ONU [Organização das Nações Unidas]. Então é óbvio que Lula precisa que o Brasil retome o seu papel de protagonista. E nada mais importante neste momento para o Brasil do que debater a questão da Ucrânia."

Pitillo diz que o engajamento do Brasil na questão tem potencial para "catapultar o país de volta ao seu local de destaque" como ator relevante global. Ele destaca que o Brasil tem um histórico de participação na Segunda Guerra Mundial, sendo o único país latino-americano a ter atuado no conflito, e tem experiência em missões de paz. Essas experiências, somadas ao engajamento nas negociações de paz na Ucrânia, contribuem para que o país alcance seus objetivos.
"O Brasil precisa disso não só para melhorar o ambiente de negócios e trazer investimentos estrangeiros, mas também para voltar a discutir sua presença como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU."
Sobre o engajamento do BRICS nas discussões, Pitillo diz estar "admirado que o grupo ainda não tenha tomado a iniciativa de conversar com a Rússia sobre a possibilidade de um armistício".

"Um armistício que seja estabelecido respeitando que Donbass é [um território] russo, que a Crimeia é russa, que a proteção dos povos russos é necessária. Dentro do BRICS eu acho que não há nenhuma dúvida de que aquela população é de origem russa, de cultura russa, que estava sendo ameaçada pelo regime de Kiev, vitaminado pelos interesses da OTAN."

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O pesquisador diz que é importante que o grupo se engaje nas negociações porque todos os seus integrantes "precisam e anseiam pela paz".

"Com destaque para África do Sul e Índia, esses países têm uma necessidade muito grande de que a paz seja restabelecida para que o ambiente de negócios internacional volte a florescer. O Brasil se engaja nisso também, porque tem uma necessidade de fortalecer as discussões Sul–Sul", destaca Pitillo.

Ele afirma que o BRICS tem um futuro de ampliação que o tornará ainda mais importante, com a entrada de novos integrantes.

"É óbvio que, para todo esse ambiente de negócios que se planeja, o conflito precisa acabar. Mas não vai acabar por decreto. A paz precisa ser construída, e óbvio que os interesses de Moscou e Kiev precisam chegar a um denominador comum", finaliza o pesquisador.

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