O que é urânio empobrecido e por que seu uso é preocupante?
© AFP 2023 / Stan HondaUm soldado do Exército dos EUA conta projéteis de 25 mm com urânio empobrecido durante a invasão do Iraque, 11 de fevereiro de 2004
© AFP 2023 / Stan Honda
Nos siga no
A vice-ministra da Defesa britânica, Annabel Goldie, anunciou que o Reino Unido vai fornecer à Ucrânia munições contendo urânio empobrecido, o que, segundo especialistas e relatórios científicos, constitui uma ameaça para a população civil.
O que é urânio empobrecido?
Segundo relatório da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), o urânio empobrecido é um subproduto do processo de produção de combustível para certos tipos de reatores e armas nucleares. O material possui propriedades químicas e radiológicas que constituem um risco para civis.
De acordo com o Departamento de Saúde e Agência de Serviços Humanos dos EUA para Substâncias Tóxicas e Registro de Doenças, o urânio empobrecido é usado como contrapeso em rotores de helicópteros e peças de aeronaves, como um escudo para proteção contra radiação ionizante, bem como em componente de munições para penetrar mais facilmente veículos militares blindados.
"O urânio empobrecido é uma mistura modificada e menos radioativa de isótopos de urânio. Todos estamos expostos a pequenas quantidades de urânio nos alimentos, na água e no ar. A exposição a altos níveis de urânio natural ou empobrecido pode danificar os rins", adverte agência federal dos EUA.
A Alemanha nazista foi pioneira no uso de urânio empobrecido em projéteis de subcalibre perfurantes durante a Segunda Guerra Mundial.
Os militares dos EUA o utilizaram na Tempestade no Deserto de 1991 no golfo Pérsico, na guerra da Bósnia, no bombardeio da Iugoslávia (1999) e na guerra do Iraque (2003). As munições com urânio empobrecido não são reconhecidas como armas químicas pelas organizações internacionais e seu uso não é regulamentado ou proibido de forma alguma. Por ser um tipo de arma relativamente novo, não existe nenhum instrumento da Organização das Nações Unidas (ONU) que restrinja ou proíba seu uso.
O que dizem os especialistas?
Os projéteis de urânio empobrecido são capazes de penetrar blindagens de até um metro de espessura. Eles não contêm explosivos e atingem a tripulação e a munição dentro do tanque com estilhaços.
Outro fator preocupante é que os projéteis são muito tóxicos. A poeira fina formada ao atingir um obstáculo entra no trato respiratório humano e é muito prejudicial. Via de regra, as partículas finas dessa liga se dispersam em uma grande área no impacto com o projétil e contaminam o solo.
A Sérvia, que foi bombardeada, é um exemplo da demonstração dos efeitos deste tipo de munição. Centenas de crianças são diagnosticadas com tumores malignos todos os anos, e das 400 crianças que adoecem a cada ano, cerca de 60 não podem ser salvas. Nunca antes dos bombardeios da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) tantos casos de câncer foram relatados na Sérvia.
A situação é semelhante no Iraque, onde restos de munições radioativas lançadas por aeronaves durante a guerra foram encontrados nos desertos. As crianças iraquianas também desenvolveram doenças raras até então desconhecidas, especificamente ligadas aos bombardeios dos Estados Unidos.
"Embora não se acredite que o urânio empobrecido deixe excesso de radiação, os estudos mais recentes dos campos de batalha de 1991 no Iraque mostraram que a radiação estava presente: ela afetou negativamente tanto os civis quanto os militares", diz o colunista militar Aleksei Ramm.
Declarações oficiais da Rússia
O ministro da Defesa da Rússia, Sergei Shoigu, alertou sobre a ameaça de um choque nuclear após declarações sobre o fornecimento de projéteis de urânio empobrecido.
"Essas munições já foram usadas durante os eventos na Sérvia, onde bombardearam cidades pacíficas, destruíram pontes sem nenhuma sanção da ONU. Depois também tiveram consequências, quem usou essas munições teve doenças graves, estudaram tudo. Como sempre, eles tinham pouco interesse em como essas munições afetavam aqueles contra os quais eram usadas. E de alguma forma tudo se acalmou e se calou. Bem, isso nos encoraja a pensar seriamente sobre o curso futuro dos eventos e como podemos responder."
O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, afirmou que "eles [Exército ucraniano e aliados] já se perderam no que diz respeito às suas ações, como essas ações minam a estabilidade estratégica em todo o mundo. [...] Se [a transferência] realmente acontecer, não há dúvida de que vai acabar mal para eles", ponderou.
A representante do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova escreveu em seu canal no Telegram que "seria o roteiro iugoslavo. Esses projéteis, além de matar, contaminam o meio ambiente e causam câncer nas pessoas que vivem nessas terras".
Consequências médicas
Em março de 2022, a agora ministra da Saúde da Sérvia, Danica Grujicic, disse em entrevista à Sputnik que desde a operação militar da OTAN contra a Iugoslávia em 1999, onde foi usada munição de urânio empobrecido, os casos de câncer no país aumentaram.
"Desde o bombardeio da Iugoslávia, vimos um aumento de várias formas de câncer. Primeiro, há cânceres sistêmicos, como linfoma e leucemia, e depois cânceres sólidos.[...] E o mais trágico é que, em comparação com a média europeia, temos 2,5 vezes mais incidência em crianças", afirmou a ministra.
Na mesma entrevista, o oncologista Slobodan Cikaric indicou que a taxa de mortalidade por câncer na Sérvia é uma das mais altas da Europa, em parte devido aos atentados.
Poluente eterno
O urânio empobrecido, além de tóxico, é auto-inflamável. Ao bater em superfícies duras, ele se inflama em um instante e por alguns milissegundos sua temperatura pode chegar a 3.000 graus.
Além disso, é praticamente eterno, sua meia-vida é de 4,5 bilhões de anos e tem um "ciclo de vida" completo de 45 bilhões de anos.
Segundo os especialistas, não importa se o urânio entra no corpo humano pelas vias respiratórias, digestivas ou de outra forma, uma vez dentro do organismo, fica lá por até 13,5 anos.
Embora os rins e o fígado lutem para eliminar o elemento tóxico, cerca de 2% do material permanece no corpo, especificamente nos tecidos ósseos do esqueleto.