https://noticiabrasil.net.br/20230427/lula-na-espanha-o-brasil-voltou-28621574.html
Posição de Lula sobre Ucrânia é 'contrária' à UE, mas 'Europa precisa de aliados', diz especialista
Posição de Lula sobre Ucrânia é 'contrária' à UE, mas 'Europa precisa de aliados', diz especialista
Sputnik Brasil
O presidente do governo espanhol e o presidente brasileiro passaram em revista a cooperação bilateral no quadro da negociação do acordo entre a UE e o... 27.04.2023, Sputnik Brasil
2023-04-27T13:54-0300
2023-04-27T13:54-0300
2023-04-27T14:29-0300
notícias do brasil
europa
espanha
brasil
américas
américa latina
américa do sul
luiz inácio lula da silva
acordo
união europeia
https://cdn.noticiabrasil.net.br/img/07e7/04/1b/28621242_0:197:1740:1176_1920x0_80_0_0_750c1de529980898bfafe3caa54b0d3a.jpg
Na véspera, após o encontro de Luiz Inácio Lula da Silva com a ministra da Economia espanhola, Nadia Calviño, e representantes do mundo empresarial do país, o presidente do governo espanhol, Pedro Sánchez, reuniu-se no Palácio da Moncloa com o seu homólogo brasileiro para discutir diversos aspectos da cooperação bilateral em um contexto dominado pelas negociações sobre a renovação do acordo entre a União Europeia (UE) e o Mercosul, bem como as perspectivas de uma paz negociada na Ucrânia. Durante a coletiva de imprensa, após o encontro e as perguntas dos jornalistas, os dois dirigentes deixaram claras as suas divergências quanto ao envio de armas para a Ucrânia, mas também a sua vontade de transigir para avançar nas negociações que resultem na renovação do acordo entre Bruxelas e Mercosul. Embora o presidente espanhol tenha admitido que há países europeus que nutrem "dúvidas", destacou a necessidade do acordo "porque a Europa precisa de aliados". Conforme explicou à Sputnik o diretor do Centro Estratégico Latino-Americano de Geopolítica (CELAG), Alfredo Serrano Mancilla, a dificuldade da UE e da Espanha em fechar acordos com o Mercosul também vem do governo brasileiro anterior. "Porque na era Bolsonaro se incentivava uma individualização das relações políticas e econômicas com a UE. Agora Lula defende o fortalecimento interno do Mercosul como bloco para chegar a acordos com a UE", diz o especialista. "Na realidade, a UE é contra o Mercosul porque o Mercosul significa abrir a porta a importações brutais de cereais, carne e energia", comenta o cientista político Jorge Verstrynge à Sputnik ao qualificar o acordo como "problemático". No entanto, ele admite que tal negociação pode funcionar como um "truque" diante de algum apoio às teses da UE sobre a resolução do conflito na Ucrânia. Outros atores na negociação "A proposta brasileira sobre a Ucrânia é muito interessante, embora seja apenas propositiva, ela propõe atores terceiros como mediadores", explica o analista da área latino-americana do portal internacional de análises Deciphering War, Néstor Prieto, à Sputnik. No entanto, Prieto adverte que é preciso "ler as letras miúdas" de tal proposta "porque Lula depois fez declarações contraditórias". "Mas o que está claro", continua ele, "é que é antitético ao que a UE representa." Em sua opinião, Pedro Sánchez pode ter tentado baixar o tom da proposta brasileira que, assim como a da China, tira o papel dos EUA. "Porque Sánchez está tentando ter uma projeção internacional, se identificando como um aliado de confiança dos EUA e adaptando um discurso marcadamente atlantista e europeísta", diz o especialista. Para Jorge Verstrynge, uma das tarefas de Pedro Sánchez durante o encontro "sem dúvida" foi suavizar a proposta de paz de Lula. "É preciso levar em conta que neste momento não há governos na Europa, o que há são franqueados em nome dos EUA, então aqui eles vão fazer o que Washington pede deles. E Lula não quer ser um delegado, entre outras coisas, porque tem um país muito importante e tem a chance de defender suas decisões." Durante a entrevista à mídia, Lula foi questionado diretamente se considera que a Crimeia e Donbass pertencem à Ucrânia. "Não sou eu que tenho de decidir de quem são, temos de conversar e são coisas da responsabilidade destes dois países", declarou. E sobre se o envio de armas espanholas para Kiev poderia ser um obstáculo para a Espanha se juntar ao grupo de países pela paz, ele disse: "Quando você se senta para negociar, você deve considerar estas coisas. Primeiro você deve parar a guerra e aí começamos a conversar. A Espanha vai fazer o que tem que fazer, o Brasil não pode dizer nada a ela, não pode interferir. Mas não sei o que pode acontecer se a guerra se arrastar, temos que trabalhar para evitar um infortúnio maior", afirmou. Surgiu e decolou "Vamos buscar que o Banco do BRICS seja um grande banco de investimentos, o Brasil vai voltar a crescer e contamos com a Espanha para avançar nos acordos. O Brasil voltou", declarou Lula. A afirmação, explica Néstor Prieto, significa que o gigante latino-americano "se afirma como um ator importante diante de um Bolsonaro que olhava mais para a política interna, já que era um negador de espaços multilaterais, só olhava para os EUA e Israel". "O Brasil tem uma importância geoeconômica e geopolítica fundamental", concorda Alfredo Serrano, que explica que "em termos quantitativos e simbólicos" o país tem um papel global relevante. "É maior que a UE, demográfica e economicamente", diz Prieto. E, continua Serrano, "está no quadro de alguns países que não são mais emergentes, mas emergiram, que são os países do BRICS e outros que também poderiam estar lá, como Indonésia, Turquia e alguns outros", lembra. Em sua opinião, o Brasil "pode contribuir para desdolarizar as relações econômicas" enquanto o Banco do BRICS, "presidido por Dilma Rousseff", poderia ser "uma contrapotência" ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e ao Banco Mundial. O grande objetivo da visita à Espanha e, na véspera, a Portugal, é trabalhar o acordo UE-Mercosul. Para o efeito, Pedro Sánchez recordou a celebração da cúpula CELAC-UE em Bruxelas, em junho, a primeira desde 2015. Apesar das dificuldades, "é do interesse de ambas as partes" que o acordo prossiga, diz Prieto que vê "harmonia" entre os dois líderes sobre isso. Para ele, o Mercosul também é um sinal de que "a nova ordem multipolar tem uma configuração incerta, mas é claro que caminha para ela. E o Brasil está claramente comprometido com ela". Líder arrebatador "A aposta de Lula na defesa de uma nova ordem multipolar está se aprofundando, assim como na América Latina, com a volta à CELAC", diz Néstor Prieto. "Ele é uma figura fundamental para entender a América Latina contemporânea", aponta, destacando que a personalidade do brasileiro é "tão avassaladora" que nem mesmo os setores mais contrários a ele podem negar-lhe a legitimidade "à qual a UE se rende". "Lula pertence à comunidade de países que é contra a política dos EUA e da UE para resolver a questão da Ucrânia. E há muito mais países do que a comunidade internacional que nos vendem a mídia aqui, que não é maioria, mas uma minoria", acrescenta Verstrynge, concluindo que o continente latino-americano "sempre teve a tentação da multipolaridade para afastar a maldição de, como dizem no México, estar tão longe de Deus e tão perto dos Estados Unidos".
https://noticiabrasil.net.br/20230427/em-viagem-pela-europa-lula-pretende-colocar-brasil-no-centro-da-politica-mundial-dizem-analistas-28614658.html
https://noticiabrasil.net.br/20230426/com-guerras-e-invasoes-eua-nao-tem-direito-de-questionar-e-influenciar-paises-diz-lula-28596537.html
espanha
brasil
Sputnik Brasil
contato.br@sputniknews.com
+74956456601
MIA „Rossiya Segodnya“
2023
Sputnik Brasil
contato.br@sputniknews.com
+74956456601
MIA „Rossiya Segodnya“
notícias
br_BR
Sputnik Brasil
contato.br@sputniknews.com
+74956456601
MIA „Rossiya Segodnya“
https://cdn.noticiabrasil.net.br/img/07e7/04/1b/28621242_0:131:1613:1341_1920x0_80_0_0_3810f3d8bf1619a8548ba3c03a4e05f2.jpgSputnik Brasil
contato.br@sputniknews.com
+74956456601
MIA „Rossiya Segodnya“
europa, espanha, brasil, américas, américa latina, américa do sul, luiz inácio lula da silva, acordo, união europeia, mercosul, pedro sánchez, análise
europa, espanha, brasil, américas, américa latina, américa do sul, luiz inácio lula da silva, acordo, união europeia, mercosul, pedro sánchez, análise
Posição de Lula sobre Ucrânia é 'contrária' à UE, mas 'Europa precisa de aliados', diz especialista
13:54 27.04.2023 (atualizado: 14:29 27.04.2023) O presidente do governo espanhol e o presidente brasileiro passaram em revista a cooperação bilateral no quadro da negociação do acordo entre a UE e o Mercosul, "difícil" de concretizar, segundo analistas que destacam a figura "esmagadora" de Lula e o mundo "emergente" que representa. Os líderes divergiram sobre as perspectivas de paz na Ucrânia.
Na véspera,
após o encontro de Luiz Inácio Lula da Silva com a ministra da Economia espanhola, Nadia Calviño, e representantes do mundo empresarial do país, o presidente do governo espanhol, Pedro Sánchez, reuniu-se no Palácio da Moncloa com o seu homólogo brasileiro para
discutir diversos aspectos da cooperação bilateral em um contexto dominado pelas negociações sobre a renovação do acordo entre a União Europeia (UE) e o Mercosul, bem como as perspectivas de uma paz negociada na Ucrânia.
Durante a coletiva de imprensa, após o encontro e as perguntas dos jornalistas, os dois dirigentes
deixaram claras as suas divergências quanto ao envio de armas para a Ucrânia, mas também a sua vontade de transigir para avançar nas negociações que resultem na renovação do acordo entre
Bruxelas e Mercosul. Embora o presidente espanhol tenha admitido que há países europeus que nutrem "dúvidas", destacou a necessidade do acordo "porque a Europa precisa de aliados".
"A hora do acordo é agora, espero que este ano, quando o Brasil presidir o Mercosul e a Espanha a União Europeia", destacou Sánchez.
Conforme explicou à Sputnik o diretor do Centro Estratégico Latino-Americano de Geopolítica (CELAG), Alfredo Serrano Mancilla, a dificuldade da UE e da Espanha em fechar acordos com o Mercosul também vem do governo brasileiro anterior. "Porque na era Bolsonaro se incentivava uma individualização das relações políticas e econômicas com a UE. Agora Lula defende o fortalecimento interno do Mercosul como bloco para chegar a acordos com a UE", diz o especialista.
"Na realidade, a UE é contra o Mercosul porque o Mercosul significa abrir a porta a importações brutais de cereais, carne e energia", comenta o cientista político Jorge Verstrynge à Sputnik ao
qualificar o acordo como "problemático". No entanto, ele admite que tal negociação pode funcionar como um "truque" diante de algum apoio às teses da UE sobre a
resolução do conflito na Ucrânia.
Outros atores na negociação
"A proposta brasileira sobre a Ucrânia é muito interessante, embora seja apenas propositiva, ela propõe atores terceiros como mediadores", explica o analista da área latino-americana do portal internacional de análises Deciphering War, Néstor Prieto, à Sputnik.
No entanto, Prieto adverte que é preciso "ler as letras miúdas" de tal proposta "porque Lula depois fez
declarações contraditórias". "Mas o que está claro", continua ele, "é que é
antitético ao que a UE representa." Em sua opinião, Pedro Sánchez pode ter tentado baixar o tom da proposta brasileira que, assim como a da China, tira o papel dos EUA. "Porque Sánchez está tentando ter uma projeção internacional, se identificando como um aliado de confiança dos EUA e adaptando um discurso marcadamente atlantista e europeísta", diz o especialista.
Para Jorge Verstrynge, uma das tarefas de Pedro Sánchez durante o encontro "sem dúvida" foi suavizar a proposta de paz de Lula. "É preciso levar em conta que neste momento não há governos na Europa,
o que há são franqueados em nome dos EUA, então aqui eles vão fazer o que Washington pede deles. E Lula não quer ser um delegado, entre outras coisas, porque tem um país muito importante e tem a chance de
defender suas decisões."
Durante a entrevista à mídia, Lula foi questionado diretamente se considera que a Crimeia e Donbass pertencem à Ucrânia. "Não sou eu que tenho de decidir de quem são, temos de conversar e são coisas da responsabilidade destes dois países", declarou.
E sobre se o envio de
armas espanholas para Kiev poderia ser um obstáculo para a Espanha se juntar ao grupo de países pela paz, ele disse: "Quando você se senta para negociar, você deve considerar estas coisas.
Primeiro você deve parar a guerra e aí começamos a conversar. A Espanha vai fazer o que tem que fazer, o Brasil não pode dizer nada a ela, não pode interferir. Mas não sei o que pode acontecer se a guerra se arrastar, temos que trabalhar para evitar um infortúnio maior", afirmou.
"Vamos buscar que o
Banco do BRICS seja um grande banco de investimentos, o Brasil vai voltar a crescer e contamos com a Espanha para avançar nos acordos. O Brasil voltou", declarou Lula. A afirmação, explica Néstor Prieto, significa que o gigante latino-americano "se afirma como um
ator importante diante de um Bolsonaro que olhava mais para a política interna, já que era um negador de espaços multilaterais, só olhava para os EUA e Israel".
"O Brasil tem uma importância geoeconômica e geopolítica fundamental", concorda Alfredo Serrano, que explica que
"em termos quantitativos e simbólicos" o país tem um papel global relevante. "É maior que a UE, demográfica e economicamente", diz Prieto. E, continua Serrano, "está no quadro de alguns países que não são mais emergentes, mas emergiram, que são os países do BRICS e outros que também poderiam estar lá, como Indonésia, Turquia e alguns outros", lembra. Em sua opinião, o Brasil "pode
contribuir para desdolarizar as relações econômicas" enquanto o Banco do BRICS, "presidido por Dilma Rousseff", poderia ser
"uma contrapotência" ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e ao Banco Mundial.
O grande objetivo da visita à Espanha e, na véspera, a Portugal, é trabalhar o acordo UE-Mercosul. Para o efeito, Pedro Sánchez
recordou a celebração da cúpula CELAC-UE em Bruxelas, em junho, a primeira desde 2015. Apesar das dificuldades, "é do interesse de ambas as partes" que o acordo prossiga, diz Prieto que vê "harmonia" entre os dois líderes sobre isso. Para ele, o Mercosul também é um sinal de que "a
nova ordem multipolar tem uma configuração incerta, mas é claro que caminha para ela. E o Brasil está claramente comprometido com ela".
"A
aposta de Lula na defesa de uma nova ordem multipolar está se aprofundando, assim como na América Latina, com a volta à CELAC", diz Néstor Prieto. "Ele é uma
figura fundamental para entender a América Latina contemporânea", aponta, destacando que a personalidade do brasileiro é "tão avassaladora" que nem mesmo os setores mais contrários a ele podem negar-lhe a legitimidade "à qual a UE se rende".
"Lula sabe estar nos foros internacionais, promoveu o Foro de São Paulo há 30 anos, tem uma grande leitura da política em termos internacionais que sempre concebeu em âmbito global", declarou o especialista.
"Lula pertence à comunidade de países que é
contra a política dos EUA e da UE para resolver a questão da Ucrânia. E há muito mais países do que a comunidade internacional que nos vendem a mídia aqui, que não é maioria, mas uma minoria", acrescenta Verstrynge, concluindo que o continente latino-americano "sempre teve a
tentação da multipolaridade para afastar a maldição de, como dizem no México, estar tão longe de Deus e tão perto dos Estados Unidos".