A história de um legado: a contribuição dos países do BRICS na 2ª Guerra Mundial
© Foto / Domínio Público/ Arquivo Histórico do Exército BrasileiroHomens da Força Expedicionária Brasileira (FEB).
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No dia 9 de maio, ocorrerá na Rússia a tradicional celebração do Dia da Vitória, em homenagem à contribuição decisiva da União Soviética para a derrota da Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial.
Com efeito, além da Rússia – ator principal na vitória dos Aliados – todos os atuais membros do grupo BRICS também tiveram participação importante para a resolução do mais catastrófico confronto da história da humanidade.
No caso da China, em função de sua prolongada defesa contra as forças do Japão imperial e pelas perdas humanas sofridas em decorrência da guerra, o país obteve um merecido reconhecimento na formação das Nações Unidas, como um dos membros permanentes do Conselho de Segurança.
A Índia, por sua vez, enviou mais de dois milhões de soldados para servirem junto ao Exército britânico, lutando nos mais diferentes teatros de guerra (incluindo regiões como o Norte da África, Oriente Médio e Europa) contra os poderes do Eixo.
O Brasil enviou uma força expedicionária considerável, em número aproximado de 25.000 soldados, combatendo junto dos Aliados em regiões sob ocupação nazista no sul da Itália e atuando com unidades do Exército americano em missões de reconhecimento e interceptação.
© Foto / Domínio Público/ Arquivo Histórico do Exército BrasileiroHomens da Força Expedicionária Brasileira (FEB) seguram placa com provocação a Adolph Hitler.
Homens da Força Expedicionária Brasileira (FEB) seguram placa com provocação a Adolph Hitler.
© Foto / Domínio Público/ Arquivo Histórico do Exército Brasileiro
Por fim, a África do Sul também contribuiu de forma significativa para o esforço de guerra aliado por meio do envio de mais de 130.000 soldados aos fronts comandados pelo Reino Unido em campanhas ao redor da África e no sul da Europa.
Tendo em vista todos esses fatores, torna-se evidente que os países do BRICS tiveram contribuições importantes para o encerramento do confronto e para a vitória dos Aliados na Segunda Guerra Mundial, com alguns deles ganhando papel de destaque na configuração da ordem internacional que se seguiu.
Sendo assim, o tema da guerra e suas consequências não poderia deixar de estar presente nos posicionamentos políticos do grupo ao longo dos anos. A título de exemplo, na Declaração do BRICS de Ufa em 2015, ano que marcou o 70º aniversário do final da Segunda Guerra Mundial, os países do BRICS prestaram homenagem a todos aqueles que lutaram contra o fascismo e o militarismo alemão e japonês nos anos 1940. Também foram prestadas homenagens a todos aqueles que tiveram sua vida precocemente ceifada com o objetivo de libertar as nações da opressão do nazismo. Não obstante, na declaração conjunta de 2015 o BRICS se comprometeu a rejeitar quaisquer tentativas de deturpar os resultados e os eventos da guerra, destacando o dever comum de todos os países na construção de um futuro de paz e de desenvolvimento.
Novas menções quanto a tentativas de se reinterpretar os acontecimentos da Segunda Guerra Mundial (como tem sido feito pelos países do Ocidente) estiveram presentes também na 8ª Cúpula do BRICS em Goa (na Índia). Para o BRICS, e sobretudo para a Rússia em particular, a intenção dos países ocidentais de "monopolizar a vitória" contra a Alemanha nazista trata-se de uma verdadeira profanação da história.
Como asseverou certa vez o presidente russo Vladimir Putin, "foram os esforços de todos os países e povos envolvidos na luta contra o inimigo comum [o nazismo] que culminaram na vitória na Segunda Guerra Mundial". Tal vitória, aliás, trouxe como consequência uma nova configuração da ordem mundial, com a criação de organizações internacionais e mecanismos de concertação política voltados para a solução dos desafios que se apresentavam à humanidade nas décadas seguintes.
Não por acaso, uma das principais conquistas do pós-guerra tratou-se do estabelecimento de um mecanismo que permitisse com que as principais potências do sistema resolvessem suas diferenças por meio da via diplomática. Aqui, estamos falando justamente do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que conta com a participação de Rússia e China (dois dos países do BRICS) como membros permanentes. Apesar das discussões existentes quanto à perda de eficácia desse órgão para a prevenção de conflitos internacionais nos tempos atuais, não restam dúvidas de que sua existência serve – no mínimo – como plataforma política fundamental para que as grandes potências busquem dirimir seus problemas pela via política e da discussão.
Ainda assim, compete notar que o grupo BRICS continua chamando a atenção para a necessidade de se reformar e/ou atualizar algumas das principais instituições oriundas do pós-guerra. Em 2014, por exemplo, os ministros das Relações Exteriores do BRICS reafirmaram seu compromisso com uma ordem internacional justa e baseada na Carta das Nações Unidas, mas ao mesmo tempo enfatizaram a necessidade de uma reforma abrangente da ONU, tendo em vista as mudanças ocorridas no cenário internacional ao longo das últimas décadas. Tal reforma abrangeria inclusive o próprio Conselho de Segurança, com vistas a torná-lo mais representativo e eficaz frente a desafios cada vez mais complexos no plano internacional.
De fato, o BRICS enquanto símbolo da aproximação política entre os chamados países emergentes tem funcionado como uma importante plataforma política através da qual seus Estados-membros procuram ampliar seu poder decisório nos mecanismos atuais de governação global. Neste contexto, ao mesmo tempo que reconhecem a importância da vitória aliada na Segunda Guerra Mundial, o grupo também pleiteia maior voz e representação na ordem mundial surgida de sua conclusão, tendo em vista que, desde então, inúmeras mudanças políticas e econômicas ocorreram no sistema.
O BRICS, em resumo, reconhece a importância do esforço conjunto de diversos povos e nações para a vitória contra a Alemanha nazista, assim como a importância das instituições e órgãos internacionais dela advindos, como é o caso das Nações Unidas e das organizações de Bretton Woods. Além disso, o grupo se opõe a reinterpretações distorcidas do passado, como tem sido feito pelos países ocidentais. A intenção, por fim, do BRICS não é substituir propriamente a ordem existente, mas sim atender aos interesses de um maior número de países em suas instituições e mecanismos de governança. Sem diminuir a importância de seu legado histórico, ao mesmo tempo o grupo se empenha em construir o seu legado para o futuro.
As opiniões expressas neste artigo podem não coincidir com as da redação.