O que é o míssil Sarmat e por que a mídia ocidental o apelida de Satanás?

Míssil Sarmat  - Sputnik Brasil, 1920, 22.06.2023
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O míssil balístico intercontinental (ICBM, na sigla em inglês) Sarmat deve se tornar a espinha dorsal da dissuasão nuclear russa baseada em silos. Quais são suas características? Por que o Ocidente lhe deu o nome assustador de Satan (Satanás) II? E por que especialistas militares esperam que a arma estratégica nunca tenha que ser usada?
O míssil Sarmat da Rússia está novamente nas notícias. Na quarta-feira (21), o presidente russo Vladimir Putin anunciou que os primeiros lançadores de Sarmat, equipados com o que ele disse ser um "novo míssil pesado", entrarão em serviço de combate "em um futuro próximo".
Putin não entrou em detalhes, exceto para dizer que a Rússia continuará a desenvolver sua tríade nuclear, que, segundo ele, servirá como uma "garantia fundamental da segurança militar da Rússia e da estabilidade global".
A mídia ocidental se aproveitou imediatamente de seus comentários, com um veículo de comunicação publicando artigos com verbos e adjetivos assustadores, como "adverte" e "aterrorizante", chamando o míssil de Satan II e dizendo que a Rússia ameaça os países ocidentais com este míssil.

O que é o Sarmat?

O RS-28 Sarmat é o ICBM russo de última geração baseado em silo, com três estágios, alimentado por combustível líquido e equipado com múltiplas ogivas que podem ser independentemente orientadas ao reentrar na atmosfera, os chamados mísseis de reentrada múltipla independentemente direcionada (MIRV, na sigla em inglês).
O míssil tem um alcance operacional de até 18.000 km, o suficiente para atingir praticamente qualquer ponto da Terra, e pode ser equipado com dez a 15 ogivas, com até duas dezenas de veículos planadores hipersônicos Avangard ou com uma combinação de ogivas e contramedidas, incluindo ogivas fictícias para desorientar e enganar as defesas antimísseis inimigas.
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O Sarmat foi projetado para substituir o míssil R-36M2 Voevoda – uma modificação da família R-36 de ICBM e veículos de lançamento espacial que foram desenvolvidos na década de 1960 e cuja variante Voevoda atualizada foi introduzida em serviço pela primeira vez em 1988.
O Bulletin of the Atomic Scientists, organização sem fins lucrativos norte-americana, estima que cada uma das ogivas do Sarmat tem um poder explosivo de até 500 quilotons, o suficiente para arrasar completamente uma grande área metropolitana.
Para efeito de comparação, os ataques nucleares dos EUA a Hiroshima e Nagasaki em agosto de 1945 tiveram um poder explosivo de "apenas" 15 e 21 quilotons, respectivamente, mas destruíram as duas cidades e mataram mais de 225.000 pessoas.

A doutrina nuclear russa restringe o uso de armas nucleares a uma retaliação a um grande ataque inimigo que utilize armas de destruição em massa ou a um ataque convencional tão grave que a integridade do Estado seja considerada em risco. Isso significa que a Rússia jamais usará seus Sarmats ou qualquer outra arma nuclear, tática ou estratégica, a menos que exista uma ameaça tão grave.

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Por que a mídia ocidental o chama de Satan II?

O nome do Sarmat é uma homenagem aos povos sármatas, uma confederação de antigos nômades equestres do leste do Irã que supostamente viveram na estepe pôntico-cáspia, no sul da Rússia e da Ucrânia, do século III a.C. ao século IV d.C., e conhecidos por sua cultura avançada, uso de tecnologia e código guerreiro.
A OTAN designa o Sarmat como o míssil SS-X-29 ou SS-X-30, mas a mídia ocidental costuma chamá-lo de Satan II, presumivelmente devido às associações aterrorizantes do termo com o mal e o sofrimento.
A nomenclatura Satan II, na verdade, vem do nome de relatório da OTAN SS-18 Satan, usado para o míssil R-36M, o sistema de mísseis que o Sarmat deve substituir, mas que nunca é usado pelos militares russos.
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O Sarmat foi lançado em teste com sucesso pelas Forças Armadas russas a partir do Cosmódromo de Plesetsk em abril de 2022. Os primeiros mísseis Sarmat devem ser entregues antes do final de 2023.
Por sua vez, os Estados Unidos não têm atualmente um análogo para o Sarmat.
Seu ICBM Minuteman LGM-30 baseado em silo tem um alcance operacional de até 13.000 km, um peso de lançamento entre 170 e 335 quilotons e até três MIRV, sendo que Washington prefere manter seu poder de fogo nuclear mais pesado a bordo de sua frota de submarinos com armas nucleares.
Os EUA não têm os mesmos tipos de restrições ao uso de armas nucleares que a Rússia, com a Revisão da Postura Nuclear de 2022 do governo Biden permitindo o primeiro uso de armas nucleares e até mesmo ataques nucleares contra países sem armas nucleares.
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