Desejo do Ocidente de controlar África explica o plano do MI6 para enviar mercenários ucranianos
08:42 17.08.2023 (atualizado: 13:40 17.08.2023)
© Foto / Henry GundackerOperador das Forças de Operações Especiais ucraniano durante o exercício Sea Breeze, 19 de julho de 2017
© Foto / Henry Gundacker
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Uma fonte diplomática militar revelou à Sputnik e outros meios de comunicação russos na quarta-feira (16) que o MI6 britânico preparou um "esquadrão de ataque de sabotagem" de 100 combatentes para enviar em missões contra governos amigos da Rússia na África. A Sputnik procurou um especialista das forças especiais russas para dissecar os planos.
"De acordo com informações confirmadas por várias fontes [...] o MI6 formou e preparou para implantação no continente do sul um esquadrão de sabotagem e assassinato, composto por membros de formações nacionalistas e neonazistas ucranianas, em uma tentativa de impedir a cooperação entre os países africanos e a Rússia", alegou uma fonte à Sputnik na manhã de quarta-feira.
De acordo com as informações da fonte, o Serviço de Inteligência Secreta britânico, o MI6, e a unidade de forças especiais do Serviço Aéreo Especial do Exército britânico ajudaram a escolher a dedo o esquadrão de 100 homens entre combatentes com "experiência de combate significativa" contra a Rússia. O Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU, na sigla em ucraniano) e a Diretoria Principal de Inteligência (GUR, na sigla em ucraniano) do Ministério da Defesa da Ucrânia foram direcionados para ajudá-los com o treinamento dos aspirantes a mercenários realizado na Grécia e na Polônia.
O esquadrão é supostamente liderado pelo tenente-coronel Vitaly Praschuk, um oficial veterano do GUR com experiência relatada em "liquidações bem-sucedidas", incluindo experiência de combate em Donbass desde 2014 e assistência em missões secretas do MI6 no Zimbábue.
Ssegundo, relatos, juntamente com as operações para sabotar a infraestrutura dos países africanos (tática favorita das operações especiais ocidentais no continente durante a Guerra Fria), o trabalho da unidade secreta ucraniana vai incluir tentativas de assassinato de líderes africanos que buscam laços mais estreitos com Moscou.
Acredita-se que um navio civil fretado que partiu da cidade portuária de Izmail, no sul da Ucrânia, tenha levado o esquadrão a caminho do Sudão, e espera-se que chegue à cidade sudanesa de Omdurman, adjacente ao Nilo, em algum momento "durante a segunda quinzena de agosto".
Registro da cooperação militar britânico-ucraniana
Os sucessivos governos pós-1991 da Ucrânia infelizmente não estranharam o apoio a operações militares antirrussas e pró-ocidentais no exterior, com nacionalistas radicalizados viajando para o Cáucaso russo em meados e no final dos anos 1990 para lutar contra as forças russas engajadas no contraterrorismo e missões de contraindependentismo e Kiev enviando um contingente de 1.700 soldados ao Iraque durante a invasão liderada pelos EUA e Reino Unido em 2003. Em 2008, ultranacionalistas ucranianos teriam participado da invasão da Geórgia na região independentista da Ossétia do Sul, que desencadeou uma intervenção militar russa após a morte de soldados das forças de pacificação.
A cooperação militar e de inteligência britânico-ucraniana tem sido extensa desde o golpe Euromaidan de 2014 em Kiev, com o Reino Unido treinando dezenas de milhares de soldados ucranianos, enviando mais de £ 9,2 bilhões (cerca de R$ 58,3 bilhões) em apoio militar e econômico a Kiev e fornecendo material adicional e assistência de treinamento para ataques terroristas de pequenos barcos ucranianos contra infraestrutura civil russa e navios no mar Negro. Como que para acentuar a extensão dessa cooperação, as forças russas atacaram uma base naval construída pelos britânicos em Ochakov, região de Nikolaev, no primeiro dia da operação militar especial na Ucrânia em fevereiro de 2022.
Também politicamente, o Reino Unido desempenhou um papel instrumental na sabotagem das negociações de paz russo-ucranianas, com o agora ex-primeiro-ministro Boris Johnson viajando para Kiev em abril de 2022 para convencer o presidente Vladimir Zelensky a não concordar com um plano de paz que havia sido elaborado em Belarus e na Turquia. Agora, ao que parece, o MI6 pode estar procurando "internacionalizar" ainda mais as operações militares ucranianas no exterior, desta vez na África.
Delírios do MI6
"Acho que ultimamente o MI6 e sua liderança têm se sentido inadequados na situação atual", disse o especialista militar e veterano da unidade de forças especiais antiterroristas Alfa da Rússia Sergei Goncharov à Sputnik.
"Se você se lembra, apenas um mês atrás o chefe do MI6 emitiu um apelo aos cidadãos russos expressando prontidão para recrutar pessoas", lembrou o observador, apontando para o absurdo de tais declarações. "Acho que para uma pessoa séria que atua como chefe de uma agência de inteligência, essas declarações até soam como alarmantes, até certo ponto", afirmou.
No que diz respeito aos planos relatados de enviar sabotadores ucranianos para a África, Goncharov acredita que, além de um efeito de propaganda, é improvável que isso tenha algum impacto na região. "Para começar, se a Ucrânia é tão forte e tem uma unidade de forças especiais tão séria, por que essas forças especiais não podem resolver o sério problema na frente entre a Ucrânia e a Rússia?", perguntou o especialista.
Em segundo lugar, observou Goncharov, é questionável onde a Ucrânia pode ter encontrado esses supostos operadores mercenários, dadas as horríveis perdas que suas tropas enfrentaram nos últimos meses, incluindo forças treinadas no Reino Unido.
"Se [o MI6] espera que as forças especiais supostamente enviadas da Ucrânia resolvam o 'problema' do Níger, isso, penso eu, é simplesmente ridículo. Não acho que eles sejam necessários lá", disse Goncharov.
Ignorando qualquer potencial impacto político ou militar de possíveis operações mercenárias ucranianas na África, Goncharov acredita que o único efeito que eles poderiam esperar alcançar seria limitado ao reino da propaganda, que, observou ele, "infelizmente" muitas vezes "causa mais alvoroço do que as operações militares".
Tentativas de colocar a África 'de volta ao seu lugar' vão falhar
"A África foi uma colônia de todos esses países ocidentais. A Rússia nunca foi um Estado colonial", apontou Goncharov quando questionado sobre as tentativas do Ocidente de minar a cooperação entre os países africanos e Moscou.
"Naturalmente, nem o Reino Unido, nem os americanos, nem os outros países ocidentais da Organização do Tratado do Atlântico Norte [OTAN] gostam disso. Eles não querem perder seus lucros e influência política", enfatizou.
No que diz respeito aos possíveis esforços ocidentais para se intrometer nos assuntos africanos, os países regionais não precisam de uma guerra regional e, em vez disso, estão buscando ativamente mais cooperação com a Rússia. Assim, "mesmo que esta unidade [ucraniana] já tenha sido criada, não resolverá nenhum 'problema' real" para o Ocidente, resumiu o observador.
Negação plausível
O ex-chefe de estação da CIA, colunista e consultor de segurança Philip Giraldi ecoou os sentimentos de Goncharov sobre os prováveis motivos do Reino Unido.
"Acho que esses relatos são completamente plausíveis. O Reino Unido deseja manter suas relações especiais com várias nações africanas que lhe dão acesso a matérias-primas que lhe faltam, bem como apoio político em fóruns como as Nações Unidas. Usaria mercenários ucranianos para realizar a perturbação porque isso lhe dá uma negação plausível, pela qual sempre pode fingir que não está de forma alguma envolvido", disse Giraldi, que agora atua como diretor executivo do Conselho de Interesse Nacional, à Sputnik.
"A influência crescente da Rússia e da China em grande parte do Terceiro Mundo aterroriza a liderança política no Reino Unido e também nos Estados Unidos, observe, por exemplo, a recente viagem à África da número dois do Departamento de Estado, Victoria Nuland, que é tão linha-dura quanto é possível ser e que com frequência expressou seu ódio pela Rússia. Observe também a recente conferência centrada na África organizada pelo governo russo em São Petersburgo, que atraiu representantes de 49 países, incluindo 17 chefes de Estado, o que, tenho certeza, causou um pânico em Washington, Londres e Paris", disse Giraldi.