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Pepe Escobar: Superbloco BRICS+ e OCX poderia mudar a ordem internacional imposta pelos EUA

© iStock.com / michal812Mapa com os países do BRICS
Mapa com os países do BRICS - Sputnik Brasil, 1920, 21.08.2023
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O mundo está atento à 15ª Cúpula do BRICS na África do Sul. Este ano, a expansão do bloco parece estar na vanguarda da agenda, com mais de 40 nações manifestando interesse em aderir. Como a cúpula pode mudar o cenário geopolítico global? O analista geopolítico e jornalista veterano, Pepe Escobar, conta o que pensa à Sputnik.
Joanesburgo está se preparando para a 15ª Cúpula do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), que vai começar na terça-feira (22) e vai até quinta-feira (24), com o tema deste ano intitulado "BRICS e África: Parceria para Crescimento Mutuamente Acelerado, Desenvolvimento Sustentável e Multilateralismo Inclusivo".
Para o analista Pepe Escobar, multilateralismo "é talvez a palavra mais significativa para descrever as intenções das nações reunidas" ao redor da ideia do BRICS.

"O grande potencial para criar uma arquitetura justa e democrática das relações internacionais reside em estruturas como o BRICS", disse o diretor do Serviço de Inteligência Externa (SVR, na sigla em russo) da Rússia, Sergei Naryshkin, na véspera da cúpula.

Escobar lembra que Naryshkin apontou para a semelhança do nome do bloco com a palavra inglesa bricks (tijolos), o que poderia indicar uma construção metafórica e sutil de um projeto que viria substituir pouco a pouco a ideia dos EUA e seus aliados sobre a chamada "ordem internacional baseada em regras" por outra que promoveria um mundo verdadeiramente livre e igualitário.
"Em termos de um momento geopolítico de mudança de jogo, é isso", disse Pepe Escobar sobre a cúpula do BRICS deste ano.
Para o analista, muito mais do que as cúpulas anteriores da Organização de Cooperação de Xangai (OCX) ou muito mais do que todas as cúpulas anteriores do BRICS, está em discussão mais uma vez, o ordenamento internacional.
"O fato de que o comitê organizador convidou 67 chefes de Estado, representantes poderosos de toda a África e muitos outros lugares do Sul Global para fazer parte de discussões envolvendo a colaboração entre BRICS e África e também 'BRICS+'", chama a atenção do mundo para a crescente perspectiva de novos membros ingressarem no bloco pela primeira vez desde que a própria África do Sul o fez em 2010.
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"Uma coisa que a gente já sabe com certeza vindo [dos representantes das lideranças] é que eles já decidiram um mecanismo para a absorção de novos membros. Claro que é uma empreitada muito complexa porque envolve, na última contagem, mais de 30 nações, das quais 23 já manifestaram formalmente o desejo de fazer parte do BRICS+", observou ele.
O analista ressalta no entanto que não se deve esperar que o BRICS em dois dias na África do Sul venha a se tornar um novo imperativo político na ordem internacional, mas que o processo é "gradual, lento e muito desafiador". Para ele, a expansão do bloco deveria vir acompanhada de um foco especial no comércio entre seus integrantes usando moedas locais – yuan chinês, rublo russo, real brasileiro, rupia indiana e rand sul-africano — além da moeda de quaisquer novos membros que venham a aderir, mas que uma moeda comum demandaria ainda muito mais energia.
"Esse caminho rumo à nova moeda do BRICS é extremamente complexo", explicou Escobar, dizendo que o "consenso não escrito" entre analistas independentes parece ser de que o bloco pode não precisar de uma moeda comum, pelo menos por enquanto. "Eles poderiam ter, por exemplo, no médio prazo, uma espécie de token, um token lastreado em ouro que seria, por exemplo, lastreado em ouro na Rússia. Eles não precisam de uma nova moeda como o euro. E não vai haver tão cedo uma moeda do BRICS a ser anunciada como um novo euro."
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Escobar aponta, no entanto, para um movimento estratégico ainda mais importante que o passo econômico ressaltado por ele, que seria uma relação mais direta entre os membros do BRICS e da OCX, ou seja, o esboço de um super bloco BRICS+/OCX que não apenas complementaria os ambiciosos planos de infraestrutura do Cinturão e Rota da China, mas também a visão russa da Parceria da Grande Eurásia, observou o especialista.
Segundo ele, uma fusão BRICS+/OCX facilitaria a integração de seus membros em muitos níveis para o trabalho em parceria "em projetos específicos em países específicos[...]. Por isso que os chineses estão pensando nisso, os russos estão pensando nisso, Lukashenko em Belarus está pensando nisso, os iranianos estão pensando nisso", destaca.
Além disso, disse Escobar, se o BRICS+ se expandir para países importantes da África, como Argélia e Egito, isso criaria "um triângulo na África — noroeste da África, nordeste da África e África do Sul apoiados pelos BRICS e com projetos BRICS+ em todos eles", servindo como um impulso crucial para o desenvolvimento, inclusive por meio do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB, na sigla em inglês).
"Uma parte substancial do continente africano está finalmente acordando para as possibilidades à frente e para o fato de que, se eles não recusarem todas as formas de neocolonialismo do Ocidente coletivo, não haverá outra chance. Esta é a chance de um século para que África comece finalmente a desenvolver-se de forma mais equitativa para as populações africanas", sublinhou o analista.
Caracterizando o esforço para unificar o BRICS+ em um superbloco global "o desafio dos tempos", Escobar disse que não se trata apenas do BRICS, ou da OCX, da Comunidade Econômica da Eurásia, da Parceria da Grande Eurásia, da União Africana (UA) ou da Iniciativa do Cinturão e Rota da China. A questão central é encontrar os mecanismos para fazer a governança baseada no consenso funcionar, algo que a atual ordem ditada pelos EUA não compreende como necessário.
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