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Especialistas: crescimento do PIB brasileiro surpreende, mas desafios estruturais permanecem

© FolhapressRecuperação do consumo das famílias contribuiu para o crescimento da economia em 2023
Recuperação do consumo das famílias contribuiu para o crescimento da economia em 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 28.09.2023
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Especialistas ouvidos pela Sputnik Brasil destacam indicativos de recuperação da economia, mas alertam para os desafios a serem superados para um crescimento constante e estável do país.
Os resultados dos últimos trimestres da economia brasileira vêm gerando expectativas positivas dos mercados internos e externos em relação ao crescimento do produto interno bruto (PIB).
Nesta quinta-feira (28), o Banco Central anunciou nova estimativa de crescimento, de 2,9%, para o ano de 2023, maior em comparação com a do relatório de junho, que foi de 2%. Na semana passada a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) também subiu sua estimativa de crescimento do PIB do Brasil de 1,7% para 3,2%.
De acordo com economistas ouvidos pela jornalista Thaiana de Oliveira, da Sputnik Brasil, as expectativas de crescimento do PIB nacional são factíveis e devem-se, sobretudo, ao bom desempenho do agronegócio, a maiores gastos sociais e ao aumento do salário mínimo.
Para o professor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Marco Antonio Rocha, a estimativa de aumento do PIB na casa dos 3% deve se concretizar:

"Boa parte do mercado já trabalhava com projeções em torno de 2,5%. Só o que chamamos de 'arrasto estatístico' já projeta esse crescimento para o fim do ano. Então é bem provável que ele aconteça. Tendo em vista o cenário que vínhamos acompanhando, de baixo crescimento da economia brasileira, principalmente em termos de comparação internacional, a projeção de 3,2% causa alento."

© Folhapress / Marcelo JustoColheita do final da safra de soja na fazenda Morro Azul, do grupo A. Maggi, que fica há 70 km do centro de Tangará da Serra (MT)
Colheita do final da safra de soja na fazenda Morro Azul, do grupo A. Maggi, que fica há 70 km do centro de Tangará da Serra (MT) - Sputnik Brasil, 1920, 28.09.2023
Colheita do final da safra de soja na fazenda Morro Azul, do grupo A. Maggi, que fica há 70 km do centro de Tangará da Serra (MT)

Agronegócio

A melhora foi significativa na projeção de quase todos os setores, destaca Rocha, mas a agricultura vem surpreendendo em termos do tamanho da safra e da produção em 2023 e impulsionando o crescimento de alguns segmentos no setor de serviços, como transporte, logística, armazenamento.
Para o economista e professor de finanças do Insper Alexandre Chaia, a agricultura deve continuar a impulsionar a economia nos próximos trimestres:

"O agro continua surpreendendo, continua crescendo em produtividade. No segundo trimestre, a quantidade de produção não caiu, mas, sim, o preço médio das commodities [registrou queda]. A participação dele no segundo trimestre foi menor, mas ainda é compatível com o crescimento, vai impulsionar a economia brasileira por mais tempo, tem ainda produtividade em área plantada, em nível de exportação, e a tendência é que o preço não caia, mas se mantenha."

Consumo das famílias e serviços

Ambos os especialistas também dão destaque para o setor de serviços e a recuperação do consumo das famílias como fatores positivos para a economia nestes últimos trimestres.

"Isso está relacionado à reestruturação de algumas transferências de renda, uma trégua da alta no preço dos alimentos, que possibilitaram maior renda para as famílias. Tudo isso tem ajudado também a aquecer o mercado interno e os serviços pessoais", avalia o professor da Unicamp.

Indústria e construção civil

Apesar de coadjuvantes no cenário atual, os setores industrial e da construção civil podem crescer ainda este ano se obtiverem incentivos eficazes e estratégicos, opinam os pesquisadores.
Chaia aposta na prometida reforma tributária para beneficiar o setor da indústria, que não tem crescido muito, embora se mantenha estável.
Já o setor da construção civil "ainda não decolou, mas ainda tem espaço".

Projeção PIB 2024

Para o ano que vem, o cenário mostra-se mais incerto.
Segundo o pesquisador da Unicamp, a insistência do governo em manter meta primária bem apertada pode ser um problema:

"Pode significar um ajuste fiscal pelo lado dos gastos, e não pela reestruturação das receitas, que é o que o governo vem perseguindo. Isso pode significar maior contração fiscal e menor disponibilidade de renda, e tudo isso pode causar uma certa frustração na expectativa de crescimento para 2024."

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A crise industrial é outro calcanhar de aquiles do país, de acordo com Rocha, para os planos de crescimento do ano que vem.
O investimento na indústria de transformação mostra-se urgente, segundo ele, inclusive para "estimular o crescimento dos segmentos do setor de serviços mais sofisticados e a geração de empregos de melhor qualidade", conclui ele.
O professor do Insper celebra o aumento da expectativa, mas pondera que os desafios ainda são grandes para a recuperação plena da economia:

"Vemos números melhores tanto de inflação quanto de crescimento, expectativa das famílias... Tudo isso justifica uma melhora do cenário, mas o governo ainda vive em crise institucional. A reforma tributária ainda é o objetivo, mas não andou. Os estouros de gastos ainda estão crescentes. Apesar de o governo ter sinalizado, pelo menos, com um compromisso de manutenção de gasto, a expectativa não é ainda de calmaria."

Para almejar a tranquilidade tão desejada, algumas sugestões: criação de novos ambientes positivos, implementação do arcabouço fiscal, da infraestrutura para saneamento, melhora do ambiente para criação de novos negócios e equilíbrio fiscal.
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